A viagem – Apresentação de Sangue Cássia de Sinistro
No dia 13 de Janeiro previa-se uma noite de combinações inesperadas em Lisboa. Era o que prometia o concerto único de lançamento de Sangue Cássia, novo álbum dos Sinistro, que, entre o punk-funaná dos Scúru Fitchádu e o seu doom metal, conseguiu esgotar a sala do Musicbox e reunir um público mais heterogéneo do que seria de esperar para um sábado à noite no Cais do Sodré.
Qual relógio, o concerto teve início à hora marcada e rapidamente fomos atingidos pela agressividade rítmica dos Scúru Fitchádu, cuja presença resultou de um convite arrojado dos próprios Sinistro. Este projecto, que mistura muito da estética punk com uma forte componente electrónica e os ritmos africanos mais tradicionais, como é o caso do funaná, tem dado que falar pela sua insólita sonoridade.
Sette Sujidade voltou a abraçar a tarefa de marcar todos os presentes, e entre os que estranham e os que entranham, ninguém lhes ficou indiferente. Temas como Ken Ki Fra?, Lobus e outros tantos quase a estrear, criaram espaço para algumas caras confusas, outras curiosas e, claro, uma plateia ligeiramente mais movimentada do que seria de esperar num concerto de uma banda de doom metal.
Os Sinistro subiram ao palco depois de um curto soundcheck, e foi a convite da vocalista Patrícia Andrade que embarcámos na segunda parte desta atribulada viagem.
Depois de uma longa tour com Paradise Lost por toda a Europa, o regresso a casa fez-se quase a par e passo do lançamento do terceiro álbum de estúdio da banda e este Sangue Cássia, acompanhado pelas projecções a que a banda já nos habituou, revelou, mais uma vez, a atmosfera densa de que se revestem.
O tom dos instrumentos relembra-nos que este projecto já se fez sem voz e facilmente transporta todo o público para novos locais, alguns até bem longe dali. As projecções adequam-se a cada um dos temas e tornam ainda mais teatral uma actuação já fortemente marcada pela presença da vocalista em palco. Para além de paisagens instrumentais e visuais, as palavras são acompanhadas por um turbilhão de movimentos, ora delicados, ora agressivos, que em muito contribuem para uma experiência que não nos sairá da cabeça tão cedo. Ouviram-se temas como Abismo e Lotus, integrantes deste novo trabalho, mas houve tempo para revisitar o Semente, com temas como Partida e Relíquia.
“Tenham uma boa viagem” referiu Patrícia, fecharam-se os olhos e viu-se corpo e mente dos presentes acompanhar o quinteto numa caminhada que, embora longa, nos pareceu curta. A longa viagem terminou então com o nosso regresso à Cidade, numa visita às raízes desta banda, tendo o seu desfecho entre fortes aplausos e sinceros agradecimentos numa casa cheia.
Edição: Daniela Azevedo