18 Jul 2014 a 26 Jul 2014

FMM Sines: Isto ainda agora começou! (O 1º fim-de-semana)

FMM Sines: Isto ainda agora começou! (O 1º fim-de-semana)

Registou-se um problema no Festival de Músicas do Mundo, durante a primeira parte deste evento em Porto Covo, e que se revelou deveras preocupante. Nos postos de venda de cerveja a imperial estava a 1 euro. Isto, meus amigos, não se faz. Não bastava o sol, o mar, as ruas da vila repletas de locais para petiscar mariscos vários, o facto de os concertos na praça principal serem gratuitos… Não, tinham de pôr a cerveja a metade do preço de outros festivais por esse país fora.

Brincadeiras à parte, a verdade é que neste primeiro fim-de-semana do FMM houve muita coisa digna de nota. Se o festival já é conhecido pelo seu ambiente pacífico, enérgico e positivo, nestes dois últimos dias viveu-se um ambiente quase familiar, com a pequena praça central de Porto Covo repleta de um público tão curioso quanto heterogéneo. Este não é um festival de singles nem do “toca aquela”, pois a verdade é que quem aqui vem é motivado pela descoberta. Não se consegue pronunciar o nome do artista à primeira nem à segunda? Não faz mal, que a música é boa e faz dançar ou simplesmente arregalar os olhos.

“Friques” espalhados pela relva, a apanhar sol no nariz e a curtir os concertos via ecrãs gigantes instalados pela produção; gente mais habituada a outros confortos e sentadinha em cadeiras mesmo à beira do palco, que isto das pernas já não aguentam muitas horas em pé; crianças irrequietas e felizes a correr e a dançar; cães de diversos portes e feitios, que este é um festival amigo da bicharada… Houve espaço para todos, e todos conviveram em grandiosa harmonia neste fim-de-semana em que o FMM regressou a Porto Covo.

A noite de sábado desceu airosa ao som dos Istiklal Trio, oriundos de Israel e fortemente influenciados pelos ritmos turcos. Foi um bom início de noite, viajando entre o jazz, o rock e a música clássica, e criando uma relação de proximidade com o público. Foi uma boa entrada para o prato que a seguir se degustaria: Kayahn Kalhor e Erdal Erzincan, instrumentalistas com origem na Anatólia e na Turquia. Executantes de excelência de instrumentos como o arco kamanchech e o cordofone baglama (sim, experimentem dizer isto muito rápido e sem gaguejar…), proporcionaram um concerto bastante bonito e intimista, que talvez só tenha pecado por ser algo longo, e as pernas já pediam ritmos mais agitados.

Kayhan Kalhor e Erdal Erzincan

O destaque da noite de sábado foi, assim, para Teta, cantor e guitarrista vindo de Madagáscar. Como alguém dizia ao nosso lado, um autêntico “animal de palco”, um verdadeiro senhor com pose de rock star e que soube cativar o público dançante à sua frente, desejoso de dar que fazer às ancas.

Teta

Se o sábado acabou bem, o domingo começou ainda melhor! O primeiro concerto da noite, enquanto o sol deitava os últimos raios por sobre o casario que ladeava o palco, fez entrar em cena o furacão polaco Karolina Cicha, acompanhada de Bart Palyga. Vinda da região da Podláquia, Karolina – que canta em diversas línguas, do tártaro ao lituano, do russo ao yiddish e até esperanto – revelou-se uma tremenda surpresa, com belíssimas vocalizações, multi-misturas de ritmos tradicionais e electrónicos e até um sentido de humor cativante. O parceiro de palco, Bart, compôs o ramalhete vocal e sinfónico com o seu canto gutural e hipnótico.

Karolina Cicha

Uma outra bela surpresa viria a seguir, Selma Uamusse, que conhecemos de outras andanças mais soul-rock como os Wraygunn. Desta vez em nome próprio, acarinhando as suas raizes moçambicanas, Selma apresentou o repertório do disco que está a preparar e mostrou que vem aí algo que promete. Talvez faltando alguma coerência rítmica na actuação, que teve altos e baixos, a verdade é que a moça tem um daqueles vozeirões que será pecado não escutar, alternando entre a energia vibrante do afrobeat e a doçura delicada de um blues. Na parte final do concerto já havia crianças a dançar no palco, já Selma ajeitava a saia depois de dança frenética e criava um diálogo muito sentido e sincero com o público, que respondia calorosamente, repetindo refrões em coro. Foi bonito.

Selma Uamusse

A noite terminou com os vibrantes Cimarrón, colombianos que dão a conhecer a música dos guardadores de gado, os cowboys das planíces colombianas, e onde entram ainda influências africanas, índias e espanholas. Os ritmos agudos e velozes eram volta e meia acalmados pela melodia de uma inesperada harpa, proporcionando uma dança delico-doce ao público cá em baixo. Os Cimarrón tocaram, cantaram, foram aplaudidos e voltaram para mais, que no FMM é mesmo assim: o público pede, o público tem. E quando a cerveja é a 1 euro, o que não falta é vontade de dançar! Amanhã há mais.

Fotos: Mário Pires / C. M. Sines

Laura Alves  

Jornalista, editora, produtora de conteúdos, copywriter, gestora de projecto e de comunidades online. Freelancer, ciclista de pernas e coração, adepta do coworking. Fã de caracóis e imperiais.


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Mais sobre: Bart Palyga, Cimarrón, Erdal Erzincan, Istiklal Trio, Karolina Cicha, Kayhan Kalhor, Selma Uamusse, Teta


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