My name is… Márcia e Suzanne Vega no EDP Cool Jazz
Na véspera de mais um grande concerto no Festival EDP Cool Jazz, esperando ansiosamente por Pink Martini, algumas considerações sobre a noite que levou ao palco do Jardim do Marquês de Pombal em Oeiras, Márcia e Suzanne Vega.
Márcia, a sair do casulo
Ainda com uma plateia sentada com muitos lugares por preencher, Márcia entra em palco pontualmente e começa desde logo a encantar e aquecer corações que bem agradeciam tal o fresco que se fazia sentir.
Boa voz e bom acompanhamento instrumental ajudam a construir canções melódicas que, apresentadas com uma simpatia natural, parecem pedir que as ouçamos novamente, noutro espaço, com outro tempo.
Do primeiro álbum, “Márcia” (2009), a “Casulo” (2013), nota-se mais que evolução. Nota-se maturidade e noção de que nem tudo são rosas mesmo para uma voz bonita e um sorriso engraçado. Márcia traz essa maturidade para o palco, fazendo-se notar na forma suave como interage com o público e como reage a uma aparente indiferença deste. O frio da noite talvez não ajudasse a tirar as mãos dos bolsos mas ainda assim, na minha opinião, valia o sacrifício para bater mais umas palmas. Eu bati.
Um segundo microfone em palco deixava no ar a possibilidade, de um convidado a qualquer altura. Entre a plateia o nome de J.P. Simões era uma constante que só se dissipou quando Márcia interpretou “A Pele Que Há Em Mim”, música que se popularizou num dueto dos dois artistas.
Em jeito de redenção, e porque dificilmente se poderia deixar a artista abandonar o palco sem lhe reconhecer o merecido valor, a actuação de Márcia termina em palmas sentidas enquanto sai de cena deixando a banda a finalizar num verdadeiro show instrumental.
Chega Suzanne Vega e o público parece acordar
O Jardim continuava por encher mas, cerca das 22h30 já estava mais composto. Para além da barreiras que separavam as plateias sentadas do resto do jardim, poucas eram ainda as pessoas, mas aos primeiros acordes da guitarra de Suzanne Vega, vieram para perto todos quantos andavam espalhados.
“Fat Man & The Dancing Girl”, do album de 1992 99.9F, abre o concerto mas, ainda que conhecida por alguns dos presentes, causou mais furor por ser a primeira música do que pela música em si. Logo depois e sem qualquer intervenção pelo meio, surge “Marlene On The Wall”, música intimista que marcou o primeiro álbum da artista, “Suzanne Vega”, de 1985. Marlene Dietrich está ali, fácil de imaginar, fotografia pendurada na parede.
Antes de ouvirmos Suzanne Vega a dirigir-se ao público, cantou ainda “Caramel” (Lembram-se do filme “All the Truth About Cats and Dogs” de 1996?) e só depois nos pergunta se estávamos confortáveis e nos diz o quão feliz estava por voltar a Portugal. Esta pequena conversa serviu de mote à viagem no tempo e logo de seguida Suzanne Vega entra no seu mais recente trabalho, “Tales from the Realm of the Queen of Pentacles”, com “The Fool’s Complaint” e “Crack In The Wall”. Estas músicas não deixam de representar, e bem, a Suzanne Vega que muitos lembramos mas, infelizmente, nem todos quantos a lembram conhecem estes seus trabalhos mais recentes e isso era bem visível no Jardim do Marquês de Pombal. Mesmo assim, “Jacob And The Angel”, a “canção que vem da Bíblia”, pareceu animar a plateia (como faria mais tarde “I Never Wear White” onde o seu guitarrista Gerry Leonard mostrou que percebe do oficio). Suzanne Vega ainda tentou ver umas palmas a bater mas isso talvez fosse pedir demais.
Suzanne Vega a viajar pelo tempo no EDP Cool Jazz
Voltando ao passado Suzanne Vega relembra a sua primeira passagem por Portugal, há 25 anos atrás, introduzindo a canção que se seguirá e onde acredita que as mulheres portuguesas se irão rever. “Ironbound/Fancy Poultry”, do seu segundo álbum “Solitude Standing” (1987). A canção é lindíssima mas acredito que nem toda a gente saiba que Ironbound é uma zona de Newark, nos Estados Unidos, conhecida por ser uma zona de emigrantes portugueses.
As viagens no tempo vão sendo uma constante pois claramente Suzanne Vega sabe que muito do seu público vive de velhos êxitos mas que, conhecendo os novos trabalhos, e acreditando que o bom gosto é algo que dificilmente se perde, a voltarão a acompanhar. A longa e triste “The Queen And The Soldier” e “Left Of The Center” foram algumas das presenças.
Perguntavam já algumas vozes, onde estaria o “Luka”, o tão esperado Luka que é lembrado sempre que o nome Suzanne Vega vem à mesa. “Luka” o inesperado hit de “Solitude Standing” que, 27 anos depois, coloca inexplicáveis sorrisos na cara de quem o canta, parecendo estar esquecida a temática da canção que versa sobre a violência doméstica e abuso infantil… Enfim, é uma grande canção.
A noite do EDP Cool Jazz parece estar a terminar e para tal, em jeito de festa com um arranjo que convidava mais que antes a um pé de dança, surge “Tom’s Diner”, música escrita por Suzanne Vega em 1984 mas que ganhou fama no já referido “Solitude Standing”. Era ver o público levantar das cadeiras e esquecendo o frio que estava, levantar as mãos no ar ao som do conhecido tu-tu-turu, tu-tuturu…
Saiu de palco por breves momentos para voltar já a perguntar ao público como queria continuar a noite, se com algo mais calmo ou algo mais “barulhento”. O público pedia já “Liverpool” mas colocada a questão desta forma, ganhou a versão “barulhenta” e Suzanne Vega cantou “Blood Makes Noise”. Boa escolha. Uma vez mais a guitarra de Gerry Leonard brilhou num palco iluminado a vermelho sangue.
Sabendo que “Liverpool” era esperada, confirmou que havia tempo para mais uma canção e resolveu dar um sentido extra à canção cantando antes “Gipsy”, e explicando ao público que esta canção fala do seu “primeiro grande romance de Verão”, aos 18 anos. Sabemos que Suzanne Vega escreve e canta a sua história e com esta dica, “Gipsy” ganha ainda mais profundidade e beleza. Chega finalmente “Liverpool” não sem antes nos confessar que esta é a história do reencontro, numa rua de Liverpool, 12 anos mais tarde, do tal amor perdido.
Suzanne Vega deixa o público do EDP Cool Jazz com um beijo (a juntar a uns quantos que já tinha deixado no ar) e um sorriso. Histórias contadas por quem gosta de as contar, soam sempre melhor.
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