Dream Theater – O sonho e outras embirrações

Dream Theater - O sonho e outras embirrações

Depois de uma ausência prolongada, os “Mestres do Progressivo” regressaram para dois concertos em Portugal. Depois do Multiusos de Gondomar, foi a vez do Campo Pequeno, em Lisboa, receber a The Distance Over Time Tour – Celebrating 20 Years of Scenes From A Memory.

Com a precisão de um relógio suíço, as luzes baixam às 20h00 e, um a um, começam a surgir os elementos da mítica banda norte-americana que, dez anos depois, regressa aos palcos nacionais para uma digressão que tem sido aplaudida um pouco por todo o lado. Com o início de Unthetered Angel todas as dúvidas ficam desfeitas. Claro que, num palco quase despido, a bateria de Mike Mangini destaca-se pela imponência que, numa outra banda, teria tons de exagero, mas não estamos a falar de uma banda qualquer. A certa altura são muitas as questões que se colocam numa atuação deste calibre, a roçar a perfeição, isto porque John Petrucci e companhia são génios na sua arte e a sua performance é uma extensão das suas vidas. Tudo aqui é pensado ao pormenor num jogo de luzes assombroso em que nos vamos sentindo engolidos na nossa pequenez em espasmos musicais. O intervalo é uma “cereja” inesperada para recuperar forças ao imaginário, porque, apesar de tudo, isto é musica para homens… e nerds, também.

Depois do intervalo, enquanto o público se perde numa triagem sonora, perco algum tempo a observar James LaBrie, o “patinho feio” da banda, mas que enche o palco do Campo Pequeno percebendo que é apenas “mais um” num mundo de genialidade.

Querendo-se ou não, o vocalista é parte integrante do sucesso dos norte-americanos e, aceitando-se ou não, o homem canta e sabe como o fazer, mesmo com todas as limitações que se lhe podem apontar, mas o que é que sabemos nós sobre isso?

Entretanto, quando damos conta, já o Campo Pequeno se ilumina com isqueiros séc. XXI, que é como quem diz, as lanternas de telemóveis, numa redenção imensa, a que só os predestinados têm direito.

É certo que os Dream Theater nunca serão consensuais, mas é impossível ficar indiferente a tudo o que acontece nas duas horas e meia de duração de atuação, sendo que o mais curioso é o facto de nos sentirmos tão pequenos, tão insignificantes, tão mortais e tão estúpidos. Preocupados com o facto se Portnoy faz (ou não!) falta, se La Brie é (ou não!) bom vocalista? O que é que isso interessa quando estamos perante a realeza? Seja feita a vénia aos reis, e o resto que se lixe.

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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