Reportagem no 2º dia do Vodafone Paredes de Coura 2014
A abrir as hostilidades hoje, no palco Jazz na Relva, junto ao rio Tabuão, os Hitchpop mostraram uma competência impar a nível da improvisação, com temas atrás de temas em perfeita sincronia entre os três músicos que compõem a banda. Sem duvida uma bela maneira de acabar uma tarde de “praia” e de começar uma noite que se esperava de alta qualidade musical.
Os espanhóis Oso Leone abriram o palco Vodafone com o seu som peculiar, uma mistura de shoegaze com instrumental e rock progressivo, para cerca de um terço do anfiteatro, com muitas pessoas sentadas, e muitas ainda a chegar. Interessantes a nível de conceito, mas talvez ainda muito pouco conhecidos do público.
Pouco depois, no palco Vodafone.FM, ouviu-se a electrónica dançável do trio australiano Panama que, com um registo pop canção, e apoiado nos sintetizadores, criam temas bem interessantes. O concerto terá sido prejudicado pela hora de jantar da maioria do publico, mas ainda assim deu uma mostra do bom som do trio. Mereceriam outro horário, talvez até outro palco.
O Blues Rock de Seasick Steve, o construtor de instrumentos sexagenário, inflamou a plateia e levou ao crowdsurf intensivo junto ao palco Vodafone. Uma menina de nome Ana teve até direito a uma canção de amor. Comunicativo, o bluesman chegou a contar a historia de como um tampão de roda oferecido por Jack White, adicionado de uma lata de cerveja e umas decorações de natal, se transformou numa guitarra. Se ficasse a noite por aqui, seria o melhor concerto do dia. Não foi, mas foi enorme.
Thurston Moore, membro fundador dos Sonic Youth, mostrou no palco no Vodafone.FM que ainda sabe como se faz rock para as franjas mais indie da população. Mais de meia casa a ver o que foi considerado o 34º melhor guitarrista pela Rolling Stone tocar os temas do seu mais recente álbum a solo.
O soft pop do americano Mac de Marco conseguiu cativar as meninas, uma das quais foi convidada a subir ao palco Vodafone para “improvisar” um jamming, e alguns meninos, que não se fizeram rogados em subir para o palco quando convidados, depois de fazerem uma surfada na plateia. Um pouco parado, começou com o single de fácil reconhecimento, mas foi perdendo gás. Só fez a totalidade da plateia ficar em chamas quando se atirou, literalmente, para ele próprio fazer umas ondas pela plateia.
Os The Oh Sees apresentaram o seu rock a rasgar, a incitar ao mosh e ao crowdsurf, ainda que o espaço do palco Vodafone.FM não se preste muito a isso. Sempre a abrir, nem pausas nem descanso, numa descarga enérgica e crua de rock. Uma certa similaridade nas canções, e algum exagero nas vocalizações em esforço, tiram o merecido brilho à actuação. Mas perfeitamente enquadrada neste festival.
À electrónica dançável minimalista adiciona-se uma voz etérea como a de Lauren e o resultado é um concerto recheado de canções que entram no ouvido, passam pela cabeça e não deixam os pés descansar. Os CHVRCHES puseram todo o auditório do Tabuão a mexer, uma surpresa para quem já esperava pelos Franz Ferdinand, mas que decerto agradeceu esta dose de algodão doce.
Que mais se pode esperar de uma banda como os Franz Ferdinand senão energia, interação com o público, e um concerto recheado de sucessos desfiados como contas de um rosário? Nada, na verdade. E foi exactamente isso que os escoceses nos entregaram, tudo, sem limites e sem atalhos. Durante quase duas horas, foi intenso, foi eléctrico, foi uma celebração do rock, partilhada por Alex Kapranos e um mar de gente que não se fez rogada e pulou, dançou, bateu palmas, surfou a multidão, abriu mosh pits sucessivos, e cantou a plenos pulmões tudo o que havia para cantar. Alex não teve medo de falar português, e ajudou a levar o auditório ao êxtase, fechando com chave de ouro o palco principal deste segundo dia de Paredes de Coura.
Para encerrar a noite, voltamos ao palco Vodafone.FM. Primeiro com White Haus, projecto do líder dos X-Wife como DJ. Apostando numa mistura de sons americanos dos 80 e 90, pôs a plateia, ainda em grande número, a dançar bastante. Finalmente, o produtor francês Ivan Smagghe, também conhecido como Black Strobe, deu o seu electro aos resistentes até quase de madrugada.
Fotos oficiais do Vodafone Paredes de Coura por Hugo Lima