Yo La Tengo, muito mais do que uma cover band…
A banda de New Jersey já conta com 35 anos de carreira. Na quinta-feira estivemos no Hard Club no Porto e presenciamos porque são uma banda de culto indie. A idade aqui não é um posto, nem pesa.
N.R.: A reportagem fotográfica foi efectuada no Capitólio em Lisboa
Equivocados estiveram os que pensavam que a banda vinha somente apresentar o último álbum There’s a Riot Going On, lançado em 2018. Os norte-americanos mostraram ter bem assente a noção de que, no público, se encontravam fãs que os acompanham assiduamente, assim como aqueles mais saudosistas. Dessa forma, os Yo La Tengo ou YTL deram um concerto constituído por dois sets com um intervalo de 15 minutos entre cada um. E tivemos ainda direito a encore, numa actuação que durou quase 3 horas.
Podemos classificar o primeiro set como a parte mais calma e melodiosa do seu espectáculo. Aqui, demonstraram uma coesão e poder instrumental como poucas bandas o fazem. Damos particular destaque a She May/She Might do último álbum, interpretada pela baterista e pianista Georgia Hubley e a Black Flowers lançada em 2006 no disco intitulado I Am Not Afraid of You and I Will Beat Your Ass. Quando o baixista James McNew (e designá-lo como baixista é pouco, sendo mais apropriado o desígnio de Homem dos 7 instrumentos) ocupou o centro do palco com um imponente contrabaixo para tocar Black Flowers, foi dos momentos mais ternurentos da noite. Esta canção, não foi tocada no dia anterior no Capitólio, em Lisboa, mas com 15 álbuns na bagagem é fácil para uma banda destas não dar um concerto igual ao outro. McNew silenciou toda a audiência, algo que até então os YLT ainda não tinham conseguido fazer.
O início do concerto foi essencialmente para aqueles fãs com um ouvido mais afinado para a melodia do rock experimental. O frontman Ira Kaplan, é um homem de pouca interacção com a sua audiência, algo típico do shoegaze e justifica-se dizendo:
I like to keep it professional, so I won’t stand in the way of the performance
Não obstante, o segundo set demonstrou ser mais poderoso e com distorção q.b. E percebe-se cada vez mais a afirmação de Kaplan sobre não querer interromper a performance. Este tipo de actuação, não é de apenas mais uma banda alternativa que vem cá cantar uma dúzia de canções para animar a malta, mas sim de uma banda de peso que encara a música como arte magnânima, e essa sua arte esgota salas. Cá não esgotou, mas pouco faltou.
Depois do intervalo, damos destaque a Shades of Blue e For You Too, ambas comprovam o porquê do último disco ter sido tão aclamado pela crítica. Mas ainda viajamos até Painfull lançado em 1993 com as músicas Sudden Organ e I Heard You Looking, estas duas jóias da coroa dos Yo La Tengo têm um poder e vibração ao vivo que se tornaram intemporais.
YLT provaram definitivamente, que não são apenas uma banda de covers como outrora foram designados. Mas no encore presentearam-nos com 2 miminhos. Começaram com Gates of Steel, dos Devo, pelo meio ouviu-se Did I Tell You (tema original da banda) e no fim Kaplan diz-nos: “For our last song, we’ll gonna do the impossible and try to combine a lullaby with a disco song. Wish us luck”.
E assim tocaram a sua conhecida You Can Have It All, original de George Mcrae, numa versão mais acústica e onde a sorte não precisou marcar presença.
Quem veio à espera de só ouvir covers mais conhecidas como a Friday I’m In Love, dos The Cure, saiu do Hard Club desiludido. Quem veio por ter acompanhado o progresso da banda, certamente saiu mais satisfeito. Talvez seja caso para dizer que os Yo La Tengo se redimiram da perfomance no NOS Alive’18. Ou talvez o formato de concerto em nome próprio tenha sido mais adequado e enquadrado.