Savoir faire elementar: Patrick Watson no LX Factory

Savoir faire elementar: Patrick Watson no LX Factory

Três anos após a presença no então chamado Vodafone Mexefest, Patrick Watson reencontra-se com o público português numa mini digressão de quatro concertos iniciada a 2 de dezembro na Lx Factory. Na memória fica uma bela festa recheada de surpresas e alguns percalços.

Compreensivelmente previsto para iniciar às 21h00 – afinal a noite de domingo não é a mais propícia para as noitadas lisboetas – o começo do espectáculo viria a atrasar-se cerca de meia hora dando tempo para que os compatriotas La Force fossem recebidos por uma sala recetiva, ainda que bastante vazia, brindando-nos com uma mão cheia de canções, com a voz forte de Ariel Engle (Broken Social Scene) a reforçar a boa impressão deixada na participação nos concertos de Feist no passado mês de setembro.

Engle manteve-se no apoio vocal, quando perto das 22h00 o dono da casa e a sua banda subiram ao palco. O aviso à entrada acerca da convidada especial faria os fotógrafos ficarem particularmente atentos para um regresso aos disparos lá para a décima canção. Não seriam dez mas treze as músicas do alinhamento inicial com honras de abertura para Love songs for robots, do álbum homónimo de 2015. Após Places you will go, também desse álbum, e Dream for dreaming, um Watson de gargalhada fácil e franca saiu por debaixo do gorro, havendo lugar à troca de mimos entre músico e fãs com sonoros “missed you” lançados de ambos os lados a anteceder um dos momentos altos da noite: a interpretação do ainda não editado em álbum mas já sobejamente conhecido do público, Melody Noir acompanhado por instrumentos acústicos e os intérpretes dispostos num harmonioso semicírculo que se repetiria ao longo na noite.

A par de temas novos, o alinhamento incluiu uma boa parte de canções de Love Songs for Robots mas foram também visitados Close to Paradise, Adventures in Your Own Backyard e Wooden Arms.

A cenografia concebida para o efeito, com lâmpadas incandescentes assentes em painéis giratórios, a par do restante desenho de luz ajudou a conferir ao concerto o ambiente intimista que a interpretação melancólica bem como o repertório do músico canadiano requerem.

O público estava há muito completamente rendido quando, após treze temas, Ana Moura subiu a palco para o duplo tributo da noite. Com a interpretação de El Payande em duo com a fadista, Patrick Watson marca uma vez mais o seu afeto por Portugal ao mesmo tempo que rende uma belíssima e merecida homenagem à grande Lhasa de Sela, desaparecida em 2010, que celebrizou este tema.

A este momento especialíssimo, com a banda visivelmente agradada com a experiência, seguiram-se Into Giants e Broken a dar continuidade ao que chamaríamos “momentos altos do espetáculo”.

Watson encontrava-se sentado ao piano para interpretar Lighthouse, quando a técnica e a ironia se aliaram para trazer o bizarro e inesperado a um concerto já de si especial. Com o público a acompanhar vocalmente a canção, a sala fica inesperadamente mergulhada em escuridão e o encontro junto ao farol transforma-se em “blind date”. Após uns instantes de apreensão TODAS as lanternas dos telefones se acendem, iluminando de novo o recinto. Às provas já dadas de profissionalismo e talento, Patrick Watson junta a criatividade e iniciativa e faz face à sua comoção envergonhada. Empunhando um megafone, desce do palco bem menos iluminado que a plateia, circunda toda a área e, acompanhado por Joe Grass, interpreta Man Under The Sea, ambos submersos pelas vozes do público.

Quando as luzes se voltam a acender verifica-se alguma descoordenação entre os músicos em palco e o duo ainda no meio do público. O cantor afirma então que esta seria uma forma demasiado estranha para acabar o concerto e pede licença: “can I ask somebody a question and be right back?” – Regressa de imediato, acompanhado de novo por Ana Moura para um improviso que correu de forma brilhante.

Entre os dois temas finais há ainda tempo para uma declaração de amor à cidade e, com a “setlist” em desalinho, o espetáculo fecha com chave de ouro: Big Bird in a Small Cage acaba por soar a um perfeito “até já, Lisboa!”, com as cidades de Coimbra, Guimarães e Porto à vista.

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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