Primeiro dia de Rock in Rio Lisboa – O frio que aqueceu a alma
Tivesse eu que fazer esta reportagem em vídeo e não conseguiria. Estou afónica. Mas quem escreve por gosto, não precisa de voz. A sexta edição do festival Rock in Rio Lisboa arrancou ontem às 16h00 no Parque da Bela Vista e apenas na primeira hora entraram 15.000 pessoas. Com o músico britânico Robbie Williams como cabeça de cartaz, num dia que encerrou com a actuação da brasileira Ivete Sangalo, até às 23h00 entraram 59.800 pessoas na Cidade do Rock.
O Rock in Rio Lisboa, que cumpre dez anos de existência em Portugal, está repartido por três palcos – Palco Mundo, Palco Vodafone e Electrónica – e duas áreas de actuações (Rock Street e Street Dance), num recinto com capacidade para 90.000 pessoas. 44% das pessoas foi ontem, dia 25, à Cidade do Rock ver Robbie Williams. 15% do público foi a todas as edições em Lisboa e 43% das pessoas foi a primeira vez no maior festival de música e entretenimento do mundo. Mas comecemos pelo início.
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Poucos minutos passavam das 15h00 quando nos deparámos com dezenas de repórteres e fotógrafos à entrada do recinto. O ambiente é de um frenesim e nervosismo constante. Junto à guitarra da Vodafone, diante dos grandes portões do recinto, um homem trajado a rigor toca gaita de foles. Tiram-se fotografias em equipa, fazem-se curtas entrevistas aos mentores do projecto, preparam-se câmeras fotográficas, aperfeiçoam-se coreografias e aguarda-se ansiosamente a abertura das portas, onde milhares de pessoas se encontram à espera para entrar na Cidade do Rock.
A música começou a animar o Parque da Bela Vista às 16h00, com o concerto dos Whiskey Piper, na Rock Street, onde a última actuação aconteceu às 22h00. As actuações na Street Dance decorreram entre as 16h20 e as 21h30. Percorrendo os caminhos como quem explora um parque de diversões, os visitantes da Cidade do Rock passeiam pelo parque e pelos espaços reservados aos patrocinadores. A mítica afluência ao já tradicional sofá da Vodafone, aos chapéus de palha e às perucas vermelhas não deixa margem para dúvidas – primeiro os brindes, depois os concertos. Há que ir preparado a rigor para a festa. O público veterano já sabe como tudo funciona, se querem reservar o melhor lugar perto dos seus artistas preferidos, têm de marcar lugar junto às grades do Palco Mundo.
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O palco Vodafone foi o primeiro a arrancar, pelas 16h45, com os portugueses The Hound, Casting da Vodafone. No mesmo palco marcaram também presença às 17h53 os portugueses Cais Sodré Funk Connection. Apaixonados pelo funk e soul, o grupo é umas das mais recentes revelações da noite lisboeta. Nascidos no coração do bairro boémio que lhes dá nome, são a primeira banda residente do clube Music Box, em Lisboa. Canções simples, melodias, rigor, boa vibração, poder e energia pura são os ingredientes deste colectivo coeso de sete elementos apoiado por duas vozes soberbas, de Silk e Tamin. O brasileiro SILVA voltou a Portugal, depois de ter marcado presença no ano passado no festival Vodafone Mexefest e às 20h00 subiu ao palco. O artista acabou de editar o álbum Vista pro mar, gravado parcialmente em Portugal e levou mesmo o público a dançar ao seus swings brasileiros num ambiente decontraído num maravilhoso fim de tarde. Entre o salto de um palco para o outro, tivemos tempo de dar uma volta na Roda Gigante e apreciar a deslumbrante vista sobre a Cidade do Rock.
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As honras de abertura do Palco Mundo estiveram a cargo dos portugueses Aurea e Boss AC que actuaram em conjunto. A menina do soul e o cantor de rap prepararam duetos com músicas de ambos. O que poderia ser uma actuação pouco provável, tornou-se numa agradável surpresa com o público bastante receptivo às energias dos dois. Perante uma plateia bastante composta na expectativa de ouvir sons com boa vibe, Aurea começa com um dos seus mais recentes temas «The Main Things About Me» que é terminado com o êxito «Hip Hop (sou eu e és tu)» de Boss AC. O artista trouxe para a estreia do Palco Mundo temas como «Lena» e «Tu És Mais Forte», canções que levaram o público a momentos de nostalgia. Aurea cantou, como sempre, descalça, fez rap quase tão bem como AC, mas foi com as canções «Scratch My Back» e «Okay Alright» que levou o público a cantar e a dançar animadamente. «Canta-se muito bem aqui» afirmou a artista visivelmente triste por ter de ir embora, acabando o concerto com a animada «Happy» de Pharrel Williams.
