Miguel, Corridas e a Justiça incendiaram a primeira noite de NOS Primavera Sound
Arrancou ontem, dia 8 de Junho, mais uma edição do NOS Primavera Sound (NPS), no Porto. O Parque da Cidade é, outra vez, o quartel-general da música e das flores na cabeça. O Pedro Gama andou por lá. Chegou já a festa tinha começado: mais vale um pouco atrasado do que nunca, sobretudo se estivermos a falar do NPS.
Devido às vicissitudes de quem trabalha, chegámos ao Parque da Cidade do Porto já os concertos decorriam. Um arranque a meio-gás do festival, com apenas dois palcos (NOS e Super Bock) a dar música – e da nossa reportagem também. Diz quem viu que Samuel Úria abriu com boa onda o festival. Por outro lado, Cigarettes After Sex cantaram mas não encantaram. Já Rodrigo Leão & Scott Matthew apresentaram excelente química em palco. Depois… Bem, depois chegámos nós- e ainda bem, porque era hora de Miguel.
Miguel é sol, rei, suor e festa. É erotismo e sensualidade, empacotados num só homem. O californiano deu espectáculo no palco NOS, cantou e encantou, dançou e seduziu toda a plateia, que se juntou em celebração funk ao por do sol. À pergunta, muito séria, “Do you like drugs?” toda a audiência berrou a plenos pulmões um “I do!” a que Miguel concordou e que serviu de rastilho para o fabuloso “Do you?” e a mais uma descarga de dança por parte de todos. Outro ponto alto foi Hollywood Dream, que o artista afirmou tratar-se de um hino à sua própria história. Nem um corpo ficou parado numa actuação que foi sempre em crescendo, terminando pouco depois do por do sol, que parecia esconder-se envergonhado por haver outro astro-rei neste dia.
Pelas 21h10, os escoceses Arab Strip actuaram no palco Super Bock. A sua pop de guitarras não parece ter convencido os festivaleiros. Talvez pelo horário e pela ânsia dos artistas que se iriam seguir, grande parte do público encaminhou-se nessa hora para a zona da restauração. Os recém-reunidos Arab Strap não terão tido a audiência que tínhamos visto em Miguel. Ainda assim, foi uma pequena volta pela memória que nos foi proporcionada pela banda.
Podem fugir, mas de El-P e Killer Mike não se podem esconder. Enormes no palco NOS, os Run The Jewels (RTJ) fizeram gato-sapato do público. Este não se sentiu, de todo, intimidado pelo possante hip-hop dos americanos. Um par de gigantescos insufláveis adornavam o palco com o símbolo do grupo, fist and gun, e foi como um murro ou um tiro que o super duo brindou o repleto recinto. Houve mosh, houve apelos ao crowd surfing consciente, houve discursos políticos. Principalmente, houve rap puro, duro, carregado de mensagens políticas e sociais, que a maioria dos presentes cantou em uníssono com a banda. Os americanos que não se cansaram de interagir, de pedir mãos no ar e palmas. Enfim, uma verdadeira apoteose.
De volta ao palco Super Bock, fomos encontrar o patrão da Brainfeeder, produtora de vários artistas no área da electrónica e hip-hop, como Mr. Oizo (lembram-se do bonequinho amarelo?) ou Daedelus. Uma amálgama bem construída de hip-hop, instrumentais de roupagem soul e remisturas de bem reconhecidas vozes, entre as quais Kendrick Lamar. Os Flying Lotus proporcionaram um ambiente mais etéreo, mas nem por isso menos dançável, à noite inicial do NPS. E dançar foi coisa que se fez muito esta noite, faça-se justiça.
E justiça lhes seja feita, foram eles, os Justice, os maiores da noite. O duo francês de Gaspard Augé e Xavier de Rosnay derreteu qualquer réstia de decoro ou vergonha que poderia subsistir nos festivaleiros, ontem. Apoiados por um magnífico jogo de luzes, que ora transformava o palco em sala minimalista ou grande catedral da electrónica, desfilaram todas as malhas e mais alguma. Puxaram pelo público, que não se fez de maneira alguma rogado, pulando, dançando, gritando em coro os refrões de We are your friends, D.A.N.C.E. ou Encore. Era impossível parar quieto, e até ao fim do concerto, em que a banda desceu às grades para cumprimentar os fãs, a energia tornou a aquecer a noite que até ai tinha estado bem fresca. Foi eléctrico, apoteótico, simplesmente genial!
Hoje, 9 de Junho, voltamos ao Parque da Cidade. Se os sinais de ontem se confirmarem, teremos enchente de gente e boa musica, com as actuações de Bon Iver, Angel Olson, Nicolas Jaar, entre outros. Há, felizmente, lugar para tudo no NOS Primavera Sound, como bem demonstrado ficou ontem. E que bem que assim é!
Edição de Joana Rita