Michael Bublé compara-se a “máquina de fazer bebés” no concerto em Lisboa

Michael Bublé compara-se a “máquina de fazer bebés” no concerto em Lisboa

A estrela mundial Michael Bublé esteve em Portugal para dois concertos na Altice Arena, em Lisboa, nos dias 27 e 28 de janeiro.

Na sexta-feira foi a 6ª vez que o cantor, um dos mais bem-sucedidos da sua geração, esgotou a Altice Arena, e a sua fórmula parece continuar a garantir-lhe noites sem fim de agrado ao público português. Na verdade, não deixa de ser intrigante que um artista consiga tamanhos feitos com meia-dúzia de temas originais e uma mão cheia de versões, mas a verdade é que o público parece não se importar e vibrar de igual forma com os êxitos de hoje e de ontem que desfilam nas suas atuações. Bublé não se importou de vasculhar em vinis empoeirados para descobrir as melhores canções e dar-lhes a roupagem que tanto nos fascina.

Michel Bublé surge num palco extremamente potenciado pela, por certo, mais avançada tecnologia que há nesta matéria. Os jogos de luzes criam ilusões de fogo enquanto o artista serpenteia por entre os diversos corredores e leva as fãs à loucura de cada vez que se chega mais à frente e não nega uma saudação ou uma divertida selfie (mesmo a quem foi de iPad em punho para o concerto). Não há cabos à vista e a meio da Altice Arena temos dois ecrãs suportados por uma estrutura extremamente fina que se recolhe sempre que o foco é o Bublé na “língua” do palco que vem até mais à frente.

Feeling Good, versão de Anthony Newley, abre o concerto seguida da Haven’t Met You Yet – o primeiro single do seu quarto álbum de estúdio, Crazy Love, lançado em 2009. A música é leve e fala-nos do sonho que é encontrar o amor numa relação, sendo dedicada à esposa Luisana Lopilato. O bom humor de MB também é outro fator que se torna bastante atrativo no decorrer do espetáculo. Divertido, o cantor começa por fazer aqui os agradecimentos, a manifestação de saudades e a vontade de fazer a festa. E quebra o gelo dizendo que é uma espécie de “máquina de fazer bebés” com o “mood” que consegue criar nos seus espetáculos.

As manobras sensuais também não se fazem tardar na versão cheia de swing de L-O-V-E de Nat King Cole. Os Drifters e Seger Ellis são “homenageados” a seguir em Such a Night, Quien Será? / Sway e When You’re Smiling (The World Smiles With You).

O humor vai intercalando com a seriedade do agradecimento que faz à soberba banda que o acompanha. “Esta noite, vocês pagaram bom dinheiro para estar aqui, mas na verdade esse dinheiro não é para mim; é para eles porque fiz questão de trazer os melhores músicos para me acompanharem”, descreve-nos. Brinca, ainda, com os homens que “vieram acompanhar as senhoras” que não vão ter direito “a músicas de Natal”. 

A paixão de Bublé pelos clássicos começou durante a sua infância em Burnaby, British Columbia. O avô, canalizador, tocava músicas dos anos 40 e 50 e foi contando a sua história a Bublé que se apaixonou irremediavelmente por este universo.

Michal Bublé tem plena consciência de que é um crooner e que boa parte dos seus espetáculos é ocupada com a recriação de grandes clássicos de nomes que ficaram definitivamente impressos nas páginas da história da música. O seu público não parece valorizar esse puritanismo musical. E ele brinca com isso: “aposto que vocês não sabiam que eu até sou um brilhante compositor. E muito humilde!”. E está o mote dado para três canções, efetivamente, da sua autoria: Home, Everything e Higher. E toda a gente as canta com o coração nas mãos, impressionando um simpático Bublé: “vocês têm aqui o programa “The Voice”? Têm? Olhem que eu viraria a cadeira para vocês…”.

Segue-se a versão dos Bee Gees de To Love Somebody para deixar brilhar (e de que maneira!) as vozes que com ele dividem as merecidas luzes da ribalta. Aqui, é justa uma palavra de destaque para Loren Smith, um moço que faz parte do programa de “Jimmy Kimmel” e que é o sinónimo daquela energia boa de que todos andamos à procura para preencher o desalento destes dias ainda curtos, frios e já tão distantes das promessas que fizemos a nós próprios para cumprir em 2023.

Depois das danças, temos direito ao momento de introspeção que cada um vive à sua maneira, tentando exorcizar aqueles demónios que sempre ficam alojados num qualquer recanto do nosso Ser. Smile, de Charlie Chaplin e que Nat King Cole também popularizou outrora, é acompanhado apenas pelo seu pianista. As mãos tremem-lhe e isso só confere ainda mais autenticidade a um momento que tem tanto de belo como de lacrimejante.

Mas bom, voltemos aos outros talentosos nas secções de cordas e metais para animar em I’ll Never Not Love You  e… Fever, com muita chama vermelha a ser projetada.

Depois do enquadramento e da explicação da amizade que o une a Priscilla Presley, e a palavra de sentimentos deixados à recém-falecida Lisa-Marie, sentimos uma crescente vibração que ganha forma quando Bublé passou de uma orquestra completa para uma pequena formação que o acompanha no meio da arena, onde, sacudindo os quadris à sua maneira, pega numa guitarra e dispara One Night, All Shook Up e Can’t Help Falling in Love.

Com uma pitada de pop contemporânea, a alegria volta a tomar conta da Altice Arena na sua versão de You’re The First, The Last, My Everything, de Barry White, que acaba num autêntico banho de confettis amarelos. Percebemos que já passámos a metade da noite, mas ainda vêm It’s a Beuatiful Day e Cry Me a River antes da pausa.

É no pós encore que nos apresenta a banda, em curtos vídeos a preto e branco projetados nos ecrãs.

E para o final, três “pesos pesados”: How Sweet It Is (To Be Loved By You), de Marvin Gaye, Save The Last Dance For Me, dos Drifters, e You Were Always On My Mind que, seja cantado por Elvis Presley, Willie Nelson ou até pelos Pet Shop Boys, é uma escolha corajosa, por ser dramática, para o fecho desta noite de música.

Será que lá para o início do outono vamos assistir ao nascimento de alguns “Bublé Babies”? Bom, será um bónus adicional a esta muito aplaudida passagem por Portugal.

 

Fotos: Altice Arena

Daniela Azevedo  

Jornalista, curiosa sobre os media sociais, viciada em música, gosta da adrenalina do desporto motorizado. Amiga dos animais e apreciadora de dias de sol. Acha que a vida é melhor quando há discos de vinil e carros refrigerados a ar por perto.


Ainda não és nosso fã no Facebook?


Mais sobre: Michael Bublé

  • Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *