O bom regresso dos MAU

O bom regresso dos MAU

Luís F. de Sousa, Nuno Lamy, Eliana, Carlos Costa e Paulo Silva são os cinco elementos que constituem o projecto MAU. Formaram-se há dez anos na Dinamarca, mas é na cidade mais bonita do mundo (Lisboa, para os bonzinhos) que se reunem entre amigos. Lançaram o primeiro disco em 2010 e ao longo dos anos foram ganhando projecção com colaborações e resmituras dos Passion Pit, SOHN e Foster de People. Safari Entrepreneur é o último LP do grupo e foi apresentado oficialmente ontem à noite no MusicBox.

O que é que mudou durante os dez anos que nos separam desde a criação dos MAU – Man And Unable? De facto, mudou quase tudo. Desde a formação, às influências e aos instrumentos utilizados, tudo mudou. Começaram com bases instrumentais simples, feitas numa Roland Groovebox 505, às quais adicionavam três ou quatro pessoas de vários países que nunca tinham cantado na vida. De certa forma os MAU tornaram-se numa banda a sério, com músicos a sério. Surgiu sempre uma revolução quase permanente, não só quanto aos elementos da banda, como também às sonoridades que íam experimentando. Depois de lançarem o álbum Backseat Love Songs encontraram finalmente o seu espaço. Sabem o que querem fazer, o que têm gosto em fazer e, acima de tudo, o que sabem fazer bem. Mau seria não saberem.

O álbum Safari Entrepreneur é composto por 12 temas originais e é também o ponto de encontro de amigos de várias nações que, bem ao jeito da génese da própria banda, partilham ideias e estéticas sob a forma de colaborações, tanto ao nível de produção de novas músicas, como de participações enquanto músicos em algumas temas do álbum – incluindo parcerias com Leitbur, Max Greenhalgh (vocalista dos Inspired and the Sleep) e Adam Clover. Com sonoridades dreamwavechillwave e electro-pop, as músicas de arranque, «Lights Off», «Safari Entrepreneur Part 1» e «Cheetah» consomem-se mais depressa do que três copos de cerveja numa autêntica aventura electrónica.

Nas palavras dos MAU, trata-se de «um disco que celebra a estoicidade feminina, a força de não definhar com as maiores contrariedades e o colo seguro para o orgulho masculino ensinado que, em pânico, não sabe o que fazer ou como lidar com o incerto». O lançamento do novo disco dos MAU é acompanhado pelo single «Off to Berlin» que retrata o amor egoísta, aquele que mostra o dedo à perda no pico do refrão mais pop do disco. Ainda que negro na sua essência sonora, «Off to Berlin» oferece uma possibilidade de recomeço, uma mão esticada que nos puxa para fora do escuro e que, por isso mesmo, acompanha este lançamento. Mas há tempo para a nova «Impala», «Silver» e «Castle». Foram três anos a criar, gravar, apagar, regravar e finalmente a aprimorar os temas que mais prazer lhes deram desde a sua criação enquanto grupo.

Gostam de mudar o som de disco para disco, por isso e sem razão aparente, durante a fase de composição do álbum, a escolha dos instrumentos e as próprias melodias, muito por instinto, acabam por nos levar para longe, para África ou para territórios afro-caribenhos. Basta prestar atenção às roupas dos músicos para nos imaginarmos numa qualquer ilha africana ou exótica, a dançar num qualquer bar de praia. Os 12 temas do disco são uma espécie de safari sonoro, são uma viagem com um balanço exótico, primário e até animal. Outra característica forte da banda são os vídeos que acompanham os singles. A componente visual assume também um papel importante na mensagem que querem transmitir com a sua música e os temas têm uma sensibilidade cinematográfica que nos remetem para o campo visual.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=YBCRt5m4trE]

O concerto terminou com o single «I Need A Priest», do álbum Tales of Wonder, Fur and Deception, reunindo ex-elementos da banda e relembrando-nos a linha electro-pophip hop e indie rock que caracteriza a variedade musical do grupo, mantendo a abordagem irónica e sarcástica aos temas do quotidiano, sempre com o bom humor de quem não se leva demasiado a sério. Mas nós levamo-los. Os MAU são mesmo bons.

Mafalda Saraiva  

Eu sei lá resumir-me numa frase. Mas escrevo muitas no meu blog.


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