13 Jun 2014 a 14 Jun 2014

1º dia do ERP Remember Cascais 2014. Recordar? A sério?

1º dia do ERP Remember Cascais 2014. Recordar? A sério?

O que dizer do primeiro dia do Festival ERP Remember Cascais 2014?

Alguns dirão “Se o segundo dia for assim, nunca mais cá volto.” enquanto outros vão dizer “Amanhã já não venho…”. Pelo que vi, haverá certamente quem diga “Festival quê? Não me lembro… Talvez tenha bebido um pouco…”. Este que vos escreve diz:

O Rick Astley deu um grande concerto e a Scarlett Wilde, tivesse começado em nome próprio e talvez pudesse ser cabeça de cartaz.

Mas quem é a Scarlett Wilde perguntam alguns. Pois. Mas vamos por partes e começando pelo começo que é sempre um bom sitio para o fazer.

Ao chegarmos ao recinto do Hipódromo Manuel Possolo em Cascais encontrámos o que temíamos: na relva frente ao palco, pouco mais que uma reunião de amigos, tão parca era a audiência. Mas vá, ainda faltavam 10 minutos para o começo do primeiro concerto da noite, só podia melhorar.

Lena d’Agua e os Rock n’ Roll Station

21 horas em ponto e sobe ao palco Lena d’Agua e os Rock n’ Roll Station. O arranque não cativou. Lena d’Agua está longe do que as nossas memórias guardaram. Já devíamos saber disso mas convenhamos, não tem havido muito que nos lembre Lena d’Agua ultimamente.

O publico só se mostrou presente já o concerto ia na quarta música. “Sempre que o amor me quiser” é um clássico da artista que muitos dos presentes lembravam. Ainda assim, a noite parecia não querer arrancar e entretanto já Lena d’Agua avisava que só iria fazer 40 minutos de concerto em jeito de “não se preocupem, já estamos quase de saída”. Não fica bem.

Saltos, pequenos, e braços para a frente e para trás, acompanhavam uma voz que teimava em falhar e, ainda que isso se possa disfarçar, é preciso saber como. Lena d’Agua não soube.

Chega o adeus anunciado e aos gritos de “só mais uma” voltam ao palco de imediato com a frase feita: “São mais duas”. O encore é uma arte à parte. Há os bons e há os maus. Os bons fazem-se parecer sentidos, merecidos. Imaginam em que escalão se encontrou este?

“Olha o Robot”. Da música em si que não envelheceu bem (ouvia-se entre o público o cantarolar de um famoso anuncio a uma plataforma de vendas online) ao desinteresse de quem assistia, previa-se o pior para a música seguinte mas ao anunciar uma homenagem a António Variações (que agora todos tratam por “o António”) toda a gente parece acordar e o “Estou Além” transformou-se no ponto alto deste primeiro concerto. Sendo que era a última música, está tudo dito.

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Rick Astley. Um senhor em palco, um bom regresso.

Com 15 minutos de atraso sobe ao palco Rick Astley. A classe é outra e nota-se bem pela forma como a banda se apresenta. Espera-se um concerto com alguma elegância. Assim é, mesmo contando com algum linguajar mais atrevido.

Não há compasso de espera nem tão pouco tempo para vender o que ninguém conhece. “Together Forever” abre as hostilidades e o público percebe de imediato que não vai parar durante a próxima hora. “She Wants to Dance With Me”  é outro clássico que eleva as vozes no relvado e ouve-se bem alto “When we’re together we never fight, We’ve got better things to do tonight” tais como, ficar por aqui e ouvir o resto.

Elegante, com muito bom aspecto, interage constantemente com o público. Sabe que conta com ele, que precisa dele. “Are you hot and sweaty?” pergunta. Quentes e suados. A noite de Cascais estava boa para isso e como em Cascais fica sempre bem um toque de Sinatra, Rick Astley brinda a audiência com “When I fall In Love”.

O artista sabe bem o que lhe dá valor. “Sei que os homens presentes só vieram porque as namoradas ou mulheres os trouxeram para cá”. Talvez por isso seja hora de animação para todos os gostos, mostrando que o seu registo é amplo quanto baste, indo de Sinatra a Swedish House Mafia enquanto o diabo esfrega um olho e arranca um “Don’t You Worry Child” cantado a preceito. Cascais salta, grita, canta e entra em “party mode”.

“Ladies… give me some sugar now, shake that ass…”. Prepara-se um final em beleza. Tal e qual as mil e uma vezes que o ouvimos na Internet, num “Live RickRolling”, “Never Gonna Give You Up” e o público vibra verdadeiramente. Um senhor como já escrevi. Sabe quem vem a seguir e abre as portas: “Kim, get out of the jacuzzi, they’re waiting for you!”.

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E chega a Kim Wilde ao palco de Cascais.

