Divina Festa – a reportagem do concerto dos irlandeses The Divine Comedy
No passado da 4 de Fevereiro, o Teatro Tivoli BBVA recebeu Neil Hannon & companhia para um concerto que já tardava. Depois de uma passagem por Braga, a banda foi recebida em Lisboa com casa cheia. A Carla Flores esteve por lá conta-vos como foi. Os registos fotográficos estiveram a cargo do Francisco Morais.
Sete anos após a última vinda a solo a Portugal, Neil Hannon voltou a Lisboa, desta vez com a sua banda, para mostrar que continuam, como só eles, a fazer da música comédia inteligente e assertiva, deixando claro ao público do Tivoli BBVA que sabe como, onde e com quem o faz.
Uma sala desde há muito esgotada começou por receber a divertida e inspiradíssima Lisa O’Neil, que com seis canções, um guitarrista e um irrequieto pé esquerdo deu provas de um talento que o público português quererá certamente continuar a acompanhar, nomeadamente para saber da evolução da sua relação com Elvis Presley (Elvis, I gave you Irish Stew)
A banda da noite chegou-nos com um visual à Bonaparte, ou não fossem eles os magníficos portadores do complexo de Napoleão. O imperador sairia de cena após The Certainty of Chance – a nona música da setlist – dando lugar ao Complete Banker, de Bang Goes The Knighthood.
Se é verdade que é “um espontâneo”, como divertidamente se afirmou, o homem que dá cara, voz e corpo aos The Divine Comedy é sobretudo um performer cujo talento faz de cada concerto um espetáculo marcado pela empatia com o público, conquistado desde o primeiro minuto. Na digressão de Foverland, o álbum que nos fala do “felizes para sempre e do que acontece depois do felizes para sempre”, Hannon faz-se acompanhar de uma mão cheia de músicos excelentes para transformar o serão numa festa, enorme reunião de amigos de longa data onde a excelente música dos The Divine Comedy anda de mãos dados com uma atuação irrepreensível.
De uma noite que encheu as medidas a todos os admiradores da banda fica na memória o desfile de 24 canções. Sem deixar de mostrar o ainda fresco Foreverland, esse desfile levou-nos, como não podia deixar de ser após tão longa ausência, a visitar antigos sucessos, reconhecidos e aplaudidos pelo público aos primeiros acordes. De Neil Hannon renova-se a ideia de uma imensa energia ao dirigir o espectáculo, centrando em si as atenções sem, contudo, ofuscar os restantes músicos. À forte ironia presente nas canções juntam-se os comentários acintosos e a crítica aos dias que correm, lembrando os mais distraídos que “os fascistas estão em alta”.
Na sua estatura franzina, o Bad Embassador mostrou-se enorme: na voz, na movimentação em palco, na interação que estabeleceu com o público. Foi talvez gigantesco quando literalmente pulou a cerca, acabando estendido no chão a interpretação de Our Mutual Friend. Hannon foi imperador e banqueiro, mas sobretudo mestre-sala. Do globo terrestre/bar (no palco desde o início do concerto) saíram várias garrafas de vinho, servido por ele a todos os músicos. E é segurando dois copos de pé alto que chama Lisa O’Neill de volta para o dueto de Funny Peculiar, que, diríamos, parece ter sido escrito para as duas vozes.
Entre cumprimentar Lisboa com um “Você é um público adorável” e outros comentários num português à la Google Translator, coordenar as palmas do público (dando ordem para parar porque “too much clapping makes you decadent”), servir vinho e morrer em cena, o criador dos The Divine Comedy teve ainda tempo para dar voz a um grupo de jovens irlandeses que, tal como todo a sala, esteve em permanente animação nos camarotes.
No final da noite, um público com um leque bastante variado de idades mostrava-se rendido à qualidade musical e cénica destes comediantes divinais e, tal como na véspera o de Braga,disposto a acompanhá-los a Foverland a qualquer momento.
Setlist de The Divine Comedy
- Sweden
- How Can You Leave Me on My Own
- The Frog Princess
- Bad Ambassador
- Your Daddy’s Car
- Napoleon Complex
- The Pact
- To the Rescue
- The Certainty of Chance
- The Complete Banker
- Bang Goes the Knighthood
- Generation Sex
- Our Mutual Friend
- Funny Peculiar
- A Lady of a Certain Age
- Songs of Love
- Something for the Weekend
- Becoming More Like Alfie
- At the Indie Disco
- I Like
- National Express
Encore
- Assume the Perpendicular
- A Drinking Song
- Tonight We Fly
Edição de Joana Rita