16 Ago 2022 a 20 Ago 2022

Coura é (cada vez mais) um mosh pit! – 3.º dia Vodafone Paredes de Coura 2022

Coura é (cada vez mais) um mosh pit! - 3.º dia Vodafone Paredes de Coura 2022

Como o próprio diretor do festival reconhece, o público tem-se renovado de ano para ano e nem a pandemia travou essa tendência. No entanto, todos os anos temos surpresas e peripécias da audiência que está cada vez mais jovem. O destaque deste dia vai para o mosh pit em Turnstile que se estendeu, ilogicamente, até L’Impératrice.

Aquele medo e PTSD courense da chuva do primeiro dia, foram completamente infundados nos restantes dias do festival. 18 de agosto acabou por ser o mais caloroso dos três até agora. E depois de irmos a banhos prolongados no rio Coura, encontrámos The Comet is Coming que se sucederam ao tão esperado Yellow Days no palco Vodafone. O cometa chegou e mostrou mais uma vez em Portugal, de que é que estes londrinos da eletrónica, jazz e rock psicadélico são feitos.

Porém, o destaque do fim tarde/início de noite vai para Molchat Doma. O seu nome traduzido significa algo como “silêncio em casa”, mas de silenciosos estes bielorrussos não têm nada. Que entrega total entre o público e a banda! Já nos eram bastante queridos antes de explodirem na geração TikTok e Reels com o hit Судно, mas saímos daqui com um amor mais exacerbado.

Egor Shkutko tem mais presença em palco do que estas composições de synth-pop e dark wave assim o exigem. O vocalista tem uns trejeitos que deambulam entre o Corcunda de Notre-Dame e o monstro do Dr. Frankenstein, que torna a performance bastante mais poderosa e sombria ao vivo. Não está só ele de parabéns, como também toda a camada jovem de público que entrou nas cantorias em russo muito para lá dos êxitos esperados. Mesmo estando desconfortavelmente apertados pela multidão, no palco Vodafone.FM, foi sem dúvida, um dos concertos do dia.

Tudo à moshada, crowdfsurfs e fé em Deus no palco Vodafone

Não é que Parquet Courts seja uma banda para aqueles encontrões fervorosos de quem não sabe descarregar as frustrações no ginásio e precisa de o fazer de forma catártica, mas assim foi no palco principal. Estes quase 3 anos parados em casa, parecem ter despertado uma necessidade de expressão física que há anos que não era típica de Coura. Mas tudo bem, nós vamos com a maré e se ela é alta, então que seja.

Ainda no dia anterior afirmávamos que o rock não estava morto, e Turnstile é mais uma prova viva disso. Passavam uns minutos das 23:15, quando meteram os Rage Against The Machine, Metallica, Blink-181, Green Day e At The Drive In numa batedeira e nos serviram de bandeja.

Os norte-americanos do hardcore punk já têm 12 anos de indústria musical, mas só explodiram o ano passado. E em Coura a explosão foi tanta que o mosh se estendeu até às laterais do palco e superou o que aconteceu em IDLES. Nem nós estávamos à espera de ver toda uma plateia a viver tanto o concerto de forma efusiva. Como diz João Carvalho:

Com o boom que os Turnstile estão a ter, não será de admirar que daqui a uns tempos sejam cabeça de cartaz em grandes festivais internacionais. Podem dizer que os ouviram pela primeira em Paredes de Coura!

Com um estilo electro pop e Nu-disco, os L’Imperátrice viram um público da cabine de som para a frente a continuar mosh e crowdsurf. Algo o que não se enquadra de todo no seu género musical, ainda que de forma mais ligeira do que nos concertos anteriores. A excitação em Turnstile foi tal, que estes putos não se conseguiram conter. Foram um dos grandes destaques da noite, não só pelo deslumbramento da multidão, como pelo magnetismo de toda a banda e principalmente da vocalista, Flore Benguigui. Entre corações elétricos nas roupas, danças peculiares e instrumentais muito coordenados, vamos guardar na memória esta fofura de concerto, tal como guardamos uns Parcels ou Jungle (que aqui deixaram sentimento icónico semelhante em edições anteriores).

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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Mais sobre: L'Impératrice, Molchat Doma, Parquet Courts, The Comet is Coming, Turnstile, Yellow Days


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