A muito aguardada estrela da noite entra em palco. Há um entusiasmo inicial e de repente… Bem, aparentemente, grande parte do público não sabia bem ao que ia. A estrela de Kids In America já não tem 21 anos. Tem 53 e isso já faz alguma diferença. Quem cresceu com ela, cresceu com a imagem que ficou daquela altura e não com a imagem da Kim Wilde que nos últimos anos se tem dedicado à jardinagem. Mas como a imagem não é tudo…

Cambodia é a primeira música do concerto. Apresentada de forma emotiva, serviu igualmente para ditar as regras do que estava para vir. Aqui não é Kim Wilde quem faz o espectáculo. Participa e por vezes, atrapalha… A cantora inglesa apresenta a banda e toda a gente fica a conhecer Scarlett Wilde, a sua sobrinha, filha de Ricky Wilde, guitarrista também presente em palco e que acompanha a sua irmã desde o inicio da sua aventura musical.

Scarlett Wilde? Mas quem é Scarlett Wilde?

Scarlett, com 25 anos, tem substituído a sua tia mais nova, Roxanne Wilde, como back vocals de Kim, desde 2008 altura em que Roxanne passou a fazer back vocals para a estrela australiana Kylie Minogue. Também ela cantora, Scarlett já tentou a criação de uma banda, Scarlett Feeva, mas ao fim de alguns concertos em 2009 a banda acabou e tem desde então estado a preparar um album cujo primeiro single, Fight Temptation, foi apresentado em video em 2010.

De vestido preto, justo e curto, Scarlett é a personificação da juventude rebelde (ainda que lembrando o rebelde “old lady” motoqueiro dos anos 80 mas, não será essa a intenção?) que algumas das músicas que Kim Wilde canta exigem. À medida que as músicas avançam relembramos o lema “a imagem não é tudo”. Scarlett Wilde tem voz e atitude. Competências que se esforçam por salvar a noite.

Kim Wilde avança por caminhos que não os seus mas que sabem serem facilmente reconhecidos pela audiência. “A Little Respect”, musica que em 1988 se tornou hino na mão dos Erasure e que o publico português revisitou 10 anos mais tarde com os Silence 4, anima a audiência e fez finalmente com que se ouvissem vozes de coro vindas da relva. Voltou à carga do revivalismo alheio com “Forever Young” dos Alphaville mas aqui, nem a outra Wilde em palco a conseguiu salvar. A musica em questão merecia mais respeito.

A despedida inicial faz-se ao som de “You Keep Me Hanging On” outros dos grandes êxitos da cantora inglesa e que todos os presentes (agora cada vez menos que saiam do recinto uns quantos a cada musica tocada) pareciam saber de trás para a frente. Sai de palco à uma da manhã.

O encore esperado chega poucos minutos mais tarde e vem “a rasgar” ao som de outro tributo, desta feita a Alice Cooper. Não seria a primeira figura a associar a Kim Wilde mas entende-se a relação aos anos 80 e ao rock da época. “Poison” faz brilhar as guitarras e há na relva cabeças que abanam lembrando tempos de fartas cabeleiras que já lá vão.

O concerto não poderia acabar sem Kids In America. Talvez a mais emblemática das músicas que Kim Wilde gravou nas nossas memórias (não a mais sexy mas isso é uma questão de gosto). A banda esmera-se. Uma vez mais, Scarlett eleva o nível fazendo lembrar o vigor que a tia teve em tempos. Mas esta musica pede outra atitude, um rebelde diferente, de uma inocente doçura que não é fácil de simular. Ainda assim, seria uma grande oportunidade para Kim Wilde sair em grande se passasse “a palavra” à sobrinha e a deixasse brilhar. Infelizmente, não o fez.

Kim Wilde

Concluindo, uma noite em que a organização teria ganho se optasse por ter Rick Astley a fechar e o publico teria ganho se, antes de sair de casa, tivesse olhado para o espelho e pensado: Que bons anos foram os 80… Pena que já contamos com mais 30 em cima.

Pedro Rebelo  

Apaixonado pela internet desde 1994, blogga por vocação desde 2001, depois do devanio da juventude no direito licenciou-se em ciências da comunicação com especialização em comunicação, cultura e artes.


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9 Comentários

  1. António Carlos Nunes diz:

    Meu caro (não retive o seu nome) já deu para peceber que o sr. de música pouco ou nada percebe, se faz comentários desse nível (mediocres para não dizer pior)a uma artista Portuguesa com uma carreira que fala por si, de facto reconheçamos que a música em definitivo não é o seu território,portanto:os artistas estrangeiros é que têm qualidade é isso?, e não fazem com os braçinhos movimentos para cá e para lá,e portanto a voz da cantora Lusa que actuou já está gasta?, palavra de honra que a partir de hoje vou estar atento à sua carreira?, para indagar dos seus gostos e excelsas qualidades.Estou certo que voltaremos a “falar”.Tenha um bom domingo vá à missa que lá pode apanhar uma voz mais “limpinha” está?…

  2. Mariana diz:

    O senhor devia voltar a fazer o curso que diz ter pois de música não percebe um boi.

