Mão Morta no Lisboa ao Vivo – No fim foi uma noite escaldante
11 de Outubro foi a data escolhida para dar a conhecer No Fim Era o Frio, o mais recente trabalho dos Mão Morta, à cidade de Lisboa.
Com lançamento a 28 de Setembro, No Fim Era o Frio foi apresentado a 28 do mesmo mês no Hard Club, no Porto, tendo antes disso (cerca de 80% do material) servido para juntar a banda e a coreógrafa Inês Jacques num espectáculo em que seis músicos e seis bailarinos apresentam uma desconstrução em torno de temas que de tão banalizados acabam por perder a nossa atenção.
Trata-se de um álbum conceptual, definido pela banda como uma narrativa distópica, que pega em conceitos como o aquecimento global para questionar o quotidiano. Parte-se da premissa de que “O mundo já não é um lugar seguro” contrapondo-se o versículo do evangelho de João, “No princípio era o verbo”, a uma nova e devastada realidade que dá título ao álbum.
No Fim Era o Frio traz-nos um conjunto de 11 módulos organizados segundo uma lógica próxima de uma ópera rock. O alinhamento da primeira parte – Ato 1 – do concerto apresentado no Lisboa Ao Vivo materializou este conceito tendo os módulos sido interpretados na mesma ordem em que surgem no álbum. Em palco banda ainda um pouco mais longe, eliminando as pausas entre temas.
Adolfo Luxúria Canibal e os seus companheiros apresentaram-se num cenário em que predominaram o negro e branco, com vocalista e músicos a assumirem a sua essência de algo bem mais do que meros cantores e instrumentistas. O mais recente trabalho dos bracarenses põe ainda mais em evidência as competências interpretativas da banda com o seu líder a acumular as funções de cantor, mestre-de-cerimónias e, provavelmente, um dos melhores ‘dizedores’ nacionais (sim, a redactora embirra com o sinónimo francês) evidenciando a sua qualidade como performer.
Enquanto no palco os seis intérpretes faziam desfilar o seu universo ficcional (será mesmo?) dominado pela dor, solidão e busca de calor humano, do lado do público registava-se uma serenidade contemplativa, raramente interrompida, a não ser para aplaudir efusivamente uma actuação em que instrumentos, voz e corpo se juntaram para, que nem mesmo no fim, houvesse o menor vestígio de frio.
Concluídos os onze capítulos, e com a sala metafórica e literalmente a ferver (os responsáveis pelo LAV devem rever com urgência questões ligadas à climatização e lotação do espaço), a banda despediu-se por quinze minutos, deixando uma multidão de fãs visivelmente satisfeita e enlevada com o novo álbum.
A reunião de músicos e admiradores prosseguiu numa toada menos contemplativa mas não menos apreciada com uma viagem por temas da longa carreira dos Mão Morta que deram direito a muita cantoria, mosh e até crowd surfing.
Neste Acto II, que se iniciou com Pássaros a Esvoaçar e passou por temas como Em Directo (para a TV), Vamos Fugir ou Bófia, predominou a euforia e um outro lado contestatário da banda que se propôs terminar com 1º de Novembro. Perante a ‘ameaça’, Lisboa pediu, e Lisboa teve, Lisboa.
A noite terminou ‘a rasgar’ com o icónico Anarquista Duval.
A terminar fica a nota para o fantástico painel de caretos concebidos pelo colectivo portuense Arara que serviu de fundo a boa parte do Acto II ajudando a melhorar a ambiência de um serão já de si magnífico.
Alinhamento:
- Acto I – No Fim Era O Frio
- O Despertar
- O Mundo Não É Mais um Lugar Seguro
- Um Ser Que Não Se Ilumina
- Quem És Tu?
- Oxalá
- Passo o Dia a Olhar o Sol
- Deflagram Clarões de Luz
- Invasão Bélica
- A Minha Amada
- Isto É Real?
- Sinto Tanto Frio
- Acto II
- Pássaros a Esvoaçar
- Sitiados
- Hipótese do Suicídio
- Tu Disseste
- Em Directo (Para a Televisão)
- Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real)
- Vamos Fugir
- E Se Depois
- Bófia
- 1º de Novembro
- Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)
- Anarquista Duval