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Depois de uma descida no Slide, aterrámos literalmente no Palco Mundo a tempo de assistir à estreia da artista britânica Paloma Faith. Às 20h38 sobe ao palco num fabuloso fato de padrão pied pule e xadrez vermelho, fazendo conjunto com toda a vestimenta da sua banda, num cenário bastante original. Ao fim de uma música, pede desculpa ao público pela sua voz tremida e tenta falar numa espécie de “portunhol”, afirmando que adora pastéis de nata na esperança de conquistar o público português. «Estou um pouco doente e não me sinto bem, mas vou dar o meu melhor porque a vida é para ser vivida». A artista não é conhecida, o público pouco motivado para a ouvir ou aplaudi-la reage assim que Faith refere Robbie Williams, cabeça de cartaz. O frio começou a sentir-se, mas a britânica não se deu por vencida e, com o seu melhor british accent, convidou o público a juntar-se a ela e acabou mesmo por nos convencer com o seu encanto e estilo groove.
Na tenda Electrónica destacam-se as actuações dos portugueses DJ Ride e Voxels e Le Youth que infelizmente viu-se obrigado a passar música para um espaço com uma dezena de pessoas.
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Fotos Robbie Williams: Agência Zero
Tempo para descansar e jantar, às 22h00, o cabeça de cartaz, Robbie Williams, subiu ao Palco Mundo. O espectáculo do britânico, que não vinha a Portugal há mais de dez anos por não andar em tournée, teve como base o álbum Swings both ways, lançado em Novembro, no qual interpretou versões de canções conhecidas e alguns originais, num registo swing, que já tinha abordado em 2001 com Swing when you’re winning. «Let Me Entertain You» pediu ao público logo no início do espectáculo. Vestido a rigor, de fraque preto, laço e luvas brancas, «Let Love Be Your Energy», «Let Me Entertain You», e «Monsoon» mexeram com uma multidão de quase 60.000 pessoas. Como já é costume em todos os concertos, Robbie Williams é um senhor, rei da noite, e construiu um espectáculo que prendeu as pessoas até ao último verso. Neste novo álbum, décimo a solo, Robbie, que começou por ser conhecido nos anos 1990 como um dos elementos da banda pop masculina Take That, reinterpreta temas como «Dream a little dream» e «Puttin on the Ritz». Não há dúvidas, Robbie Williams foi a estrela da noite. Acompanhado por uma fantástica orquestra, o britânico conseguiu cruzar êxitos como «Candy» , «Feel» e «Kids» com covers tão conhecidos como brilhantes – «Shoute» de Isley Brothers, «Song 2» de Blur , «Walk on the wild side», de Lou Reed, «Wonderwall» dos Oasis e ainda «I still haven´t found what I´m looking for» dos U2 e «New York, New York» de Frank Sinatra. Grande parte do trabalho conseguido esta noite pelo artista deveu-se também aos fantásticos cenários a 3D projectados no pano de fundo, simulando desde a Estátua da Liberdade a uma lustrosa sala de teatro, às luzes e cores expandidas numa atmosfera requintada bem ao estilo de cabaret e musical. Robbie Williams é inteligente, soube agarrar o público em dois actos quase distintos, canções novas e rítmicas misturadas com covers nostálgicos, soube mexer com as emoções das pessoas e deixou o recinto a cantar em uníssono e a saltar com a energia que transmitiu para o público. Com um poder na voz irreparável cantou «Feel», «Come Undone» e já no fim, e para terminar em grande, o britânico afirmou ficar «really fucked up» caso não o acompanhássemos na canção «Angels» e milhares de vozes juntaram-se à dele.
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Ainda bem que não tenho de fazer esta reportagem em vídeo, porque estou mesmo afónica. A rainha brasileira não perdoa. Numa noite bastante fria, Ivete Sangalo encerrou a noite do Palco Mundo com um espectáculo que nos aqueceu o corpo e a alma. «Não existe lugar frio quando a Ivete está lá» referiu a veterana que marcou presença em todas as edições do Rock in Rio Lisboa. A completar 42 anos na próxima terça-feira, a artista brasileira que canta, dança, pula, interage com o público e contagia “todo o mundo” com o seu brilhante sorriso e boa disposição, provou mais uma vez que a idade é apenas psicológica. «A felicidade passa para a pele», disse sorridente. O público adora Ivete e Ivete adora animar o público português que já faz parte do seu coração, assim como do novo dvd que marca os 20 anos de carreira da artista e que é lançado hoje, dia 26, em Portugal – onde está incluída uma música inédita, «Amor que não sai». Ivete levanta poeira, leva-nos a tirar o pé do chão, faz-nos cantar com emoção e dançar até à exaustão, mas assume-se como uma mulher romântica assim que canta «Se eu não te amasse tanto assim». Braços no ar, mão na cabeça, mão na cintura, a rainha do pop brasileiro não permite um minuto aborrecido, o público está feliz, entusiasmado e dança até ficar sem fôlego. Passando pelo reggae e terminando num cover de Michael Jackson, Ivete Sangalo promete-nos concertos em Portugal nos dias 13 e 14 de Março de 2015, mas o público não se mostra paciente: «Ivete, cadê você, eu vim aqui só pra te ver».
O Rock in Rio Lisboa regressa nos dias 29, 30 de 31 de Maio e 01 de Junho. Com menos frio e vento, esperamos.