Idles no Hard Club – nem todos nos conformamos quando viramos adultos

Idles no Hard Club -  nem todos nos conformamos quando viramos adultos

Antes de mais, é certo afirmar que a cultura floresce sempre em tempos de crise. Mais certo, é na recessão política e económica haver sempre quem desafie e se revolte com valores conformistas, que a sociedade parece tomar como garantidos. O final da segunda década do século XXI e Idles exibem esta relação ecológica de predatismo em pleno estado.

O segundo álbum que nos vieram apresentar, Joy as an Act of Resistance, é o exemplo mais perfeito da correlação entre a atualidade e a mensagem que 5 homens britânicos querem passar sobre a instabilidade política, económica e social da mesma.

Não é de admirar que na sua primeira tour mundial já estejam a esgotar salas de espetáculos e tenham esgotado no nosso país também. Apesar de negarem o cunho de banda de punk rock e de afirmarem que não são um grupo político, podemos confirmar que são, sim. E muito mais! São uma banda de punk rock, pós-punk e de claro foro antifascista. O próprio vocalista Joe Talbot faz questão de nos relembrar isso entre canções.

Don’t ever put your middle finger up, unless you want to show it to fascism

O concerto começou com Colossus do novo álbum, onde já se fez notar uma extraordinária energia, tanto por parte da banda britânica como do público português (e estrangeiro também). Público esse, com idades dos 20 aos 50/60, que se mostrou imparável do início ao fim. Ninguém, e repito, absolutamente ninguém, se mostrou indiferente à banda.

Percorreram praticamente todos os temas que lançaram em 2018 e os fãs mostraram-se bastante conhecedores dos mesmos. Desde Never Fight a Man With a Perm, I’m Scum, Samaritans, Television e até Cry to Me (cover de Solomon Burke) e mais, muito mais. No novo álbum, escutam-se canções com cunho pessoal que abordam temas desde a xenofobia, à masculina tóxica e até ao Brexit. Canções estas que se fazem sentir no nosso ínfimo, se todos passarmos além da distorção e dos riffs e ouvirmos atentamente a sua mensagem.

Apesar de destacarmos Mother, Well Done (do seu primeiro álbum Brutalism) e a mais recente Danny Nedelko como as canções da noite, fazêmo-lo por muito pouca margem. Na verdade, não houve uma canção que não possa ser considerada como uma das mais cantadas e aplaudidas. O entusiasmo manteve-se em músicas do álbum anterior como Divide and Conquer, 1049 Gotho, White Privilege, entre tantas outras.

I’m gonna say it for the fourth time, you are the best crowd we ever played to

Costumamos pensar que as bandas dizem isto em todo o lado, mas ontem acreditamos piamente em Joe Talbot.

A destacar também, foi a interação de todos os membros com a audiência. Talbot é um entertainer nato e o guitarrista Mark Bowen é um profissional no crowd surf. Por falar em crowd surfing, a banda é tão simpática que deixava qualquer fã que tivesse coragem de subir ao palco atirar-se pela multidão dentro. E enquanto tocavam Great, o vocalista até deixou que um fã cantasse uns versos. E em Exeter o guitarrista Lee Kirman tocou no meio do público enquanto Talbot pedia a todos que se baixassem para fazer um crowd jump.

Há uma proximidade tão grande com os fãs, que uma hora antes do concerto era o próprio baixista Adam Devonshire que se encontrava a vender t-shirts da banda. E no final do concerto, todos os membros acabaram por aparecer na entrada para continuar a venda de merchandising. O que para uns pode ser uma estratégia de marketing, para outros não passa duma confirmação da humildade e aproximação da banda com a devota multidão.

Long live the open minded

Indeed Joe Talbot.

A primeira parte do concerto ficou a cargo de JOHN (Times Two), dois rapazes londrinos de Crystal Palace acompanhados apenas pela sua guitarra e bateria. Ainda são uma banda “verdinha” mas com claro espectro musical demarcado no punk, rock e noise.

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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Mais sobre: Idles, JOHN (Times Two)

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