O Zé Pedro
Tenho a idade dos Xutos & Pontapés: trinta e oito anos. São vários os momentos da minha vida nos quais ecoam músicas da banda do Tim, do Kalú, do Cabeleira e do Zé Pedro. E do Gui, no saxofone.
Lembro-me de ter participado na organização do concerto de comemoração dos 20 anos dos Xutos, no então Pavilhão Atlântico, e de, por isso, ter andado nos bastidores. Na altura não tinha smartphone, nem havia a moda das selfies, caso contrário teria registado o momento em que me cruzei com os Xutos, nos corredores. O que ficou desse momento? O sorriso do Zé Pedro.
Um homem do rock and roll, o guitarrista de uma banda de nome “Xutos & Pontapés” poderia ser tão doce? Poderia. Era.
Em Agosto, durante o Festival Sol da Caparica, o Marco Almeida fotografou os Xutos. Não estive presente nesse festival, mas o Marco ligou-me uns dias depois, pois queria falar comigo para me falar do Zé Pedro. O Marco encontrou no palco um Zé Pedro magro e de aparência debilitada. Mas com a mesma postura em palco: a sorrir para o público, a “fazer-se” à máquina fotográfica, a curtir a guitarra, em palco, como sempre. O Zé Pedro estava doente. E fez questão de praticar o rock and roll até ao fim.
Escrevo estas palavras enquanto oiço a Antena 3. Depois do anúncio da morte foram várias as pessoas que passaram pelos microfones desta rádio para contar estórias. E que choraram, em directo. O Fred Ferreira. O Tó Trips. O Álvaro Costa. O Carlão. O Júlio Isidro. Pessoas que tiveram o privilégio de estar com o Zé Pedro, em momentos diferentes da sua vida. Que o descrevem como “pessoa doce”, “genuíno”, “verdadeiro” e “sempre disponível”.
Em menos de uma hora, foram milhares os tweets escritos e que se referiam à morte do Zé Pedro. No meu feed do instagram e do facebook sucedem-se as fotografias do guitarrista, bem como as partilhas das músicas: Se me amas, Homem do Leme, Circo de Feras, entre muitas outras. E a carga pronta e metida nos contentores? São tantas as letras, embrulhadas nos acordes da guitarra do Zé Pedro. Tantas. E que sabemos de cor(ação).
José Pedro Amaro dos Santos Reis nasceu a 1956 e faleceu em 2017. O Zé Pedro, esse, viverá para sempre.