19 Mai 2016 a 29 Mai 2016

3º dia do Rock in Rio: com Korn ou sem Korn o rock mora aqui

3º dia do Rock in Rio: com Korn ou sem Korn o rock mora aqui

Mais um dia de Rock in Rio e entramos no fim-de semana que assinala a despedida da edição deste ano do Rock in Rio Lisboa 2016.

A tarde começa com menos gente mas com as habituais filas para os brindes que nem a ameaça de chuva faz abrandar. As t-shirts de Korn e os coletes de moto-clubes não deixam margem para dúvidas: estamos na sexta-feira mais “pesada” do RiR com uma noite que promete arrasar e pôr a classe feminina a suspirar por Johnny Depp nos Hollywood Vampires.

No palco Vodafone o final de tarde agitou com os portugueses Glockenwise, de Barcelos, que vieram apresentar o seu mais recente álbum “Heat”, a confirmar uma certa “negritude” do seu rock que, há nove anos, os juntou e os fez crescer à volta desta paixão musical comum. Os temas ‘Scumbag’ e ‘Bad Weather’ são bem a prova de que a banda não se preocupa em florear os seus dramas do presente.

glockenwise-19Vê as fotos dos Glockenwise no Rock in Rio 2016

Ainda estávamos no palco Vodafone quando a chuva se começou a intensificar à medida que os Metz avançavam com o seu concerto. Os canadianos, de Toronto, orgulham-se de dar concertos e dizerem, a seguir, que não estão cansados nem o vocalista afónico. Ao vê-los perguntamo-nos como é isso possível tal é a atitude aguerrida que assumem. O grupo grita que se farta e mostra que depois da passagem prévia por Portugal na ZdB lhes ficou a vontade de continuarem a “partir tudo” por onde passam.

A dada altura, com as guitarras a ferverem em ‘Spit’, fica o receio de que algum deles se dispa e faça loucuras ainda maiores. Provavelmente não as fez por este ser um festival familiar porque, de outro modo, percebe-se que a vontade de quebrar regras está lá toda. ‘Swimmer’ dá continuidade à loucura mas no palco EDP Rock Street a batida remete para o calor brasileiro.

20160527201037-02_Metz-0037Vê as fotos dos Metz no Rock in Rio 2016

“É devagar, devagarinho” que a tarde se faz na EDP Rock Street

O baixista brasileiro Ciro Cruz chama «todos cá para a frente» para entrarem no espírito da música nordestina que o “lusco-fusco” e ainda a pouca confusão convidam a desfrutar. ‘Baião do Funk’ foi a primeira de uma tarde que contou com presença portuguesa em palco. Se a música nordestina pede acordeão, eis que o primeiro convidado foi o acordeonista português João Barradas a “ajudar à festa”. A noite ainda se faria com Leo Gandelman no seu tributo a Tom Jobim para deliciar os fãs que admiram o embalo da ‘Garota de Ipanema’ e das ‘Águas de Março’, por exemplo.

A boa surpresa dos Rival Sons

No Palco Mundo às 20h30 a noite tinha tudo para correr bem. Os californianos Rival Sons trouxeram um rock poderoso a uma noite para a qual as expectativas eram altíssimas. O álbum “Pressure and Time”, de 2011, foi o que os consagrou e daqui ouvimos ‘Pressure and Time’, em alta rotação com Jay Buchanan a entregar-se completa e honestamente ao público português e, seguramente, a merecer muito mais quem o aplaudisse. O guitarrista Scott Holiday esbanja estilo e confiança e tem razões para isso. «Perdoa-te e perdoa os outros senão vais andar cá a perder o tempo», diz-nos o cantor antes do intenso ‘Where I’ve Been’.

‘Open My Eyes’ é mais uma que desperta a atenção do público. Uma palavra também para o baterista, ‘Miley’, também ele cheio de atitude e a fazer inveja aos “air drummers” da noite com a sua bateria toda moderna a resplandecer bling bling.

Houve tempo para apresentação de alguns temas de ‘Hollow Bones’, álbum com edição marcada para 10 de junho.

‘Keep on Swinging’, o tema que abre o segundo álbum da banda, “Head Down”, foi o escolhido para fechar a atuação de verdadeiro rock – em música e atitude. Embora seja um som clássico, nunca chega a soar nostálgico e isso é fantástico neles.

rival-7Vê as fotos de Rival Sons no Rock in Rio 2016

Korn ou a pipoca que não estalou

Talvez mais do que propriamente os cabeças-de-cartaz Hollywood Vampires, as fichas apostavam fortemente nos Korn. Veteranos nas andanças do nu metal, com 35 milhões de discos vendidos e uma carreira que lhes granjeia fãs desde os anos 90, estava tudo de olhos postos no palco quando o inesperado aconteceu: uma… duas… três tentativas de levar um espetáculo por diante que acabou por sair frustrado, embora o público muito pacientemente tivesse esperado e aguentado os sucessivos atrasos. Previsto para as 22h00, o concerto começou já cerca de um quarto de hora atrasado, contrariando aquela que tem sido a tendência do festival, e os problemas técnicos da banda obrigaram a uma primeira paragem pouco depois de tudo começar. Nova tentativa e o público a saltar mas não durou muito. Jonathan Davis, o vocalista, ainda sorriu e tentou fazer com o polegar o sinal de que algo não estava bem e ficou claro que o público tem os Korn em grande conta.

