Special Romance entre Fontaines D.C. e Lisboa
Na passada chuvosa sexta-feira de finados defuntos, os irlandeses Fontaines D.C. apresentaram-se em palco no Campo Pequeno para a segunda apresentação no nosso país, primeira a solo. O público lisboeta, mas não só, dados os muitos e muitos dialetos ouvidos a circundar a arena da capital, correspondeu em massa à chamada, com o recinto a transbordar de corações à espera dos Fontaines D.C.
Mesmo depois da espera de mais de 30 minutos após a atuação da banda de abertura, os Wunderhorse, as espectativas dos milhares de fãs que desde o início ao fim cantaram e dançaram as canções da banda Irlandesa, não foram defraudadas. A banda irlandesa deu um concerto eficiente e certeiro, em que se mostrou segura e sem nervosismos, embora com parcas interações com o público (duas breves vezes, na realidade) e com pouco espaço para improvisações criativas no calor do momento. Talvez houvesse a antecipação de um outro compromisso com o público, sobretudo após a digressão norte-americana com os Arctic Monkeys. Ficou a sensação que não se deixaram ver na íntegra, em contraste com o palco à alemã em que se tocaram, despido de panos e de grandes artifícios ou esconderijos, mas onde o coração de “Romance” brilhava no alto. Seja por crença ou por formato escolhido, ambicionávamos um romance com maior intimidade: fundamental para os vermos como “the next big thing.” Mesmo assim, há uma sedução neste novo álbum e neste projeto, e que apesar de se distanciar cada vez mais do post-punk, atrai e inquieta, com as suas múltiplas ramificações musicais.
Nos 40 minutos que antecederam a primeira noite da digressão europeia dos Fontaines D.C. para a apresentação de “Romance”, 4º álbum da banda saído no final do verão deste ano, apresentaram-se os Wonderhorse. Este grupo de rock alternativo de Newquay no Reino Unido tocou 9 faixas dos seus dois álbuns, Cub e Midas. Mesmo com uma atuação sóbria, mostraram porque foram escolhidos para abrirem, por exemplo, para os Pixies ou os Foals.
A abertura do concerto dos Fontaines D.C. fez-se com a descida de um gigante pano ao som da faixa com o mesmo nome do disco que deu o mote para este regresso a Portugal – “Romance”. Esta exaltou triunfalmente os irlandeses, apesar da carga emocional da melodia.
Cenário despojado, mas cheio das cores primárias e fluorescentes da capa de “Romance”. Este foi, sem surpresas, o álbum mais tocado, com apenas “Desire” e “Motorcycle boy” a não constarem do alinhamento da noite. De resto, a setlist foi muito semelhante à apresentada em Parede de Coura este ano. Das 19 canções tocadas em Lisboa apenas “Sundowner”, “Bug”, “Horseness Is the Whatness” não foram apresentadas em Paredes de Coura. Destaque para “Jackie down the line” onde o moche das primeiras filas começou a aquecer e “Sundowner” cantada pelo guitarrista Conor Curley, com Grian Chatten a remeter-se a back vocals, tendo finalmente espaço para apresentar a banda e chamar pela libertação da Palestina. “Televised mind”,“Big”, “Here’s the thing” e “Bug” foram grandes momentos da noite, mas foi “Horseness Is the Whatness” que fez o gáudio dos groupies apaixonados, com o coração de Romance a fazer de céu estrelado, iluminado em contraluz por uma bola de espelhos. O concerto acabou, como não podia deixar de ser, com a “Favorite” de todos os fãs.
Ninguém arredou pé para o encore, até porque ainda não tinha sido tocada a “Starburster”! Sem surpresas, após “In the Modern World” e “I Love You”, o espetáculo foi finalmente dado por terminado com os gritos guturais de “Starburster”. Os Fontaines D.C. mostraram bem porque poderão chegar ao olímpio musical e que já possuem uma boa base de fãs, ficando a dúvida se a atitude mais laissez faire, laissez passer pertence ao espetáculo e ao espírito do velhinho punk ou não.
Nota: a banda não autorizou a reportagem fotográfica da nossa equipa. Créditos da foto de capa @joaopadinha / @everythingisnewpt
