7 Set 2018 a 9 Set 2018

Nomes históricos e novos valores fazem a Festa do Avante

A 42ª Festa do Avante! voltou a juntar grandes nomes da música portuguesa na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal nos dias 7, 8 e 9 de Setembro. Sérgio Godinho, Xutos & Pontapés, Carlão e Jorge Palma foram alguns dos destaques.

A Festa que marca a rentrée política do Partido Comunista Português começou, como sempre, na sexta-feira. Já no sábado, nomes como The Twist Connection, Dapunksportif, Janita Salomé ou The Black Mamba entreteram o público durante a tarde, enquanto o recinto ia enchendo a passos largos. Para além da música (que é muita), é bom relembrar que na Festa do Avante! há muito mais para usufruir: cinema, teatro, debates, desporto, espaço para crianças, feiras do livro e do disco, exposições e claro, muita gastronomia. Todos os distritos do país estão representados com bancas de comida e bebidas da sua região, para não falar da zona Internacional, onde partidos comunistas de vários países partilham também a sua gastronomia local. Voltando à música: só para ela há sete palcos, o Novos Valores, o AGIT, o Espaço Fado, o Palco Alentejo e o Palco Arraial, e por fim os palcos 1º de Maio e 25 de Abril.

Foi neste último que começou a nossa Festa, no sábado, às 18h, com os Gaiteiros de Lisboa. De regresso com uma nova formação, o grupo de Carlos Guerreiro não teve dificuldade em pôr a plateia a dançar ao som dos ritmos e melodias de tradição ou nela inspiradas que os Gaiteiros tão bem sabem oferecer. Só foi pena o pouco público que se mostrou interessado. Ao contrário do que aconteceu com Boss AC, que subiu ao mesmo palco duas horas depois logo ao som de Hip Hop (Don’t Stop). Um dos históricos do hip hop nacional, Boss AC não precisou de muito para ter a agora vasta plateia na mão, e foi debitando êxitos como Princesa (Beija-me Outra Vez), Tu És Mais Forte ou Sexta-Feira (Emprego Bom Já).

Seguiu-se Sérgio Godinho, nome histórico não só da música nacional como em particular desta Festa, trouxe temas do mais recente Nação Valente e temas de sempre como Liberdade, Maré Alta, Primeiro Dia ou Brilhozinho nos Olhos. Sempre bem disposto e com uma postura invejável, lançou-se ainda a uma versão de Vampiros, de Zeca Afonso que ajudou a que este tenha sido um dos concertos mais especiais de todo o fim-de-semana. E por falar em especial, o artista que se seguia, já no palco-tenda 1º de Maio entrou em cena uma hora antes do seu aniversário. Com um concerto intenso e electrizante, The Legendary Tigerman declarou o seu amor ao rock and roll. Apoiado por baixo, bateria e saxofone, o homem que em tempos foi banda também passou pela carreira em modo best of e acabou, claro, com uma tenda a abarrotar e a cantar “Rock and Roll!” (que mais poderia ser?) com ele.

Tanta é a oferta musical da festa que por vezes há escolhas difíceis de fazer, como optar entre Dead Combo ou Xutos & Pontapés. É verdade que os primeiros têm um belíssimo novo disco, com novos elementos em palco e que das últimas vezes que os temos visto (em Paredes de Coura e no Bons Sons) foram excepcionais, mas os eternos Xutos regressavam pela primeira vez à Festa do Avante sem Zé Pedro, e havia uma espécie de abraço gigante do qual queríamos fazer parte. À Minha Maneira abriu o concerto. A música que Zé Pedro mais gostava de tocar ao vivo com a sua banda de sempre marcou o arranque energético de um concerto que serviu maioritariamente para apresentar temas novos que irão fazer parte do próximo disco. Uma das grandes surpresas da noite terá sido o regresso à velhinha Avé Maria sendo que para o final ficou Homem do Leme, que nos acompanhou na saída do recinto, onde toda a gente por quem passávamos ia a entoar o tema eterno. Como o são os Xutos & Pontapés, como o é Zé Pedro.

O Domigo e derradeiro dia de Festa começou cedo, com os Capitão Fausto no palco 25 de Abril às 15h. Por baixo de um sol abrasador e perante uma pequena plateia com poucos conhecedores da sua música, a banda de Amanhã Tou Melhor podia parecer algo desenquadrada ao início mas cedo agarrou o público, que foi batendo pé e palma aos temas dos meninos bonitos do novo rock nacional. Se seguida, os Orelha Negra tinham a difícil tarefa de apresentarem o seu corte e costura musical às…. quatro da tarde. Habituados a horários tardios, foi algo estranho testemunhar um concerto de Fred, Sam The Kid e Cia. num ambiente (tão) diurno. Tinha tudo para ter sido um dos melhores momentos da festa, mas o sol a bater na testa não o permitiu.

Ana Bacalhau tirou bom partido do seu horário de actuação: mesmo antes do comício, é cada vez mais o povo que se junta perto do palco principal para dali a pouco ouvir os discursos de dirigentes do PCP. Os temas de Ana Bacalhau podem não ser largamente conhecidos, mas o nome que se tornou famoso como parte dos Deolinda já é da casa, e temas como Leve Como Uma Pena e Ciúme puxaram pelas gargantas da plateia. As canções de Nome Próprio encaixam que nem uma luva num ambiente popular como este, e, como sempre, é Luís Peixoto (bandolim, cavaquinho) a outra grande estrela em palco. Ana Bacalhau bebe muito à música popular portuguesa, chega a juntar hip hop e baile numa só canção (a brilhante Bacalhau) mas tudo só fica a fazer sentido quando as cordas de Peixoto entram em cena. Um belo espectáculo para o pré-comício. Já o pós-comício também iniciou em grande forma, com um concerto estrondoso de Carlão, que lançou sexta-feira, dia 14, o seu novo disco a solo, Entretenimento. Com os convidados Manel Cruz e António Zambujo, que cantaram temas em que participam deste próximo trabalho, Carlão apresentou muita música nova mas não esqueceu Colarinho Branco ou Os Tais, do disco anterior, bem como os extintos Da Weasel, com uma versão de Dialectos de Ternura (a dos Buraka Som Sistema). Lenda viva do hip hop tuga, Carlão parece vir mais uma vez provar que ainda é – e muito – relevante nos dias de hoje.

Para o fecho da festa ficaram mais algumas lendas vivas da nossa música. Jorge Palma, a instituição, trouxe um concerto algo parado e moroso (muito tempo entre os temas, muita conversa que não se conseguia perceber), recebeu primeiro Tim para dois temas mas foi quando Camané entrou em palco que o ânimo aqueceu um pouco. Quero É Viver, tema de António Variações que os Humanos revisitaram foi entoado por todos, antes de Enquanto Houver Estrada Para Andar nos embalasse de vez.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


Ainda não és nosso fã no Facebook?


Mais sobre: Ana Bacalhau, Boss AC, Capitão Fausto, Carlão, Gaiteiros de Lisboa, Jorge Palma, Orelha Negra, Sérgio Godinho, The Legendary Tigerman, Xutos & Pontapés


  • Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *