Bons Sons é fusão festivaleira: gin, piano, burros, skate e garrafões de água – O 3º dia
Dia de muito calor, o sábado foi em pleno no que a Bons Sons diz respeito. O palco Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPGDP) tomou o lugar da missa e assentou arraiais na Igreja de São Sebastião. Mara, Orblua e Mila Dores foram as escolhas MPGDP para o terceiro dia de festival.
Ao chegar ao recinto, dirigi-me rapidamente à Igreja – não estava propriamente atrasada para a missa, mas sim para o concerto de Mara. E confesso que cheguei na chamada “hora H”: ouvia-se a melodia de Barco Negro, um fado que associamos de imediato à voz de Amália, ao mais puro fado. Perante o ambiente da igreja e toda a envolvente, foi difícil conter as lágrimas, tal não foi a interpretação de Mara, acompanhada de excelentes músicos.
Nem só de música vive os Bons Sons e às 16h30m o Auditório abriu portas às Curtas em Flagrante. Hoje o público teve possibilidade de assistir a cinco curtas: Espelho, de Juliana Milheiro, Fronteira, de António Lopes – ambas com origem brasileira – e M is for Macho, de José Pedro Lopes, Do outro lado da rua, de Pedro Bessa e Prescrição, de Marco Mirando – as três de origem portuguesa.
Perto da Entrada Hortas, podemos encontrar a AEPGA – a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Assinino – e o seu curral onde se encontram alguns burros. Esta presença visa sensibilizar o público para a necessidade de preservação e estima pela espécie que, diga-se de passagem, prima pela simpatia e olhar meigo.
Num festival 100% português até o gin – uma das bebidas muito apreciadas pelos jovens nos dias de hoje – “fala” a língua de Camões. O Big Boss tem origem na Batalha, conhecendo o seu processo de destilação e produção nas Caves Neto Costa. A bebida é servida num gigantesco copo de plástico, que pode facilmente tornar-se num souvenir do festival. Quem sabe para o ano as canecas não se vendem em tamanho próprio para servir o gin?
No Auditório tive a oportunidade de usufruir de um excelente final de tarde, na companhia de Tiago Sousa e do seu piano. O músico do Barreiro apresentou-nos o tema Samsara, que dá nome ao seu primeiro disco de piano solo. Brindou-nos com outros temas, que chamou de temas antigos, e ainda de um encore refrescante. A sua humildade e dedicação em palco conquistou um público onde podíamos encontrar algumas crianças, fascinadas com o som do piano – tal como eu!
Estive à conversa com três festivaleiros e campistas que me chamaram a atenção por se fazerem acompanhar de um skate e de garrafões de água. Perante a inesperada pergunta “Mas o que fazem vocês de um lado para o outro a passear o skate e o garrafão da água?”, eles responderam: “Viemos abastecer-nos, estamos ali no campismo”. O Soares, o Meirinhos e o Jorge são adeptos incondicionais dos festivais – e do campismo, tendo estado recentemente no Festival Músicas do Mundo, em Sines, e no Boom Festival, em Idanha-a-Nova. Do Bons Sons sublinham o extraordinário ambiente e a forma como as pessoas da aldeia os receberam. Outro dos pontos positivos salientado é o facto do Bons Sons acolher apenas projectos nacionais, o que permite ao público conhecer melhor os artistas portugueses. Com experiência e currículo intenso no que ao campismo de festivais diz respeito, estes três amigos lamentam a falta de condições do terreno onde estão instalados e a ausência de água potável. Isso explica o facto de se andarem a passear com garrafões de 5 e 6 litros na mão. Ainda assim, nada os pára e daqui rumam até Paredes de Coura.
A noite foi marcada pelo concerto de Noiserv, que fez com que o “recinto” do palco Giacometti transbordasse de público. Graças à projecção numa das paredes da aldeia, foi possível acompanhar David Santos num concerto que certamente irá marcar a sexta ediçãoo do Bons Sons.
Seguiu-se o fadista Ricardo Ribeiro, de Lisboa, que contagiou a multidão presente em torno do palco Lopes Graça com carisma e presença. Pertence a uma jovem geração de fadistas portugueses e brindou o público com o Largo da Memória, o seu último trabalho, que transporta influências árabes.
Los Waves e Aduf foram os artistas que se seguiram, tendo a noite sido fechada pelos Blacksea Não Maya DJs + DJ Maboku e DJ Marfox.
Domingo marca o encerramento da edição de 2014, com a presença de Sérgio Godinho, Amélia Muge, Campaniça Trio, We Trust, First Breath After Coma e muito mais. Haverá lugar, ainda, para a apresentação da revista do Identidades. Prometo contar-vos (quase) tudo, sim?