Gal Costa sublime em concerto nada previsível

Gal Costa sublime em concerto nada previsível

A cantora atuou no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na noite de 25 de janeiro, para apresentar o seu mais recente álbum A Pele do Futuro. Mas o concerto foi muito mais que isso…

N.R.: A reportagem fotográfica foi efectuada na Casa da Música do Porto

Plural no alinhamento e nas interpretações, Gal Costa mostrou-se alegre e com a sua voz a 100% ao longo das cerca de duas horas de concerto preenchidas por um generoso e diversificado alinhamento.

Antes das 22h00, Gal subiu ao palco para começar a cantar Não se assuste pessoa, se eu lhe disser que a vida é boa, numa celebração da vida, da alegria, da saúde e de tudo o que é bom, num mundo “virado do avesso”, como a própria nos diz.

Viagem Passageira, uma composição recente de Gilberto Gil, feita para Gal, recuperou os elementos solenes que caracterizam a sua música, trazendo um cheirinho do Brasil antigo a que ambos nos habituaram. E assim assistimos a um dos mais longos períodos de conversa com os seus fãs, a lembrar a tropicália dos anos 60, quando passou exatamente na rua do Coliseu: “Lisboa está tão linda que dá vontade de viver aqui. Lembro-me de andar por estas ruas, nos anos 60, vestida de hippie louca, e das pessoas me olharem como se eu fosse um ET! E eu não entendia nada do vosso português”.

No embalo dessas recordações, Gal canta London London, canção de Caetano Veloso, e As Curvas da Estrada de Santos.

Além das canções mais calmas, que pertencem quase todas ao novo disco, Gal Costa entrou na noite numa batida muito rockeira para terminar num crescendo de música dançável e até sambista a sintetizar 53 anos de uma carreira onde mescla os compositores da nova geração com alguns nomes que fizeram parte da sua vida pessoal e profissional. Exemplo disso foi o momento em que interpretou o tema Volta, lembrando Fábio Jr., que descreve como “um gato que eu peguei. Agora já não, está velho como eu”, provocando o riso entre o público.

E ainda desfilam composições de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan ou Lupicínio Rodrigues, entre outros. Tudo “embrulhado” na exemplar banda completa, que esteve sempre na atitude certa, fosse a mais festiva ou a mais introspetiva. Pupillo é o baterista e diretor musical de Chicão (teclas), Pedro Sá (guitarra), Lucas Martins (baixo) e Hugo Hori (sax e flauta). O cenário é de Omar Salomão e o figurino da própria Gal.

Quando a artista ficou sozinha em palco com Lucas Martins para Lágrimas Negras, foi momento de reflexão, do qual tivemos dificuldade em despertar ao ponto de a cantora perguntar: “Estão zangados comigo?”. Nada disso, estavamos a sonhar.

A voz de Gal Costa continua icónica, impecável, com cada palavra bem dita e cantada: Vaca Profana, Azul e Sua Estupidez, embalaram-nos e cumpriram com aquilo que mais procuramos num concerto: ser levados para bem longe dali, num suave sonho feito de música. Saído de A Pele do Futuro, o tema Oração de Mãe Menininha conta com a colaboração de Maria Bethânia na gravação e aqui foi também cantada a meias com os fãs lisboetas.

Com Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim) ou Chuva de Prata, a reação foi de efusão com o público todo a cantar (ainda que o Coliseu estivesse pouco mais de meio).

A caminho do encore, Gal Costa incitou-nos a esquecer as cadeiras, levantar e… ninguém se aguentou sem dançar numa reta final de concerto só com temas carnavalescos: Balancê, Festa do Interior, Massa Real e Bloco do Prazer, com a bola que esteve sempre no cenário da noite, a transformar-se numa bola de espelhos.

Será que Gal vai voltar? Por sua vontade sim, já que diz não estar a pensar reformar-se para já.

Daniela Azevedo  

Jornalista, curiosa sobre os media sociais, viciada em música, gosta da adrenalina do desporto motorizado. Amiga dos animais e apreciadora de dias de sol. Acha que a vida é melhor quando há discos de vinil e carros refrigerados a ar por perto.


Ainda não és nosso fã no Facebook?


Mais sobre: Gal Costa

  • Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *