Punk primaveril ou uma primavera de emoções? – O 2º dia do NPS
12 horas, 20 bandas, 28 mil pessoas. Ante este cenário quem lá esteve viu-se obrigado a fazer escolhas complicadas. Ou então conseguiu o milagre da multiplicação.
A única janela horária em que não era necessária escolha era a das 00:10, mas a essa já lá iremos.
Pelas 17 horas Marcelo, Mallu e Fred subiram ao palco NOS para o seu primeiro concerto em festival e foi uma aposta ganha. Mallu sempre envergonhada e com a ternura e frescura da sua juventude e Marcelo e Fred, que já andam nisto há uns anos, garantem a estabilidade de um barco que faz a travessia Portugal – Brasil sem complicações e num ritmo calmo e sereno ao ponto de se estarem a divertir e ficar sem tempo para mais uma música.
Uma colina com toalhas amarelas ou uma frente de palco com dança e coro e um sol que veio também ouvir a Banda do Mar.
Viet Cong, ainda envoltos na polémica do nome, também se estrearam em Portugal no ATP. Com trejeitos e uma sonoridade a, por vezes, fazer lembrar uns Joy Division percorreram o álbum de estreia sem grande desvio por também não terem muito mais por onde fugir. Os acordes iniciais da Continental Shelf arrancaram uns “aaaaah então são estes…”.
O sol ainda ia alto quando os 68 anos de Patti Smith subiram ao palco. Vou repetir, 68 anos! Guerreira do punk nova-iorquino, poetisa, mãe…
Influência de muitas das bandas do mesmo festival, a interpretar o “Horses” tido como um dos mais importantes e melhores álbuns de sempre. Patti Smith mostra que o punk não é uma moda, é um estado de espírito.
Ante “Jesus died for…” somos transportados para um CBGB e quase que juro que vi a Debbie Harry.
Sem a energia de outrora mas com o mesmo carisma durante uma hora demonstrou com facilidade que o punk não está morto, amadureceu.
Encerrou o concerto em jeito de tributo com Elegie que relembrou ter sido escrita como homenagem a Jimi Hendrix mas que servia para todos que partiram.
No palco ao lado seguiu-se José González, primeiro a solo para nos dizer olá. Depois com a sua banda passou de leve pelos 3 álbuns num concerto que peca por curto mas que teve direito a um encore. Obviamente as versões de The Knife ou a de Massive Attack foram as que mais emoção obtiveram de retorno, mas houve tempo também para a “Killing for love” e “Down the line”. Se faltaram músicas? Oh se faltaram, mas não havia tempo para mais. Mas por mim ficava lá.
Electric Wizard, Sun Kil Moon e The Replacements – aqui foi uma decisão complicada e ainda mais se tornou por agora saber que o concerto de Replacements foi o último e com isso se fez história.
Mas optei por Sun Kil Moon.
Facto: O Mark Kozelek não é uma pessoa fácil. Ou se ama ou se odeia.
A julgar pelo espaço do Pitchfork que se tornou pequeno para tanta gente que o veio ver e ouvir, ele há muita gente que gosta dele!
E ele gosta de Portugal, muitas vezes o disse. Aliás, falar foi do que ele mais fez tendo inclusive “brincado” com “Como se chama a banda que está a actuar ao mesmo tempo que eu?” seguido de um “I’m just kidding” numa clara referência ao feudo com War on Drugs.
Talvez por ter Shelley na bateria ou o Espinheira dos Blind Zero o que se pode ouvir foi o ex-red house painters mais cru e duro com uma “Carissa” extensa ou “Dogs”.
Mas ponto alto e prova de algum bipolarismo é quando chama a sua amiga Yasmine Hamdan para um dueto e juntos cantaram a “I got you” e a plateia foi envolvida num abraço meigo e ternurento. Mas tudo passou quando a seguir o homem de negro e mão no bolso nos contou, e não cantou, como a sua prima Carissa morreu.
Já noite cerrada e os Belle & Sebastian sobem ao palco e no seu jeito conhecido por muitos e reconhecido por alguns. Danças na plateia, animais em palco – os do palco e não só. Assim foi uma hora de Belle & Sebastian que se queixaram de ser curta. “The boy with the arab strap” teve a festa habitual dentro e fora do palco.
E agora silêncio e sentem-se.
Antony Hegarty.
Hoje, volvidas já umas horas ainda não consegui digerir o que vi, ouvi e senti.
Uma moldura humana impressionante na janela horária em que não havia sobreposição, Antony acompanhado por uma orquestra de perto de 40 elementos transportou-nos para um local estranho com a sua voz. E só precisava da voz. Os arrepios sentidos na “Cut the World” que acompanhado com o filme japonês que servia de pano de fundo e incutia ainda mais o sentimento de tristeza.
O objectivo da música é despertar sentimentos e nisso Antony Hegarty é algo de extraordinário. Viram-se muitos lenços e não foram para o mandar embora.
Ninguém queria que o homem de túnica branca com voz de anjo caído se fosse embora.
Acabado o concerto e com apenas 10 minutos para recompor as emoções, outra escolha difícil: Run the Jewels com El-P dos sempre grandiosos Company Flow e Killer MIke que certamente merecem um palco maior, ou JUNGLE com o seu soul/funk que nos leva para os anos 80 e coisas como “Pump up the jam” e spandex ou Ariel Pink e manter a toada dos seres andróginos?
Com um pé em RTJ e outro em JUNGLE assim se encerrou o dia. O mais cheio até à data do NOS Primavera Sound.
E que dia repleto de emoções e frenesim.
Fotos: NOS Primavera Sound 2015 / Hugo Lima