NOS [somos a tribo] ALIVE
«Joana, o ALIVE é um festival urbano, não tem tribos, ponto!» Ah sim? Pois eu não creio que assim seja. Há uma tribo ALIVE – e quem vive este festival sabe disso, ainda que possa não ter consciência deste sentido de “tribo”.
Vejamos o que é isso da tribo. O que significa pertencer a uma tribo? Falemos apenas das tribos urbanas, aquelas em que os seus membros se juntam porque partilham interesses comuns, partilhando pensamentos, rotinas e sobretudo o mesmo look. Hippies, punks, rockabillies – são algumas das tribos que todos nós conhecemos e das quais conseguimos traçar um perfil visual: imaginamos como se vestem, os cabelos, os sinais exteriores que manifestam a sua preferência tribal. E que tribos encontramos num festival urbano, como é o ALIVE? À beira Tejo plantado, com opção de campismo, com uma rede de transportes e estacionamento q.b. à volta, com algum pó (mas em quantidades moderadas, sem necessitar de máscara ou coisa que o valha), sem ideologia política por detrás… que tribos encontramos por lá?
A resposta é simples: todas. Encontramos o hipster, com os óculos de massa da moda e com a barba à Meireles e a camisa aos quadrados. E a malta dos ténis all star. As calças de ganga rasgadas. As leggings pretas com cortes. Os vestidos brancos. As botas de biqueira de aço. As jovens com as suas t shirts cheias de frases inspiracionais made in aquela loja muito barata que começa por pri e acaba em mark.
E mais: o ALIVE é o festival onde mais facilmente se encontram coisas como ver um indivíduo super tatuado a (tentar) dançar kuduro ao som de Buraka Som Sistema – e ninguém olha para ele e pensa “mas ele não é um de nós!”. É, sim. É também neste festival que se vê o pai – de sapato, camisa e calça de sarja – a acompanhar a filha no evento e a aceder ao pedido de um jovem desconhecido para tirar uma fotografia ao seu grupo de amigos. Onde se pode ouvir Dead Combo e Green Day. Ou Icona Pop e Depeche Mode.
Muito procurado por estrangeiros, é o local onde se ouvem várias línguas na fila para a casa de banho ou para a cerveja. Consegue-se topar à distância – sobretudo pelo tom vermelho-escaldão – os inúmeros grupos de ingleses e alemães que viajam para o nosso país, aproveitando o bom tempo para conhecer Lisboa enquanto participam deste festival de música.
O ALIVE nasceu em 2007: na altura chamava-se Oeiras ALIVE e recebeu Pearl Jam, Linkin Park e Smashing Pumpkins. O meu primeiro encontro com este festival acontece a 10 de Julho de 2008, para ouvir Rage Against the Machine. The Hives e The National também tocaram nesse dia, mas confesso que só tenho memórias dos RATM. Já na altura gostei do ambiente – e é por isso que procuro marcar presença todos os anos.
«É um festival de culto», dizia-me o meu afilhado, durante o ALIVE. É. As pessoas vêm para aqui curtir o ambiente, que é uma espécie de Terra dos Sonhos, o poema de Jorge Palma: no ALIVE podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal. Este festival continuará a ser optimus enquanto este espírito de liberdade vingar e os rótulos ficarem do lado de fora dos pórticos de entrada. No final somos todos pessoas [humanas] em busca de bons momentos, com os amigos, à volta da bebida fresca e com boa música como banda sonora. Sim, é essa a minha tribo. Até 2015, ALIVE.