“O que vai de mim para ti” – Bons Sons, 15 de Agosto
Em Cem Soldos a tarde estava quente e os borrifadores de água fresca começavam a fazer falta aos muitos festivaleiros que passeavam pela aldeia. Os Duquesa faziam soundcheck no palco Giacometti enquanto as famílias chegavam: muitos carrinhos de bebé, crianças ao colo, outras a correr pelas ruas e cães pela trela.
Uma das coisas que faz do Bons Sons um festival especial é o facto de podermos entrar na Igreja para louvar a música – e por conseguinte, a cultura portuguesa. Desta vez, fomos contagiados com a alegria do colectivo Tranglomango. Os músicos, com raízes em Viseu, distribuíram boa música portuguesa tradicional envolvida em rock e chula. A Igreja era insuficiente para todas as pessoas que queriam fazer parte desta animada oração ao que de melhor se faz em música, no panorama português.
Pelas 16h45, Duquesa tomava conta do coreto, no palco Giacometti. E que bem que nos soube o ice cream para adoçar e refrescar a aldeia. Entre o saborear do bolo templário, ali na tasquinha onde ontem jantámos um belo chouriço com pão (#trueStory) e o saudar de amigos que já não encontrávamos há muito tempo, fomos surpreendidos pela movimento Retimbrar que espalhou o som dos seus tambores por Cem Soldos. Ao mesmo tempo – quem disse que a vida na aldeia é pacata e tranquila? – no palco Garagem, havia bandas à espera da sua vez para partilhar a sua música. Quem sabe estes não serão os artistas de um Lopes-Graça ou Eira numa edição futura do Bons Sons?
Cá na aldeia somos todos muito pontuais: os concertos começam à hora marcada, sem excepção. E assim aconteceu com o Edu Miranda Trio, no palco OuTonalidades: pelas 18h, Edu, Tuniko e Giovani pegaram em fados, misturaram com forró, samba, juntaram boa disposição e puseram muitas pessoas a dançar. Que bem que soube este pezinho de dança! Para terminar, uma participação especial de Dino D’Santiago, nas últimas músicas. O público não queria arredar pé e pediu uma e mais outra música ao Trio, que acedeu com simpatia.
A abarrotar de influências diversas estão os D’Alva, que se apresentaram no Bons Sons com o formato Redux. Num dos palcos mais queridos do público, o Giacometti, Tivemos oportunidade de passar alguns momentos à conversa com Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro, sobre motivações e influências para fazer música – em breve, publicaremos a entrevista neste vosso pasquim (online) de eleição. Para a Salomé, de 14 anos, que viajou da Figueira para o Festival a presença dos D’Alva foi “o que animou mesmo a malta”. Não conhecia o trabalho de Alex e de Ben e era a sua primeira vez no Bons Sons: “Disseram-me que era muito giro e que era uma experiência diferente.” E confirma-se. Até pelo facto dos D’Alva nos terem brindado com um tema inédito, de seu nome Mas só se quiseres. E ainda, um momento de stage diving protagonizado pelo Ben Monteiro, que assim deu corpo a um dos refrões mais queridos do repertório da banda: livre, leve e solto.
Naquela hora em que já deixa de ser de dia para dar lugar à noite, subiram ao palco Eira os cinco rapazes que constituem a banda Trêsporcento. Entre elefantes azuis e cascatas, fomos brindados com as primeiras chuvas com sabor a Bons Sons e cheiro a terra molhada.
O jantar deste terceiro dia de Bons Sons teve como banda sonora original o Bruno Pernadas que apresentou o seu trabalho How can we be joyful in a world full of knowledge perante um recinto cheio, no palco Lopes-Graça.
Ana Moura era a artista mais esperada da noite. Sim, alguns dos visitantes não arredaram pé do palco Eira para ver e ouvir Nice Weather for Ducks. Ainda assim, após a meia-noite o ponto de encontro era mesmo o Lopes-Graça, para um concerto onde o fado bate à porta da música pop. O timbre de Ana Moura é muito próprio e capaz de enfeitiçar o público, uma vez que se encontra embrulhado num sorriso doce e postura graciosa.
E ao terceiro dos quatro dias do Festival só apetece cantar ai a saudade que eu tenho de ter saudades – do espírito do Bons Sons por perto.