O Campo Pequeno sob o feitiço da lua cheia – reportagem no concerto dos Moonspell

O Campo Pequeno sob o feitiço da lua cheia - reportagem no concerto dos Moonspell

A noite de 4 de Fevereiro foi especial para os fãs dos portugueses Moonspell: o Campo Pequeno vestiu-se de negro para fazer a festa. A banda assinalou os 20 anos do álbum Irreligious com a gravação, em DVD, deste concerto. A Andreia Teixeira esteve por lá, na companhia do nosso fotógrafo Alexandre Paixão.

A noite ia ser longa, disso não havia dúvida, mas sabíamos também que sair de casa e atravessar o temporal para festejar os 20 anos do álbum Irreligious dos Moonspell ia, certamente, valer a pena. Foram mais de três horas de concerto, cujo alinhamento contou com lobos, mitos e fogo. “Perverse… almost religious” foi a primeira frase que vimos assim que chegámos e, a acompanhar o olho de Hórus, não poderia ser melhor presságio.

Sentámo-nos na bancada, já com a plateia da Praça do Campo Pequeno bem composta. Tínhamos a lua cheia como background de um palco que viria a contar com mais efeitos e surpresas do que aquelas que poderíamos imaginar – mesmo depois de sabermos que este concerto daria lugar àquilo que Fernando Ribeiro confessou ser “um projecto há muito esperado” pela banda. Falamos da gravação de um DVD com um concerto ao vivo.

Um projecto, diga-se, digno de uma banda que conta já com 25 anos de carreira. De “92 a 17” que estes lobos ainda não pararam de fazer crescer a sua alcateia, a que tantas vezes se referiu o (especialmente) comunicativo anfitrião Fernando Ribeiro. Propuseram-se a tocar três álbuns na íntegra e não só aguentaram como ainda conseguiram motivar o público, incluindo nos intervalos entre mudança de cenários e restantes apetrechos em que pudemos contar com a banda folk Cornalusa.

Wolfheart e os seus 22 anos de idade, abriram hostilidades e não podia haver melhor escolha do que o álbum de estreia desta banda para deixar toda a gente a pedir por mais. Ali ninguém se coibiu a dar um passinho de dança ao som de temas como Trebaruna e a “sua irmã malvada” Ataegina. Mesmo sendo este o primeiro de três actos, pudemos contar logo desde início com a presença das Crystal Mountain Singers, já habituais acompanhantes dos lobos. O recinto cobriu-se de vermelho e a interpretação de Vampiria, bem como o encarnar de personagem pelo vocalista, foi um dos grandes momentos do concerto. Sem demora, depois de numerosos pedidos, chegou Alma Mater e não só não estávamos “orgulhosamente sós” como as palavras do refrão se fizeram ouvir bem alto.

A cumplicidade entre os músicos é clara, fazendo com que, desde o início ao fim, nos proporcionassem momentos bastante agradáveis com as interacções entre membros. Isso também é  é evidente pelo equilíbrio do espaço dedicado a cada dos instrumentos. Aconteceu um crowdsurf ocasional, mas a interacção entre a banda e o público foi preenchida essencialmente por palavras.

Tanto o primeiro como o segundo intervalo ficou a cargo dos Cornalusa, que nos brindaram com alguns temas dos próprios Moonspell, mas nem toda a gente se entusiasmou (tanto quanto eu, pelo menos) com a música folk deste quarteto.

A lua deu lugar ao olho de Hórus e os pontos de luz e fogo no palco multiplicavam-se. Numa atmosfera muito própria, os Moonspell entregaram-nos o álbum aniversariante. Tocado ao vivo, este álbum foi uma “redescoberta” tanto para nós como para a banda. O tema Raven contou com a habitual presença de Mariangela Demurtas, vocalista dos Tristania; os lança-chamas apareceram em momentos chave para nos aquecer ainda mais a alma. Com principal destaque para os três últimos temas deste trabalho, Mephisto foi outro dos momentos altos. Herr Spiegelmann apresentou-nos um Fernando coberto de espelhos e lasers verdes nas mãos. Já Full Moon Madness soou tal e qual como deveria soar: a uivos misturados com o hino incontornável de uma alcateia sob o feitiço da lua.

O terceiro acto trazia-nos o mais recente trabalho dos lobos Extinct e embora Fernando nos tenha tentado preparar “para ser extintos”, a verdade é que este álbum foi o que mais deixou a desejar quando interpretado ao vivo. Pode ter sido a hora já avançada em conjunto com o cansaço do público, mas a verdade é que os temas a destacar acabam por ser o primeiro e o último, Breathe e The Future Is Dark, respectivamente.

Fernando Ribeiro agradeceu uma vez mais ao público e a quem de direito, sem deixar de referir este “longo percurso para chegar às grandes produções.” Todos concordamos que estes Moonspell estão de parabéns pela carreira que construíram. Agora resta-nos esperar pelo DVD e pelo novo álbum que, segundo palavras do vocalista, servirá de veículo para a banda voltar a actuar na capital, mesmo antes do final do ano.

Edição de Joana Rita


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