  3. Meu caro António Mendes, o nome é Pedro. Pedro Rebelo. Entendo que não tenha retido o nome. Ele só está escrito 4 ou 5 linhas acima do seu comentário, precisamente entre o texto que leu e o espaço para comentar, numa fonte de maior tamanho e em cor diferente. Percebe-se.

    Relativamente ao meu conhecimento de música, a ver se nos entendemos: Então, eu não percebo nada de música porque os meus comentários a uma artista com uma carreira que fala por si, não lhe serem favoráveis? O que significa que, por a dita artista ter uma carreira que fala por si (e Deusas, as coisas que essa carreira diz, convenhamos, por vezes mais valia que a carreira estivesse calada) eu, para entender o que quer que fosse de música teria que fazer um comentário positivo a um concerto que de positivo nada teve?

    E já agora, o argumento da portuguesa vs estrangeira também não me parece muito coerente. Se efectivamente leu o artigo (talvez não tenha lido e dai não ter visto o meu nome) reparou certamente que quando tenho criticas a fazer, não será certamente a nacionalidade do alvo das mesmas que ditará o tom.

    E veja, não é tão pouco uma questão de gosto pessoal (quando o é, declaro-o abertamente). O António gosta de Joe Satriani e eu não se eu for assistir a um concerto do dito e se for um bom concerto, serei o primeiro a dizer bem.

    Fico agradado que de agora em diante siga atentamente a minha carreira (e gostei particularmente da palavra de honra, coisa que infelizmente já pouco se usa mas que a mim muito me encanta). Gosto de ver o meu trabalho reconhecido quando merece e mais que isso, criticado quando é necessário.

    Quanto à missa, bem, quando vou é ao sábado sendo que o domingo reservo para temas mais mundanos, outras músicas.

  4. Cara Mariana, o que tem o meu curso a ver com bois? Os seus conhecimentos no campo da tradução dão garantias sobre o seu conhecimento de pecuária?

    Quanto ao facto de eu dizer ter um curso, estou disponível para lhe mostrar os respectivos certificados e diplomas mas sinceramente, acho que não será preciso pois não?

  5. Pedro Mendes diz:

    A Kim Wilde não cantou outras famosas, género “You Came” e “Never Trust a Stranger”? Tive pena de não poder ir, mas pelo que escreve não terei perdido grande coisa…

    • Caro Pedro Mendes, efectivamente cantou outras músicas mas não fiz referências a todas… Perder, perder… Bem, perdeu. A ideia ao vivo com a qual nos devemos habituar, que os anos nem sempre melhoram a qualidade do produto…

      • Pedro Mendes diz:

        Sim, em muitos casos é natural que assim seja. Um abraço e obrigado pela resposta.

  6. RM diz:

    Começo por dizer que gostei muito da Lena d’Agua, foi um bom começo e acho que tem uma voz maravilhosa. Não gostei tanto de Rick Astley, não gostei muito da atitude dele durante parte do concerto. Até acho que a cantora que o acompanhava, cujo nome não me recordo, esteve bem melhor. Quanto a Kim Wilde, sem dúvida a melhor actuação da noite, acho que foi sublime. Devo só recordar que o concerto começou com Chequered Love e não com Cambodia. Acho que a Scarlett tem muito talento, sai à família. Kim tem uma voz incrível, tenho grande respeito por ela e acho que está em óptima forma aos 53. Espero que tenha noção que Kim Wilde não atrapalhou ninguém visto que era o nome dela no cartaz.

    Mas isto hoje é em dia é um problema, um artista não pode ter mais de 30 anos de idade porque já é velho e o que é velho não presta. Esses artistas são os verdadeiros heróis e continuam bem melhores do que certas porcarias que aí andam a rebolar.

    • Caro RM, temos gostos e apreciações diferentes e acredito que isso é efectivamente forma de levar a cultura por bons caminhos. Discordamos quanto à prestação dos diversos artistas. Porém, concordo que a jovem que fazia os Back Vocals ao Rick Astley (Back Vocals e alcool segundo o próprio) tinha uma grande voz e quem sabe, um dia passará para a frente, por sua conta.

      Não discordo da forma da Kim Wilde aos 53. Já quanto à voz sou novamente a discordar. Sou fã da artista e é referência constante nas minhas interacções sociais referentes aos anos 80 mas sinceramente, acho que a voz não envelheceu da melhor forma.

      Não defendo a ideia de que os artistas novos são mais validos. Veja que por exemplo, sou particular apreciador de jazz e alguns dos meus músicos preferidos no campo, dos ainda vivos, já contam com avançada idade. E mesmo em registos mais genéricos do folk ao pop, tenho como referências de gosto nomes como David Byrne, David Bowie, Bob Dylan, Leonard Cohen entre outros. Nasci nos anos 70 e cresci com boa música. Idade não é um factor de decisão para mim neste campo. Garantidamente.

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