Aqui há mouchão! E boa música, sim senhor – Bons Sons, 13 de Agosto
O Festival Bons Sons começou no dia 13 de Agosto, mas no dia 12 já houve movimento na aldeia, com a recepção ao campista. Timidamente, a aldeia começou a partilhar os bons sons com o mundo.
Na manhã de quinta-feira encontrámos, na estação do comboio de Tomar, a Margarida e o Bernardo, que aguardavam o transfer para a aldeia de Cem Soldos. A Margarida chega do Cartaxo e o Bernardo da zona Algarve. Vieram aos Bons Sons por vários motivos: para ver bandas como os Clã, Salto, Trêsporcento, Nice Weather for Ducks. “Gostamos muito de música portuguesa e compensa mesmo vir do Algarve para este festival”. Esperam encontrar um ambiente acolhedor e familiar numa aldeia que se fecha para se poder abrir a quem se quiser juntar à festa.
O pontapé de saída esteve a cargo dos Sampladélicos, no palco MPAGDP, pelas 14h. As manhãs são dedicadas à Música para Crianças, no auditório, numa iniciativa que visa juntar pais e filhos em torno da cultura e da música. Afinal, é de pequenino que se torce o pepino e as crianças de hoje são os festivaleiros de amanhã!
Benjamim – que já foi Walter e que se chama Luís Nunes – era o artista esperado no emblemático Palco Giacometti, transformado num simpático e acolhedor coreto, pelas 16h45. Com os teus passos, neste caso, os dele, acompanhou a tarde de muitos festivaleiros que ouviram pela primeira vez este autor português. Benjamim iniciou uma tour de 33 dias, com 33 concertos e que conheceu trigésimo primeiro dia na terra de Cem Soldos. Tivémos oportunidade de conversar com Benjamim, no interior da Igreja de São Sebastião e publicaremos, em breve, essa confissão, perdão, entrevista.
Para além de entrevistar os artistas em sítios inesperados como a Igreja, outra das coisas que o Bons Sons permitiu à equipa foi o jantar embalado pelo soundcheck do Manel Cruz. Sim, este era o nome mais aguardado por muitos dos festivaleiros – aldeões por 4 dias – que ali se deslocaram. É inevitável pensar em Ornatos Violeta, uma banda responsável por algumas das melhores músicas que se fizeram, em português, nos últimos tempos. E o que se faz em Cem Soldos, quando se ouve boa música portuguesa? Brinda-se com um copo bem atestado de Mouchão, uma bebida tradicional de Tomar, que podemos encontrar em vários pontos de restauração, na aldeia.
Júlio Resende foi outro dos nomes a marcar presença no palco Giacometti. O pianista hipnotizou o palco , com peças que nos fizeram acreditar, por momentos, que uma tal de Amália Rodrigues ecoava pela aldeia. O concerto aconteceu ao final da tarde e muitos foram aqueles que não arredaram pé até ao último minuto. Miúdos e graúdos, pois este Festival é sem dúvida pensado para todos. Vemos carrinhos de bebés, crianças pela mão e até cães pela trela. Há avós e netos e os jovens que nitidamente vivem pela primeira vez um fim-de-semana fora, no campismo. Imaginem este ambiente com o Barco Negro, pelas mãos do Júlio Resende – sim, são momentos privilegiados, aqueles que se vivem aqui, na aldeia de Cem Soldos.
Ainda não era meia-noite e já havia muita gente a caminhar para o Palco Eira, que apresenta uma configuração diferente daquela que encontrámos no ano anterior – a mudança foi mesmo para melhor, por permitir um acesso mais tranquilo ao recinto. E ouvíamos, aqui e ali, coisas como “Este gajo tem qualquer coisa, acho que é a voz. Não consigo deixar de gostar dele, de tudo o que faz”. Esse gajo, o Manel Cruz, subiu ao palco à hora marcada, meia-noite e meia, e teve a difícil tarefa de aquecer uma noite bastante fria, em Cem Soldos. “Mas que grizo”, gritou o Manel, a dada altura. E o que é que isso importava? O Manel estava ali, no palco, a dar um grande, grande concerto. Ainda não foi desta que descobrimos o porquê dessa canção tão triste – confirmámos o que já sabíamos: o Manel Cruz é um músico invulgar que, tal como o Rei Midas, transformava as músicas que faz em ouro.
A Xinobi foi entregue o fecho deste primeiro dia de festival. Foi um dia com bons momentos, mas que no geral foi sentido como morno por parte do público. O cartaz do segundo dia tem tudo para aquecer um pouco mais: o furacão, perdão, Manuela Azevedo, vai subir ao palco Lopes Graça e Carlão marca presença no palco Eira. Pelo meio, vamos descobrir novos músicos e bandas. Prometemos contar-vos (quase) tudo!