Fomos ver Lambchop e Kurt’imos – reportagem no Maria Matos
Ignorando alguns jogos de palavras mais parvos, poderíamos simplesmente dizer que esta actuação foi brilhante, como já seria de esperar dos Nashville’nses Lambchop (já parei), mas a verdade é que isto não chega. Foi uma noite de poucas palavras, mas apenas daquelas que podiam ser ditas.
Confesso que já não me lembro de quanto tempo passou desde a última vez que assisti a um concerto sentada, e parece que às vezes nos esquecemos que cada experiência, e cada banda, devem apresentar-se em condições feitas à sua medida… tal e qual como aconteceu no palco do Teatro Maria Matos.
A tour que promove FLOTUS ou For Love Often Turns Us Still e o apresenta ao vivo pela Europa não podia ter escolhido melhor sítio para começar. Lançado no ano passado, trata-se do décimo segundo álbum deste grupo estadunidense que nos traz algo de novo: juntaram o piano clássico à sabedoria de Kurt Wagner, bem como as samples e os beats dispersos entre o hiphop e a música electrónica – que casam muito bem com as típicas passagens mais jazzy e pop-rock. Resumindo e concluindo, vieram mostrar que nunca é tarde demais para que uma banda se reinvente, sem perder identidade.
Em 1986, os Lambchop apresentavam-se com o nome Posterchild. Foi nos anos 90 que ganharam visibilidade e um estatuto de referência algures entre a música country, folk e soft rock, como gosto de lhe chamar. No concerto não faltou a referência a músicas desta altura. A banda demonstrou porque é que ao longo destes mais de 20 anos de carreira, Kurt Wagner e o colectivo de músicos que se movem à volta do seu processo criativo, conseguem evitar rótulos e ultrapassar tantas vezes limites (se é que isto existe na música).
A empatia foi praticamente imediata, reforçada por curtos momentos de interacção durante o concerto, que incluíram perguntas como “Quem é que aqui gosta de música country?” só para a seguir dizerem “É só para ter uma ideia, porque afinal não é nada disso que vamos tocar.”
Em entrevista à Stereogun, Kurt confessara-se apreensivo com a apresentação de um álbum como este ao vivo, mas uma actuação de quase duas horas à média luz, deixou qualquer um aconchegado. No concerto que aconteceu no final de terça-feira, 17 de Fevereiro, os Lambchop revelaram estar muito contentes pelo regresso a Portugal e a Lisboa. Rapidamente nos apercebemos da cumplicidade enorme que existe entre os membros da banda. Ouviu-se o hit The Hustle que tão facilmente puxa ao sing along, ouvimos as piadas de Charlie ao piano e ainda nos apresentaram Andy, o novo baterista do projecto.
A voz e a presença de Kurt são algo incomparável – e os restantes elementos e instrumentos não lhe ficam atrás, de maneira nenhuma. Uma voz de barítono que tantas vezes navegou por um registo agudo modificado, a percussão que outras tantas marcou um compasso típico de hiphop, um piano que dizia ser bossa nova e um baixo que simplesmente fazia magia, não conseguiram deixar ninguém indiferente.
Foto da organização / José Frade
Edição de Joana Rita