Mais de uma hora depois do anunciado, a banda fez uma terceira tentativa de atuar, com grande empenho dos músicos e maior entusiasmo do público, mas nada viria a correr bem. Depois de um arranque auspicioso, quando os Korn acabavam de passar para o meio da música ‘One’, cover dos Metallica, o som voltou a apagar-se. Apesar da grande paciência demonstrada, muitos fãs aborreceram-se e acabaram por ir embora.

20160527232151-03_Korn-0256Vê as fotos dos Korn no Rock in Rio 2016

E se o brilho de Hollywood salvasse a noite?

Coube aos Hollywood Vampires a difícil tarefa de salvarem a noite mas o ânimo já se tinha quebrado.

A atuação começa com imagens projetadas nos ecrãs de grandes figuras da história da música já desaparecidas, como Jimmy Hendrix ou John Lennon, por exemplo. Se nesta noite já tínhamos usado a expressão “rock clássico” para falar do início no Palco Mundo, eis que a mesma se repete para a banda que fecha o pano neste palco por hoje. E convém que os mais jovens que hoje também marcaram bastante presença, saiam do parque da Belavista a saber o que é lá isso do rock clássico, enquanto género (outrora uma época no tempo), pois se rock até nem tem sido o que mais lhes chega. Algures entre os anos 60 e 70 o rock como hoje o conhecemos, começou a ganhar vida nas composições de Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd ou Led Zeppelin, por exemplo. Versões para temas populares desses tempos há com fartura mas nada como ouvi-las pelo Hollywood Vampires que trataram bem o legado dos seus predecessores nesta noite de sexta-feira no Rock in Rio.

A banda que reúne Johnny Depp, Alice Cooper e Joe Perry atraiu muitos rockeiros de primeira geração e, não fosse a chuva que acabou por levar embora muita gente, e este concerto poderia ser a banda sonora para um grande passeio noturno a furar as paisagens desérticas da América ao volante de um Corvette. A homenagem aos seus “dead drunk friends” começou com ‘Raise the Dead’ e ‘Got a Line’.

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De recordar que a banda nasceu como forma de homenagear um famoso grupo boémio que percorria nos anos 70 do século passado, os bares de Los Angeles. Faziam parte do grupo Ringo Starr, Keith Moon, dos The Who, John Lennon, Nilsson, John Belushi, Marc Bolan ou… Alice Cooper. Em 2015, Cooper juntou-se a Joe Perry e Johnny Depp para recuperar em palco o espírito dessas lendas. O álbum dos Vampires, homónimo, lançado no ano passado, apresenta precisamente versões para os temas de “amigos” do rock. Cooper, de 67 anos, mantém um registo vocal único e sai-se bem durante o espetáculo, no qual deixa o seu carismático carimbo de alma vampírica.

‘Whole Lotta Love’, dos Led Zeppelin, surge aqui num ritmo igualmente acelerado, com as guitarras a contorcerem-se todas e Cooper a destacar-se.

‘5 to 1’ e ‘Break on Through’ compõem o medley que se ouve a seguir. As canções outrora amadas saíram do armário e estão na moda outra vez.

Johnny Depp, ao contrário do que talvez muita gente esperasse, esteve mais discreto, só se atrevendo na frente de palco e em primeiro plano, escassas vezes e sem grande interação com o público.

Os fãs dos Aerosmith puderam, finalmente, ver Joe Perry voltar a tirar todo o partido do facto de estar em palco, ao invés da atitude “mas quando é que isto acaba” que, mais que não seja, conseguimos ver nas últimas atuações ao vivo gravadas e partilhadas pela Internet nestes últimos anos. ‘Rebel Rebel’ e ‘Bad As I Am’, já das últimas do concerto, mostram isso mesmo.

É certo que, deles, nem o álbum nem o concerto vão figurar nas listas premiadas de 2016 mas lá que estiveram bem, não podemos dizer que não.

 

Atualização: segundo dados da organização,  no terceiro dia de RiR 2016, estiveram 56 000 pessoas na Cidade do Rock.

Daniela Azevedo  

Jornalista, curiosa sobre os media sociais, viciada em música, gosta da adrenalina do desporto motorizado. Amiga dos animais e apreciadora de dias de sol. Acha que a vida é melhor quando há discos de vinil e carros refrigerados a ar por perto.


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Mais sobre: Ciro Cruz, Glockenwise, Hollywood Vampires, Korn, Léo Gandelman, Metz, Rival Sons


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