Festa merecida – Richie Campbell na Altice Arena, em Lisboa

Festa merecida - Richie Campbell na Altice Arena, em Lisboa

Nome maior do reggae em Portugal estreou-se na “maior sala do país” nesta sexta-feira, 2 de fevereiro. Levou Lisboa no bolso e cumpriu todos os requisitos da sua vasta e eclética massa de seguidores.

Conhecemo-lo do reggae, sim, mas a verdade é que o Richie Campbell que na passada sexta-feira subiu ao palco da Altice Arena já navega por outros mares. A mais recente mixtape, Lisboa, está mais longe do sol jamaicano mas tal não foi desculpa para a noite não ser a quente e animada festa do costume.

Prova dessa viagem por novos mares foi a presença logo ao início de alguns dos temas mais celebrados dos dois primeiros discos do músico de Caxias, com Love Is An Addiction, Get With You, Blame It On Me (“a canção que começou isto tudo”) e That’s How We Roll a abrirem a noite. A partir daí as atenções centraram-se em Lisboa. Pray iluminou a sala apenas com as luzes dos telemóveis do público que encheu o primeiro balcão e grande parte da plateia em pé da sala lisboeta e em Water chegou a primeira grande ovação da noite: para Slow J – “o puto mais genuíno que já conheci”, disse Richie – que participa num dos temas sensação do mais recente trabalho do mentor da Bridgetown.

A nova sonoridade que apresenta (mais virada para o R&B, com pitadas de dancehall, pop e sem deixar a raiz do reggae) é mais densa e intimista, por isso há um regresso fugaz à leveza de In The 876 para um descontraído Better Than Today. Dura pouco, a descontracção, e cedo regressamos ao presente de Stress, Anyhow, Midnight In Lisbon e a muito celebrada Heaven.

Já mais para o final, Richie puxou um cartaz da plateia onde se lia “Mind is stronger than fear” e discursou sobre os obstáculos ultrapassados para chegar onde chegou. É bom relembrar que Richie Campbell foi um dos primeiros fenómenos musicais nacionais a explodir através da internet, que rapidamente chegou a majors e grandes circuitos de espectáculos, tanto em Portugal como lá fora, e, como explicou, quase voltou a cair tão rápido como subiu. “Quiseram acabar com a nossa carreira”, disse. Mas não aconteceu, fundou a Bridgetown e gere agora a carreira de forma independente. Essa editora/agência/promotora/família (riscar o que não interessa) é uma das peças mais importantes da história desta noite. Até porque o segundo convidado a subir ao palco é um dos seus protegidos. Plutónio veio (mesmo de pé partido) dar voz a Não Vales Nada e Eyes Open, para gáudio do público presente – que, já agora, teve crianças a dançar com pais, muitos grupos de adolescentes e uma boa dose de casais mais crescidos.

Para a recta final ficaram a motivacional Give Up e os ritmos bem quentes de Slowly (Beatriz, estrela do vídeo, foi estrela também em palco e vencedora do momento mais ternurento da noite), que abriram caminho ao regresso às velhinhas I Feel Amazing e Best Friend. A derradeira despedida fez-se em coro com a já incontornável Do You No Wrong.

A actuação de qualquer artista português numa sala com as dimensões de uma Altice Arena é sempre um ponto marcante na sua carreira. Normalmente é o momento de aclamação, o apogeu da sua popularidade. Com Richie Campbell pareceu ser só mais um marco histórico que o músico não tardará a superar. Se mantiver esta capacidade de crescimento e reinvenção, não deve faltar muito para voltar à arena e, quem sabe, enchê-la mesmo.

O concerto de abertura ficou a cargo de Mishlawi, também da editora Bridgetown.

Edição: Daniela Azevedo

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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Mais sobre: Mishlawi, Plutónio, Richie Campbell, Slow J

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