14 Ago 2019 a 17 Ago 2019

A herança que os Jungle deixaram, foi bem entregue aos Parcels – o primeiro dia no Couraíso 2019

A herança que os Jungle deixaram, foi bem entregue aos Parcels - o primeiro dia no Couraíso 2019

O anfiteatro natural da música está mais do que oficialmente aberto. Já desfrutámos de tardes solarengas na Praia Fluvial do Taboão, alguns já cumprimentam avidamente os vizinhos de campismo e outros ainda recuperam energias das noites do Sobe À Vila. O primeiro dia esgotou, ao ponto de nos sentirmos claustrofóbicos no recinto, mas mesmo assim valeu a pena.

Ontem foi evidente que os passes gerais e os bilhetes diários esgotaram. Há algumas edições que não se via tanta gente sentadinha neste anfiteatro natural, tão cedo. Os bracarenses Bed Legs fizeram as honras da casa e iniciaram as atuações no palco Vodafone. O vocalista Fernando Fernandes atuou no Sobe À Vila com outro projeto musical, os Ângela Polícia, que têm uma clara sonoridade rap low cost (#SorryNotSorry). Mas com os Bed Legs, a voz deste versátil artista é muito mais adequada.

Antes de aplaudirmos fervorosamente os Parcels, foi a vez de o fazermos a Julia Jacklin e Boogarins. A australiana não permitiu fotografias, mas encantou com a sua voz melodiosa ao pôr-do-sol. Para os festivaleiros que ainda estão a recuperar das noites da Vila, era tudo o que precisavam. Por sua vez, os brasileiros Boogarins continuaram pela noite dentro, num registo relaxado. Seria uma atuação mais adequada para se ouvir sentado, mas a multidão era tal, que foi algo impossível. Confessaram em entrevista que o Vodafone Paredes de Coura era paragem obrigatória, e dentro do género calmo de indie rock e neo psychedelia que representam, não esperávamos um concerto diferente.

Parcels, gratos e emocionados

Eu avisei que aqui em Paredes de Coura, a banda teria uma massa humana e conhecedora dos mesmos, muito superior em número em relação ao SBSR o ano passado. Os australianos do electropop não se podiam ter mostrado mais agradecidos durante o concerto. O guitarrista (e vocalista adicional) Jules Crommelin ainda nos pergunta:

I got my people in the middle, right?

E tinha, no meio, nas laterais e até cá atrás. Foi uma entrega total por parte de todos. Lembramo-nos frequentemente do entusiasmo que tivemos com Jungle o ano passado.

Num momento caricato da noite, ouvimos um som familiar mas descontextualizado. Ouvimos Jorge Palma a cantar (weird I know). Mas eis que o teclista Louie Swain aparece em palco com um rádio meio vintage. Vai passando de estação em estação, até chegar à típica distorção de rádio não-sintonizada. A banda dá vida aos instrumentos (principalmente ao sintetizador) e rapidamente passamos para uma explosão frenética de sons dançantes acompanhados de intensos efeitos luminosos.

Mais a meio da performance Julien e o baixista Noah Hill deliciam-nos com uma coreografia mecânica e sincronizada. Voltam a agradecer ao público e parecem incrédulos com a quantidade de gente que rumou a Coura. Terminam com Tieduprightnow, tema mais celebrado do concerto e cantado de cor e salteado pela plateia. Despedem-se com vénias atrás de vénias, sempre de olhar emocionado e grato.

The National, regresso ameno mas consistente (blame it on Parcels)

Regressaram, passado quase uma década e meia de terem atuado aqui ao lado das margens do rio Coura. Nos últimos anos foram sem dúvida das bandas norte-americanas que mais vezes pisou solo português. A sua legião de fãs sempre os seguiu fervorosamente e ontem não foi excepção. É impossível não reconhecer que o dia esgotou essencialmente por sua causa…

Como previsto intercalaram a atuação entre temas mais recentes e temas que tocam o público de forma mais especial como About Today, Fake Empire, Mr. November e I Need My Girl. Vanderlyle foi a última da noite, e foi cantada em uníssono por esta multidão de gente.

Não é justo comparar géneros musicais e afirmar que Parcels levam o cunho de melhor concerto da noite. Até porque gostos não se discutem, mas se fosse possível levavam. De todas as vezes que The National nos encantaram, provavelmente esta foi a que saímos menos vislumbrados, mas não deixou de ser um concerto consistente e emocionado para muitos.

No palco After Hours a animação com KOKOKO! foi garantida. A expectativa estava alta para a banda oriunda do Congo. Neste festival, a nível musical, não nos encantamos apenas por australianos ritmados, também nos perdemos de amores por congoleses frenéticos! Foram uma excelente escolha antes de Nuno Lopes e volto a reforçar o que disse no ano anterior: o ator e DJ a esta altura já deve considerar o festival a sua segunda casa. O público aqui, também já o toma como garantido.

Ainda temos 3 dias pela frente! A programação completa do festival está em musicfest.pt/festival-edicao/vodafone-paredes-de-coura-2019/ podes usar o teu ? para marcar com uma ⭐️ os concertos que não queres perder!

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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Mais sobre: Ângela Polícia, Bed Legs, Boogarins, Julia Jacklin, Kokoko!, Nuno Lopes, Parcels, The National


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