Valeu a pena a espera – Oioai no Musicbox
A banda regressou a um palco lisboeta dez anos depois para apresentar o último disco, X, com convidados especiais.
Perdoem-me qualquer coisinha, mas esta não é uma banda qualquer e este não é um disco qualquer. Portanto, como devem imaginar, este não foi um concerto qualquer. É que esta é a banda por quem esta que vos escreve se apaixonou aos 14 anos, aquele primeiro amor de verão, sabem? De ir a festivais duvidosos super cedo para poder vê-los na frente, de ir timidamente pedir um autógrafo no final, de passar meses e meses agarrada às canções do primeiro disco como se não houvesse mais música nenhuma para ouvir no mundo. Esse tipo de amor. Na altura, os meus Oioai já não eram os Oioai originais, vim a descobrir mais tarde. Na noite de 3 de março, 11 anos depois desse verão, a formação inicial (e um novo membro) subiu ao palco do Musicbox, em Lisboa, com convidados, para apresentar o último disco, X (o primeiro desta formação, nove anos depois do último lançamento da banda). Entenderão então, espero, por que é que – creio que para todos os envolvidos – o concerto de ontem foi particularmente especial.
Sim, já não são “uns putos irreverentes”, hoje são pais de família e trocaram as canções de amor sonhadoras por temas de homenagem a quem já não cá está ou ao tempo que passou. Mas ainda lá está tudo o resto: o rock and roll apurado, os refrães que puxam pela nossa garganta e uma sensibilidade notável nos momentos mais calmos. Ela Melhora e Pintar o Mar, os dois primeiros singles do novo disco, abriram o concerto tal como abrem o LP: como um declarar de intenções para o que aí vem. Há desde logo braços erguidos e vozes na sala cheia a acompanhar os temas. Mesmo tendo sido apenas lançado há uma semana, foram vários os momentos do disco a serem acompanhados pelo público. Voz Que Eu Ouço, Verde e Estão Iguais também tiveram direito a coros, ainda que tímidos. Tocado do princípio ao fim, X cimenta a posição de melhor disco da banda que além dos originais Pedro Puppe, na voz e guitarra, João Neto, na guitarra, Bernardo Barata, no baixo, e João Pinheiro, na bateria, conta agora também com João Gil (You Can’t Win, Charlie Brown, Diabo na Cruz), que se divide entre a guitarra e as teclas, e que acaba por oferecer uma maior densidade aos temas. Exemplo disso é a melodia ao piano da bela Sozinho, que aqui contou com a voz do convidado Tiago Bettencourt.
Sempre prontos a aumentar o volume, temas como Um Homem e Terra Deserta relembram-nos que está aqui uma belíssima banda de rock sem rodeios, sim senhor. E quando se voltam para o reportório anterior, também na plateia a temperatura sobre exponencialmente. David Jacinto (TV Rural) ofereceu voz e saxofone à emocionante Pertencer (tema que a banda gravou com os Xutos & Pontapés para o projecto Unidos Para Ajudar, em 2008), e Ponto Fraco, do segundo álbum Pela Primeira Vez não falhou na missão de pôr toda a gente a dançar. No encore, Que Se Foda puxou pelas vozes do público e Trinta Pés e Jardim das Estátuas saciaram a fome dos que, como eu, há anos que esperavam poder voltar a cantá-las. E claro que tínhamos de acabar todos a cantar que valeu a pena.
É reconfortante, ver que aquilo de nunca ser tarde para sermos o que poderíamos ter sido afinal não é só um clichê. Este regresso é prova disso, eles sempre sonharam fazer este disco e fizeram-no. Nós sempre sonhámos poder revê-los e podemos agora fazê-lo. Como disse Pedro Puppe já no final da noite: «não consigo dizer mais nada sem ser obrigado». E gostava de acabar com um pedido para que não tenha de esperar tanto tempo para os ver outra vez, mas a verdade é que depois disto já não lhes posso pedir mais nada.
Texto: Teresa Colaço
Edição: Daniela Azevedo
Fotos: Nuno Pires