Laura Mvula e José James no EDP Cool Jazz
As portas do Jardim do Marquês de Pombal abriram cedo para mais uma noite de EDP Cool Jazz. As estrelas da noite estavam anunciadas e despertavam interesse quanto baste para garantir uma plateia bem composta: Laura Mvula e José James.
O cartaz prometia ainda um outro espectáculo: A transmissão em directo da final do Mundial de Futebol 2014. Alemnha e Argentina disputariam o lugar de campeão e só depois a música teria lugar. Não que fosse só por sim razão para estar presente no EDP Cool Jazz mas uma coisa foi certa: desde a abertura que por lá se via, sentados na plateia ou deitados na relva, quem tivesse escolhido o festival como local para ver o jogo.
A noite ia já longa e ouvia-se com frequência o desejo do público de que uma das equipas marcasse golo e terminasse de vez com o jogo. Tal era o desejo de ver a primeira estrela da noite, Laura Mvula.
Laura Mvula, uma nova estrela no EDP Cool Jazz
Laura Mvula, a jovem que ainda há pouco tempo dizia não achar que tinha uma grande voz, apresentou-se no EDP Cool Jazz como parece ser seu apanágio, com uma simplicidade brutal e uma humildade que complementa na perfeição todo o figurino.
Ver todas as fotos de Laura Mvula no EDP Cool Jazz
Uma estrela por mérito próprio, assim o entendem alguns dos mais prestigiados meios de comunicação e críticos musicais, não pretende mostrar outra origem que não a sua. Veio de King’s Heath, o gheto de Birmingham como ela própria o diz, criada numa família onde, ainda que rodeada de música (o pai obrigou-a a ter lições de piano e era um fã incondicional de Miles Davis), o pop e o rock estavam banidos. De alguma forma, tudo isto parecia estar presente em palco quando Laura Mvula para lá subiu. “Está ai alguém de Birmingham?” – perguntou ao público – “Eu ouvi um sotaque de Birmingham.”. Como dizem os ingleses, it takes one to know one.
A actuação começou com “Like the morning dew”, do seu primeiro álbum “Sing to the moon” de 2013 e seguiu depois com uma música que tal como a primeira tinha sido apresentada na compilação digital “iTunes Festival London 2012” mas que não entrou no álbum do ano seguinte, “Let me fall”.
Voltando aos temas do álbum de estreia, Laura Mvula soube organizar a ordem dos mesmos de forma perfeita, parecendo contar uma história que de alguma forma se enquadrava perfeitamente no ambiente do EDP Cool Jazz daquela noite.
Já ia a noite na quinta música quando Laura comentou quase em surdina sobre o quão calmo estava o público. Parecia adivinhar. Ao cantar “Is there anybody out there” o público parece ganhar um animo diferente e de repente, canta, grita e assobia. Despertaram. A bom tempo pois a artista tinha ainda muito para dar.
Diz que é envergonhada e por isso não é de grandes conversas mas cada “Obrigado por me ouvirem” parece sincero o suficiente para convencer. Que se lembre o momento em que o disse no final de “Diamonds” quando estava em palco só com Iona Thomas na harpa, e o público a aplaudiu efusivamente.
Em “Father father” fica ao piano e com um semblante sereno e voz sentida, parece enviar uma mensagem ao pai com quem deixou de falar há uns anos. Quantos de nós não escolhemos “aquela” música para enviar uma mensagem?
“Levantem as mãos no ar… E também se podem pôr em pé se quiserem…”. Já se sentia mais confortável com a audiência. Sabia que a tinha conquistado.
Apresentou a orquestra “Gostam da minha orquestra? Espectacular não?”. Claro que sim. Harpa com a fantástica Iona Thomas, bateria (Troy Miller?”), a sua irmã Dionne no violino e o seu irmão James no violoncelo. Seguiram-se “Green garden” e com “That’s alright” terminou a sua actuação. Pelo menos até ao encore quando voltou com “Make me lovely” só para deixar todo o público do EDP Cool Jazz desejoso de mais.
Eis que chega José James ao palco do EDP Cool Jazz
Chegou mas não sem antes de cantar, ocupar o palco com todo o seu aparato entre testes à guitarra e eventuais olhares de soslaio para controlo da audiência. Sem grande motivos de preocupação. Apesar do avançado da noite (dizer que actuou no Domingo no EDP Cool Jazz é faltar à verdade. Já era Segunda-feira), o público mantinha-se fiel ao programa e depois da excelente actuação de Laura Mvula, já “aquecido” quanto bastava.
Ver todas as fotos de José James no EDP Cool Jazz
Este José James não é o mesmo que se tinha apresentado anteriormente em Portugal. Quem esperava pelo fabuloso trompete que o acompanhou no Lux talvez tenha ficado um pouco decepcionado com a guitarra que o substituiu mas que, no geral, não desapontou.
O José James que se apresentou no EDP Cool Jazz era nitidamente o de “While you were sleeping”, o seu mais recente trabalho onde, ainda que chocando quem o pensava mais próximo de um neo-soul ou mesmo de um pop acústico, o artista se aproxima cada vez mais do titulo que lhe foi atribuído aquando do seu anterior trabalho “No beginning, no end” em 2013: o cantor de jazz para a geração do hip-hop.
Entenda-se que esta aproximação deve ser entendida não tanto pela sonoridade mas mais pela liberdade estilística a que José James se dá neste ultimo trabalho e cujos temas serviram para abrir a sua actuação em Oeiras.
Mas “Angel”, “U R the 1” ou “Anywhere U Go” não pareciam suficientes para convencer quem tanto tinha esperado. Não será culpa das músicas em si mas do desconhecimento das mesmas.
Já se vislumbrava o final do concerto e com o arrefecer da noite que a sonoridade teimava em não aquecer, havia já quem se levantasse para sair. A cada música tocada mais umas quantas cadeiras vagavam e isso talvez fosse o indicador necessário para José James dar a volta ao reportório e jogar a carta do “Come to my door”. Como ele mesmo disse, a música de todos os fãs de José James.
Aproveitando a animação que de repente se fez sentir no jardim, seguiu-se “Trouble” também de “No beginning, no end” e por último, o verdadeiro ponto alto da noite, a exibição frenética de “Park bench people”, música do seu álbum de estreia em 2008, “The Dreamer”. Foi aqui que cada um dos elementos da banda brilhou verdadeiramente com o próprio José James a fazer de autêntica batuta humana, acompanhando com uma expressão corporal perfeitamente ritmada, cada nota. Foi um final de luxo.
Houve ainda espaço para um encore que se apresentou na forma de “Podemos tocar mais uma?”. Claro que podiam mas dificilmente algo iria superar os (largos) minutos anteriores. “Do you feel” deu um toque de encanto meloso ao adeus de mais uma noite de EDP Cool Jazz e terá dado também a alguns, o tom de acompanhamento no caminho para casa.