GoodGoodNotBad (de todo) – O terceiro dia de Vodafone Paredes de Coura
Mais um dia de Vodafone Paredes de Coura, mais um dia de Vozes da Escrita. Miguel Guedes (Blind Zero) e Marta Ren deram voz aos poemas da terceira tarde de festival. Este ano, a meteorologia esteve em harmonia com o Couraíso: os festivaleiros puderam aproveitar umas belas tardes solarengas com o melhor que o palco Jazz Na Relva tem para oferecer.
Mais acima na vila atuaram, entretanto, os Moon Duo, cortesia das Vodafone Music Sessions. Muitos sortudos que por lá passeavam conseguiram assistir ao pequeno espetáculo, assim como tantos outros que foram atraídos pelas publicações nas redes sociais.
De volta ao recinto, os primeiros a fazer vibrar amplificadores foram os Cave Story bem ao início da tarde. O rock alternativo é o braço direito (e esquerdo) destes portugueses que deram conta do palco Vodafone.FM com o seu último trabalho West.
Já no palco Vodafone o ar corria fresco e revitalizante ao som de Bruno Pernadas. Numa performance contagiante, o talentoso artista, bem como os músicos que o acompanhavam, deu ao jazz toda uma nova vida. O ritmo delirante da sua música pode ser facilmente associado à evolução de uma peça de teatro, a sua versatilidade é de venerar e o público vibrou. Levou o público até “à Galaxy” – e de volta à terra.
Os microfones foram ligados para Andy Shauf no palco Vodafone.FM às 19h00. O músico canadiense apresentou The Party – super conveniente para ocasião – e encantou o público. Virtuoso, Andy é artista para uma data de instrumentos, mas esteve mais agarrado à guitarra, nesta performance. Derreteu uma série de corações.
A surpresa da tarde foram os Young Fathers. Chegaram com a força dos deuses do Olimpo, levantaram mais de meia plateia em duas canções. É o tipo de banda que não cabe num género único, dominam o R&B, hip hop e pop, mas roubam também da eletrónica e do rap alternativo. Multifacetados, explosivos, o trio escocês “kilt it” (leia-se killed it).
Os Moon Duo regressaram ao recinto pelas 20h30; desta vez, para um concerto bem menos intimista que o da vila, mas igualmente cativante. Vieram de São Francisco por galáxias nunca antes navegadas até ao Vodafone Paredes de Coura, num loop de repeat-o rock, género musical que eles próprios se atribuíram dada a repetição de riffs e surtos psicadélicos existentes nos seus trabalhos.
BadBadNotGood eram uma das bandas mais esperadas da noite. Este grupo de artistas notáveis tem vindo a ascender na atmosfera musical a olhos vistos. O seu último álbum IV contou com colaborações estrondosas como Kaytranada, Future Islands ou Mick Jenkins. Já em Coura mostraram do que é realmente feita a banda, chegaram modestos e comunicativos, mas profissionais e arrebatadores. Uma performance absolutamente extasiante.
A noite começou em força e os Octa Push não se privaram da festa. Os lisboetas tocaram no palco Vodafone.FM pelas 22h20. (En)cantaram em português eletrónico e apresentaram o último álbum, Língua, que conta com colaborações de nomes sonantes portugueses como Tó Trips (Dead Combo) e João Gomes (Orelha Negra).
Pouco depois entravam, no Palco Vodafone, os Japandroids. Chegaram de Vancouver e estiveram mais do que perto do coração selvagem da Praia Fluvial do Taboão. Arrastaram o caráter rock consigo seja alternative, indie ou garage e fizeram a festa toda, só faltou mesmo fogo de artifício. O público acompanhou o rally e carregou no pedal também. Do nada mergulhavam no crowdsurfing entre o pó levantado do mosh. Foi euforia à primeira vista.
Mas os ânimos acalmaram e, apesar de tardios, os Beach House não perderam audiência, impacientes, mas persistentes os festivaleiros não arredaram pé do palco principal e fizeram questão de ver a tão esperada banda. Consigo trouxeram melodias do dream-pop e um background estrelado que competiu com a paisagem do recinto, já por si naturalmente próximo das estrelas. Thank Your Lucky Stars, bem-recebido pela crítica, adoçou as batidas frenéticas de Japandroids e devolveu a corrente natural ao rio. O público deliciou-se na sua música e não fosse o after-hours, estava pronto para uma bela noite de sono.
A noite continuou no Vodafone.FM com Roosevelt a acordar a malta, passava já das 2h00. Red Axes a assumir o comando logo a seguir.
Foi um dia em cheio. No Vodafone Paredes de Coura, mesmo nas horas em que não há concertos, há alternativas. Nesta 25ª edição, a organização resolveu disponibilizar o acesso gratuito a uma grande panóplia de obras literárias. Falamos da Biblioteca Digital, uma iniciativa que promove os hábitos literários. Existe um QR Code associado ao livro que permite fazer download e em poucos minutos já se pode fazer scroll/slide nas páginas, seja no telemóvel ou tablet. Até ao terceiro dia de festival, cerca de 1500 obras foram descarregadas. Nomes como Oscar Wilde, Miguel Torga e Fernando Pessoa foram os mais requisitados.
Edição de Joana Rita