Tanto mar, tanta música, tanto mundo – 1º dia do FMM Sines
Após uma pausa de quatro anos, as ruas de Porto Covo voltaram a encher-se com as energias cósmicas do Festival de Músicas do Mundo (FMM), que vai este ano na sua 16ª edição e volta a ter uma primeira parte na pequena vila alentejana.
É de facto em Sines que, todos os Julhos, as mais insperadas surpresas da chamada “world music” se revelam, reunindo num mesmo espaço ritmos de todos os continentes. Mas a deixa de entrada para a edição de 2014 do FMM foi dada nas ruas de Porto Covo, onde além de um mítico pessegueiro há bons petiscos para degustar à beira-mar. Até domingo é no largo principal de Porto Covo que o FMM enche as medidas aos locais, aos turistas, e a quem faz a romaria habitual de se deixar contagiar pelos ritmos de outras paragens longínquas – seja-se um “frique” de chinelo e tereré, seja-se um melómano de férias a aproveitar as boas energias deste festival.
E foi com energias e cores vibrantes que arrancou ontem esta edição do FMM, com uma fanfarra do Rajastão a percorrer a rua principal de Porto Covo ao fim da tarde. A Jaipur Maharaja Brass Band é tão colorida como contagiante, e a autora deste texto quase esteve a largar o percebe que ia levar à boca para se juntar à parada, seduzida pela celebração musical e pelas danças das bailarinas. Um cheirinho a tradição e folclore indianos, a abrir caminho para o palco onde, logo de seguida, actuaria Custódio Castelo, mestre da guitarra portuguesa. Solista de excelência, Custódio Castelo é dos poucos tocadores de guitarra portuguesa que a dada altura se levanta e a toca com a mesma energia de quem toca guitarra eléctrica. É música portuguesa, sim, tão harmoniosa e introspectiva como, de repente, há dedilhares vibrantes e espaço para outras influências. Custódio Castelo fez-se acompanhar por Shina, jovem fadista luso-francesa, misturando fado com Edit Piaf, e mostrando como o fado, apesar de o reclamarmos nosso, é uma autêntica música do mundo.
Os grandes protagonistas da noite vieram da Bretanha, propondo ao público que enchia o Largo do Marquês de Pombal uma inesperada fusão entre música tradicional bretã e beatbox, hip hop e música experimental. Krismenn – músico bretão – e AleM – vice-campeão do mundo de beatbox humano em 2012 – arrancaram aplausos e gritos à plateia, contagiada pela sua energia. Quem diria que numa só boca pudessem caber tantos sons?
O primeiro dia do FMM terminou, tal como foi iniciado, com sons do Rajastão, Índia. Bachu Khan trouxe a influência da música cigana e, com a sua banda, trouxe as emoções do amor, das festas tradicionais e dos casamentos e folclore indianos. Intérpretes de excelência, fizeram os corpos dançar, embalados pela noite quente e pelas vozes hipnóticas.
A primeira noite foi, ainda assim, tranquila. Haverá uma semana pela frente e há que poupar as energias. Hoje o FMM prossegue com músicos de Israel, Irão, Anatólia, Turquia e Madagáscar. Sim, o mundo todo cabe aqui, numa vilazinha à beira-mar plantada.
Fotos: Mário Pires / C. M. Sines