Calor, suor e algumas lágrimas – o primeiro dia do Super Bock Super Rock 2019
Segundo a organização, passaram 30.000 pessoas pela Herdade do Cabeço da Flauta no primeiro dia do festival. Ainda assim, o início da 25ª edição do Super Bock Super Rock deu-se devagarinho em concordância com o sol abrasador que se fazia sentir no Meco. Tão forte como o sol foi a discordância de emoções que se sentiram, da alegria e da ginga contagiante de Dino à melancolia arrebatadora de Lana.
Para os primeiros a chegar ao recinto, a escolha de poiso baseou-se na procura da melhor sombra, daí não estranharmos grupos generosos de festivaleiros sentados à frente dos palcos secundários bem antes de os concertos começarem.
O neozelandês Marlon Williams, quase músico residente em Portugal, tem vindo a juntar cada vez mais apreciadores da sua música. Num final de tarde quente, ali bem juntinhos na sombra do palco EDP, estava um grupo de fãs com as suas letras mais que memorizadas e completamente derretido com o talento e à vontade do músico.
No palco Super Bock, Cat Power foi a responsável por abrir as hostes do palco principal perante um recinto ainda bastante despido. Cinco anos depois da sua última passagem pelo Meco a cantora trouxe-nos o seu indie rock e arrastou uns quantos fãs fiéis e uns quantos curiosos. Pareceu-nos deslocada no festival, talvez pela hora ou pelo calor que se fazia sentir mas Cat Power pede um ambiente mais intimista.
Se nos faltava algo no palco principal Dino d’Santiago deu-nos tudo e mais alguma coisa no palco EDP. A debandada de público para a ponta oposta do recinto teve razão de ser. Entre novos temas, e novas mixagens, Dino trouxe Pedro Mafama para o tema Sô Bô, e Nós Funaná foi cantado bem no meio da plateia. Dino já é há muito sinónimo de entrega e parece-nos que funaná já faz parte do léxico de todos.
No palco Super Bock, a golden hour do primeiro dia ficou guardada para os ingleses Jungle. São mais um dos fenómenos de repetição em festivais portugueses e por uma razão muito simples, resultam sempre. Temas como Heavy, California, Casio, ou Busy’ Earning são catchy. Sai-se de sorriso na cara, há uma imensidão de gente que sente necessidade de subir para as costas de alguém, e o ritmo e o groove nunca diminuem. São constantes.
De volta ao EDP foi a vez de Branko mostrar o porquê de ser um dos maiores influenciadores do momento intercultural vivido em Lisboa, e que se tem expandido ao resto do país. Como convidados contou com Cosima e para o fim com Dino d’Santiago para os temas Tudo Certo e Nova Lisboa.
No palco Somersby, e em simultâneo com os ingleses The 1975 no palco principal, Conan Osiris conseguiu juntar tanto curiosos pela sua persona, como seguidores de longa data. Conan é mais que Telemóveis e Eurovisão, e tivemos um bom exemplo disso mesmo.
De volta ao palco EDP o público ia crescendo para os ingleses Metronomy. Embora com um número considerável de singles na ponta da língua de muitos, e de serem geradores fáceis de sorrisos, falta-lhes algo inovador que nos faça chegar, ouvir, dançar e não ter qualquer vontade de arredar pé. Sofrendo do fenómeno festival, a debandada para Lana começou cedo pelo que Metronomy não foram mais do que uma banda de transição para a maioria.
Falámos do calor, do suor, vamos às lágrimas? Sete anos depois, e bem mais senhora de si mesma, a nova-iorquina Elizabeth Grant, Lana Del Rey, voltou ao Meco.
Sob um cenário tropical a puxar aos anos 50 e com a sua figura etérea (pelo menos para os fãs), Lana arrancou com Born To Die para um concerto que teria pouco mais de uma hora. Ver Lana em palco é como entrar noutra dimensão, em que tudo é visto em slow motion, sob um filtro vintage e há uma invasão latente de um sentimento melancólico arrebatador. Entre idas ao público (associadas a uma comoção generalizada), declarações de amor aos fãs e a Lisboa, e claro, entre baloiços, Lana deixou os fãs de coração cheio mas a pedir por bem mais. Aos restantes uma hora foi mais que suficiente.
N.R.: Por decisão das artistas não nos foi possível fotografar Cat Power e Lana Del Rey