Caetano Veloso no Coliseu dos Recreios: menos é mais
Lisboa assistiu neste sábado, 11 de setembro, ao encerramento da digressão europeia de Caetano Veloso. 20h30 foi a hora determinada pelo contexto pós confinamento para o mais recente dos reencontros do público português com o cantor baiano.
Os fãs, entre os quais se contavam muitos brasileiros, chegaram cedo e como é bom de prever, dez minutos após a hora marcada os aplausos de “incentivo” ecoavam no Coliseu dos Recreios completamente esgotado. (Algo comum a todos os espetáculos realizados por terras lusas entre 1 e 11 de setembro).
Num palco completamente vestido de negro e luz, a presença de uma guitarra e uma cadeira informaria os menos avisados ao que vínhamos: Caetano em formato voz e violão.
Pelas 20h45 o cantor seria recebido com praticamente toda a sala de pé e um fortíssimo aplauso. Aquele que é, por muitos, considerado um dos melhores cantores brasileiros de sempre, chegou e permaneceu sozinho no palco, mas foi acompanhado pelas vozes dos espectadores desde os primeiros acordes de Milagres do Povo.
Num alinhamento que contou com 20 temas iniciais e um encore de seis canções! – ou não fosse este o derradeiro espetáculo da digressão – escutamos grandes êxitos originais, um tema do venezuelano Simón Díaz, Tonada de Luna Llena e uma belíssima versão de Confesso, popularizado por Amália Rodrigues. Sendo absolutamente impossível selecionar as duas ou três canções que mais agradaram, sentimo-nos forçados ao lugar comum de reafirmar que “Alguma coisa acontece” em todos os corações que escutam este ícone da música brasileira.
As duas horas de concerto decorreram num ambiente intimista (apenas perturbado pelos flashes disparados pelos ‘fãs mais fervorosos’), havendo mesmo espaço para diálogo sobre alguns assuntos da atualidade. No seu tom habitual de quem regressa a casa, o músico voltou a pedir desculpa pelas mãos trémulas, a expressar a alegria de voltar aos palcos após dois anos de pandemia e partilhar algumas angústias. Tal como nos demais espetáculos realizados no nosso país, muitos foram os gritos de “Fora Bolsonaro!” com Caetano a assegurar que estamos no começo. Aos muitos pedidos de temas e mesmo o de mostrar o “gingado baiano”, o cantor foi respondendo com muito humor e charme ora que não percebera, ora que mais tarde se veria.
Quer mais timidamente, quer encorajados pelo músico, os espectadores foram acompanhando todas as canções com alguns momentos a resultarem em belas harmonias, até que o anteriormente solicitado “gingado baiano” se faz mostrar.
Caetano termina Reconvexo dançando elegantemente ao som das palmas do público e é com essa elegância que sai do palco, não sem antes nos ter confessado que o tema Tonada de Luna Llena o deixa numa espécie de transe e que estes dias em Portugal funcionaram como uma terapia.
O regresso ao palco fez-se após um longo e entusiástico aplauso com Qualquer Coisa, Sozinho e Confesso, momento em que o cantor Muito Romântico reafirmou o seu gosto pelo fado e por cantar fados imprimindo-lhes uma toada de samba, sendo que neste, particularmente, lhe é impossível manter o português do Brasil até ao fim já que alguns versos exigem a pronúncia lusitana. Passistas, que não havia cantado nos restantes concertos em Portugal, cedeu lugar ao assobio imediatamente reconhecido como a entrada deVocê é Linda.
Tal como acontecera antes, A Luz de Tieta abrilhantou o final de festa. O refrão cantado por toda a sala de pé serviu de mote a um “Até já!” com o músico a saudar à boca de cena o público que fica desde já a aguardar o regresso de Caetano Veloso com o seu novo trabalho: Meu Coco.