Riverside + Mechanism: Quem disse que o PROG morreu?
Passaram três anos desde a última passagem dos polacos Riverside pelo nosso país. Desde essa altura, o mundo da banda deu uma volta como se de um outro movimento de rotação se tratasse. Afinal, neste espaço de tempo a banda viu falecer, com contornos de mistério, o seu guitarrista e fundador Piotr Grudziński. Tal facto, deixou a banda reduzida ao formato de trio e, ao mesmo tempo, obrigou a que a sonoridade da mesma fosse repensada. Um acto de coragem que, no fundo, se revela, agora, um acto acertado, pois com Wasteland, o seu disco mais recente, o agora trio ascende ao patamar cimeiro do rock progressivo e atesta assim a sua vitalidade. Foi, também este, o motivo que os fez regressar a Lisboa numa noite fria de Inverno. Enquanto se esperava pela abertura de portas, a ideia que fica é a de que a base de seguidores da banda aumentou, pois cedo a fila se estendeu a perder de vista. O que não deixa de ser curioso, pois há três anos não foi assim. Um vento de mudança.
Em cima do palco começa a desvendar-se uma enorme parafernália de material e dois grandes ecrãs que solicitam, de forma simpática, para não usar o telemóvel e cujo resultado foi nulo. Pormenores. Porém, a grande curiosidade era perceber como funcionaria esta nova vida dos Riverside em cima do palco, sabendo-se à partida que todos os holofotes estariam em Mariusz Duda, o vocalista que é, também, guitarrista e baixista de uma banda que se reencontra com o seu público e retribui a longa espera com um concerto de duas horas que só terá desagradado aos mais teimosos e mais conservadores. Arrancando desde logo com Acid Rain e Vale of Tears, ambos retirados do mais recente disco, fomos, também, confrontados com um enorme jogo de luzes, ao mesmo tempo que nos “néons” imagens de um outro planeta que podia bem ser o nosso, faziam esta viagem muito maior que a vida. O público, esse, ia entoando cada faixa e acompanhava o vocalista a cada nota numa estranha simbiose emocional. Por entre regressos ao passado, onde não poderiam falar Reality Dream I, Left Out ou Out of Myself, fica a percepção de uma banda que, neste momento, ocupa o lugar cimeiro do rock progressivo, mesmo que as comparações com Porcupine Tree se façam (sempre sentir), mas isso nada importa quando em Lament, uma das mais belas faixas de Wasteland leva o público à redenção. Como diz Duda ao longo do concerto, este é um disco que celebra o passado, com olhos no presente e pensamento no futuro. Sente-se o vazio de Piotr num dos momentos mais emotivos de todo o concerto, quando a sua saudade é evocada num aplauso que faz chorar qualquer “coração de pedra”. A emoção assola um LAV e um público que sente a emoção com que Duda entoa, já em regime “encore”, River Down Below. Foi um Mariusz Duda emocionado e quase sem voz que se despediu de Portugal, com a promessa de um regresso em breve e a certeza de que os Riverside estão cá para ficar e que o rock progressivo não morre, mas renasce.
A abrir as hostes estiveram os Mechanism, também eles polacos e praticantes de um rock progressivo que muito deve aos cabeças-de-cartaz, apesar de mais pesados. Sendo meros desconhecidos no nosso país, os Mechanism souberam aproveitar a oportunidade e, ao longo de quase 60 minutos de actuação, a banda apresentou-se em bom nível e presenteou o público que se ia acomodando na sala lisboeta com bons temas. Certamente ganharam seguidores em Portugal. Aproveitaram, também, para apresentar alguns temas do mais recente Entering The Invisible Light e souberam cumprir o papel que lhes estava destinado.
Texto: Nuno Lopes
Edição: Daniela Azevedo
Fotos: Joana Carriço / Organização