Em Cem Soldos a gente diverte-se “imense” – O 2º dia do Bons Sons
Sexta feira, feriado nacional e o Bons Sons começa sempre com uma manhã dedicada aos mais pequenos: música para crianças, no auditório. Uma actividade que se vai repetir durante o fim de semana, provando que este é um festival familiar.
Olhamos para o programa e dizemos: UAU! Isto hoje promete! Gisela João, Samuel Úria, Brass Wires Orchestra, Anarchicks, Capicua e Gaiteiros de Lisboa “enchem” o “menu do dia”. E por falar em encher, é sempre cheia que se quer a caneca, com cerveja ou sangria, para matar a sede provocada pelo calor imense que se fez sentir durante a tarde deste dia feriado. Calor que se pode “matar” com recurso aos borrifadores que fazem parte do merchandising do Bons Sons, que inclui a possibilidade de estampar e personalizar t shirts e sweat shirts na hora.
Nobody’s Bizness constituiu a surpresa da tarde: o palco Lopes Graça foi agraciado com uma multidão de pessoas que, de pé, sentadas no chão ou a saltar à corda, curtia o som, a boa disposição e os “bons sons” desta banda lisboeta.
Às 20h15m o público dirigiu-se apressadamente para o palco Eira, para ouvir a fadista Gisela João. Num concerto inicialmente previsto para o Giacometti, saúdo a mudança para o palco Eira que, ainda assim, parecia insuficiente para acolher tanta gente. Com o pôr do sol como pano de fundo, o fado tomou conta da aldeia de Cem Soldos. Gisela brindou o público com uma versão d’A Casa da Mariquinhas com letra de Ana Matos Fernandes, aka Capicua, que iria subir ao palco Eira, pelas 00h15m.
Antes mesmo de assistir ao concerto da fadista Gisela João, encontrei Samuel Úria no palco Giacometti, em sound check. É comum, no Bons Sons, assistir a este processo, ao vivo. Sentimo-nos mesmo em casa: até os artistas ensaiam e afinam pormenores “ao vivo e a cores” e para quem os quiser ouvir. O autor de Grande Medo do Pequeno Mundo, editado no ano passado, brindou-nos com um concerto em grande, num espaço que se revelou pequeno para acolher tantas pessoas que se aglomeravam na rua junto a um dos palcos mais concorridos do Bons Sons.
Bons Sons é também um local de encontro: o Joaquim, voluntário que conheci no autocarro fala com entusiasmo do facto de aqui encontrar festivaleiros assíduos de festivais de registo completamente diferente deste. Cem Soldos e o seu festival torna-se um ponto de encontro de amigos, literalmente de outros festivais, que aqui encontram o tempo e o espaço para conhecer um pouco mais da música portuguesa, nas suas diferentes expressões, e de usufruir de um ambiente único. “Vem viver a aldeia!”
Em Tomar, no conhecido Café Santa Íria, enquanto escrevia este artigo, fui interpelada por um casal que aparentava ter mais de 50 anos. “Somos de Leiria e lemos sobre o Festival numa revista e resolvemos pegar na auto caravana e vir passar aqui o fim de semana.” Falei-lhes um pouco do Festival e do programa de hoje e de amanhã. “Oh menina, mas aquilo é só artistas estrangeiros?” Não, respondi, no Bons Sons só há música portuguesa.” O Bons Sons assume-se como plataforma de divulgação de música nacional e compromete-se a não repetir a presença das bandas ou artistas. Samuel Úria lamentou-se desse facto, antes mesmo de cantar o “Não arrastes o meu caixão”, ambicionando que assim pudesse renascer para poder voltar a pisar um dos palcos desta aldeia.
O cartaz do dia 15 de Agosto encerrou com os míticos Gaiteiros de Lisboa, no Lopes Graça, e os Moullinex, o projecto de Luís Clara Gomes que quebra barreiras de estilos musicais entre Lisboa e Munique. E depois? Depois foi hora de arrumar a caneca e rumar até casa para retemperar as energias para o terceiro dia de Festival, que promete, entre outros, os bons sons de Tocá Rufar, Milla Dores, Noiserv, Ricardo Ribeiro e Guta Naki. E calor, muito calor: 35º.
Adaptando e citando a Capicua, em Cem Soldos a gente diverte-se imense. E ainda se aprendem umas coisas sobre bancos bons e maus.