Bailámos, e bailámos muito – Globaile 2016: O fim (?) dos Buraka Som Sistema

Bailámos, e bailámos muito – Globaile 2016: O fim (?) dos Buraka Som Sistema

Voz rouca, fibras musculares a lamentarem-se de tanta dança, sorriso na cara e de coração cheio, é assim que saímos do Globaile.

Passou a noite de Santo António, casaram os noivos, terminaram os arraiais, a sardinha no pão, a boa da bifana e a imperial sempre na mão. Pedia-se um grande final para as festas de Lisboa e senhores, ó se foi bom.

1 de Julho de 2016 foi muito mais do que o fim das festividades da capital, foi a data marcada para a despedida dos Buraka Som Sistema e para o início de algo que se avizinha como enorme, o Globaile.

O cenário ribeirinho junto ao Tejo, de onde tantos portugueses já partiram prontos a desbravar o mundo, não poderia ser mais adequado para festejar o percurso de uma banda que cruzou ritmos, culturas e personalidades de uma forma tão sublime e que, literalmente, levou a música diretamente da Amadora para o mundo, os Buraka Som Sistema.

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O Globaile, festival que se pretende repetir numa base anual e que parte das mentes de Branko, Riot, Conductor, Kalaf e Blaya, arrancou às 17h no palco IC19 com o DJ set de Kking Kong. Ainda com alguma timidez, o público aproveitava os raios de sol, faziam-se piqueniques, bebia-se mais uma cerveja, punham-se conversas em dia e alguns tentavam perceber o que raio estava a acontecer por ali.

Com a chegada do trio sul-africano Batuk foram os poucos que conseguiram resistir ao ímpeto de levantar o rabo da relva sem ver de onde emanava tanta energia. Quando chegaram a “Call Me Naughty” já tinham o público mais que entregue. Contagiantes, coloridos, vibrantes, deixaram-nos a querer mais.

Para fechar o palco IC19 tivemos DotoradO’PrO, autor de “African Scream (Marimbas)”, cara conhecida que se tem juntado a eventos da Enchufada por diversas ocasiões. Ao seu DJ set juntou-se Kalaf dos Buraka, quase como um mémoire das Hard Ass Sessions. Estava mais que lançado o ritmo para a noite.

Os peruanos Dengue Dengue Dengue, dupla de Felipe Salmón e Rafael Pereira, abriram as hostes do palco Komba com a sua autoproclamada tempestade tropical de eletrónica psicadélica. Precisamente como uma febre, o seu ritmo foi-se espalhando pelo jardim da Torre de Belém, por sinal já bastante mais composto. Podemos dizer que também queremos que voltem? E depressa?

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MC Bin Landen, aguardado por muitos, trouxe o seu funk brasileiro, fez o sinalzinho do Ronaldo e usou e abusou do seu hit “Tá Tranquito Tá Favorável”. É seguro dizer que por esta altura já só se queria que chegassem os Buraka.

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Pouco depois das 22h vieram então os senhores da noite, tempo de fechar uma digressão mundial que esgotou salas de espetáculo em Bogotá, Berlim, Londres, Paris e Bruxelas.

Durante 2 horas de concerto viajámos 10 anos no tempo e fomos de Luanda a Lisboa sempre com uns “pózinhos” extra dos quatro cantos do mundo. Relembrámos clássicos como “Yah”, “Wawaba”, “Sound of Kuduro”, “Aqui para Voces”, “Voodoo Love”, “Tiroza”, “Kalemba (Wegue Wegue)”, “Tira o pé”, “Hangover (BaBaBa)”, ou as mais recentes “Vuvuzela (Carnaval)” e “Stoopid”. Relembrar todas estas músicas é relembrar também os artistas que têm vindo a colaborar com a banda nomeadamente M.I.A., Alo Wala, Sara Tavares, Deize Tigrona, Puto Prata, Saborosa, Petty, Karol Conka, Roses Gabor entre muitos, mas mesmo muitos, outros. Em reconhecimento disso mesmo os Buraka convidaram a cantora angolana Pongo Love para cantar “Kalemba (Wegue Wegue)” e o congolês Kaysha para dar o seu toque em “Komba”.

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Naquele que foi (pelo menos por agora) o último concerto da banda, saímos com um sentimento de entrega total mútua. Despedida nunca vai ser uma palavra fácil e consolamo-nos com a ideia de que os Buraka Som Sistema, de uma forma ou de outra, vão sempre deixar a sua marca e a primeira edição do Globaile é uma prova disso mesmo. No final desta década de percurso temos um panorama musical completamente modificado onde impera uma diversidade cultural notável e os Buraka foram sem dúvida responsáveis por grande parte desta mudança.

Da avó da Mouraria, aos suecos que acabaram de descobrir o kuduro, ao taxista que passou só para espreitar, ao casal que chegou há 7 anos de Moçambique, aos que apanharam o comboio da Amadora, todos se juntaram nesta festa e como foi bonito assistir a esta mistura.

Muito mais do que uma despedida foi uma sublime celebração de dez anos de música, de dança, de interculturalidade, de criatividade e de inovação. Foi uma verdadeira festa global e uma espreitadela ao futuro que tem tudo para ser promissor.

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Obrigado Buraka. Foram, são e serão sempre os donos do terreno.

Mónica Borges  

Acho todos os cães bonitos, gosto de festivais e ainda mais de imperiais.


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