Último Dia de Rock in Rio: Dois Festivais Num Só
No último dia de Rock in Rio, com o recinto lotado e um sol abrasador, o festival parecia dividido em dois: de um lado, nomes mais ligados ao pop como Soraia Ramos, Camila Cabello e Doja Cat; do outro, música urbana brasileira, com Veigh, MC Cabelinho, Luísa Sonza e Pedro Sampaio.
O palco Tejo deu início às festividades com Danni Gato, que encantou com a sua performance enérgica e cativante e foram bastantes os festivaleiros que chegaram cedo à cidade do Rock para ouvir o DJ algarvio.
Às 16 horas, o palco Mundo recebeu Aitana, a sensação pop espanhola. A artista, que ganhou notoriedade em Espanha após a participação no programa de talentos ‘Operación Triunfo’, trouxe um espetáculo coreografado digno de uma estrela pop.
A sua simpatia e energia contagiante fizeram deste um dos momentos altos da tarde. O momento mais alto do concerto de Aitana foi mesmo Mon Amour, um remix da música de Zzoilo, que passa regularmente nas rádios portuguesas.
Logo após Aitana, foi Soraia Ramos que subiu ao palco Galp. A cantora luso-cabo-verdiana, com a sua voz poderosa e presença de palco carismática, conquistou uma boa fatia de público. Com Trompete, Nenny subiu ao palco, criando um grande momento.
Ao fim da tarde, o palco Mundo recebeu Ne-Yo, um dos maiores nomes do R&B mundial. O concerto do cantor norte-americano foi um desfile de clássicos. Ne-Yo entrou com tudo, com Closer, Because of You e Champagne Life. A temperatura estava alta tanto na colina com vista para o palco Mundo como no palco.
Ne-Yo canta, dança e veste-se como há 10 anos. O público vibrou e dançou com Let Me Love You, música do filme do Super Mario, e, depois, tivemos direito a Take a Bow, de Rihanna, e Irreplaceable, de Beyoncé.
Ne-Yo brincou várias vezes com os seus sucessos: “Do you know this one?”, lançado quase em tom irónico antes de Miss Independent. No fim do concerto, tivemos direito a uma versão .mp3 de Pitbull, provando ser mesmo o Mr. Worldwide, com Time of Our Lives e Give Me Everything, que levaram o Parque Tejo a saltar e a dançar como se não houvesse amanhã.
MC Cabelinho trouxe o funk carioca para o palco Tejo e animou a multidão. O público dançou ao som de Só de Marola e Loucura. Com a sua energia contagiante, MC Cabelinho fez o recinto vibrar quando cantou os seus versos na Poesia Acústica 6 e 13, mostrando porque é que é considerado um dos nomes mais promissores do funk brasileiro.
Camila Cabello tinha tudo para ser a grande estrela da noite no palco Mundo. A ex-integrante do grupo Fifth Harmony trouxe um espetáculo muito trabalhado e estudado ao detalhe. Faz lembrar o concerto de Rosalía, mas em mau.
Muito focada na câmara e tratando o concerto como se de um videoclipe se tratasse, Camila parecia distante. O concerto trouxe C,XOXO, o seu novo álbum que será editado a 28 de junho. A atuação pareceu mesmo um ensaio para algo maior, mas, por enquanto, não parece ter pernas para andar.
Camila Cabello tem um cenário digno de Hollywood, com um halfpipe, um baloiço, um escorrega e um tema de parque de diversões. Por volta do meio do concerto, chegamos ao momento “Portugalidade” do concerto de Camila, em que pareceu quase um robô a misturar termos portugueses e experiências portuguesas. Foi basicamente como ir à Rua Augusta em pleno 2024. Bebeu um Sumol, comeu um pastel de nata e falou em Cristiano Ronaldo.
Os pontos altos da noite foram mesmo Havana e Señorita, os seus maiores êxitos. Mas, quando os cantou, já muitos fãs saíam da colina do palco Mundo.
Nota: Camila Cabello não permitiu fotografias pela imprensa.
No palco Galp, ali mesmo ao lado, já eram muitos os que estavam de plantão para ouvir Luísa Sonza. A verdade é que a cantora é um dos maiores nomes da música brasileira, e merecia o palco principal e não um palco secundário, até porque foram muitos mais os fãs a ouvir Luísa até ao fim. Luísa Sonza foi praticamente uma cabeça de cartaz antecipada.
O concerto da brasileira abriu com Não Sou Demais e MODO TURBO, e o ritmo do concerto começou logo lá em cima. A plateia tinha as letras na ponta da língua. Quando tocou a introdução de Chico, ouviram-se muitos gritos.
A artista emocionou-se e cantou a música com os olhos marejados, visto que é uma música que escreveu para o seu ex-namorado, tal como Penhasco2, que cantou depois. O ritmo do concerto voltou a subir e ninguém parou de dançar em sentaDONA (remix) s2, Sou Musa do Verão e Cachorrinhas. Despediu-se dos fãs em êxtase com Lança Menina.
Para encerrar o palco Mundo, Doja Cat trouxe toda a sua irreverência e talento. A artista norte-americana de 28 anos fez a sua estreia em Portugal e teve uma performance de autêntica super estrela, até porque não precisou de palavras forçadas em português para conquistar o público. A plateia demorou a chegar ao concerto de Doja porque ainda estava dividida entre Luísa Sonza e ProfJam, que atuaram minutos antes.
O concerto começou com Acknowledge Me, do último álbum que lançou, Scarlet 2 Claude. Acompanhada por uma banda talentosa e um grupo de vocalistas que deram uma nova dimensão à discografia hip hop da rapper. Com sangue falso no nariz, já quase uma tradição nos concertos da norte-americana, cantou Get Into It (Yuh), e teve direito a um coro em uníssono no refrão.
Foi um concerto para quem é mesmo fã e cantou algumas das músicas mais subvalorizadas dos álbuns, como Piss e Ok Loser. Músicas como Need To Know e Streets foram hits no TikTok e não só, e tivemos, mais uma vez, direito à atuação do coro do público do Rock in Rio.
Para encerrar a noite, Pedro Sampaio tomou conta do palco Galp e ficou com o trabalho de fechar o recinto até 2026. O DJ e produtor brasileiro fez o público dançar sem parar com a sua mistura de funk e eletrónica e até chamou Luísa Sonza para cantar ATENÇÃO, a música que junta os dois brasileiros.
Pedro Sampaio mostrou porque é um dos maiores nomes da música eletrónica no Brasil, encerrando a noite de forma apoteótica com músicas como Cavalinho, que fez o público movimentar-se em massa numa espécie de comboio à brasileira, e Dançarina.
