Estamos em que ano mesmo? – O regresso dos Sum 41 ao Coliseu de Lisboa
A nossa Mónica Borges fez uma viagem ao passado no concerto de Sum 41, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A noite de 20 de Janeiro de 2017 foi aquela em que a adolescência de muitos se tornou presente. Contamos como foi – e também temos fotografias catitas da Marta Ribeiro para partilhar convosco!
Fui ao fundo do baú buscar um par de Vans com sinal evidente de uso e abuso. Foi o que sobrou da fase adolescente rebelde no início do Milénio em que se ouvia Sum 41 nos intervalos das aulas. Na verdade não os procurei, fui das poucas. Mas levei os clássicos na ponta da língua.
Quem é, ou quem foi, secretamente ou declaradamente, seguidor do panorama punk-rock conhece Sum 41, é um facto. Outro facto é que, sem darmos por isso, sabemos cantarolar umas quantas músicas e muitos de nós já tinham saudades.
Eram bastantes os que achavam que a era Sum 41 já tinha acabado, que foi coisa de adolescente revoltado do início do milénio e que acabou por dar enormes contributos para a imaginária banda sonora do filme (real) que foi a nossa puberdade.
Quem é que não associa uma Pieces a qualquer coisa que seja? Ou, quiçá, uma Motivation àquela tarde em que se faltou às aulas de Matemática A para ir andar de skate com o grupinho fixe. Foi exatamente este grupo de pessoas, que se queixa da idade como se a crise dos 50 já tivesse chegado, que ficou surpreendido ao ver o Coliseu cheio na noite de 20 de Janeiro. Não por estar preenchido pelas pessoas que construíram memórias com os Sum, mas sim com pessoas que as estão a construir agora.
A primeira parte ficou a cargo dos parisienses Paerish, já com um grupinho simpático de pessoas a chamar por eles. Espertos os rapazes, até podia haver muita gente desatenta ao rock dos franceses mas a partir do momento em que declararam aos portugueses que são melhores que os espanhóis, e ainda os relembraram que o Éder lhes partiu o coração o ano passado, tiveram o público no papo.
Durante o pré-aquecimento, depois do exercício de observar o público, comprovei a minha teoria que o Coliseu agiu como uma cápsula do tempo que nos transportou para o inicio do Milénio. Cantou-se My Chemical Romance, Green Day, Linkin Park, QOTSA, System of a Down. Mas atenção, cantou-se mesmo, sem espaço para timidez. Com direito a abraçar os amigos e a tirar a t-shirt.
Pouco depois das 22h, já com muito telemóvel no ar, seis anos depois da última passagem por terras lusas, os canadianos Sum 41 subiram ao palco do Coliseu dos Recreios para mais uma noite da digressão Don’t Call It a Sum Back Tour, marcada pelo regresso de Dave Baksh, guitarrista da formação original da banda, que se juntou a Deryck Whibley, Tom Thacker, Jason McCaslin e Frank Zummo. Com eles trouxeram na bagagem o sexto álbum de originais, 13 Voices, lançado no passado mês de Outubro.
Abriram com A Murder of Crowns seguindo para Fake My Own Death que provou aos mais céticos que os skumf*cks (sim, o termo ainda não desapareceu) das duas uma, ou continuaram a acompanhar a banda ou passaram a conhecê-la com o último álbum, pela quantidade de pessoas que sabiam as letras do início ao fim. Tudo o que Deryck ia pedindo, o público ia fazendo: palmas, heys, moche, crowdsurfing. Também é certo, se Deryck não pedisse, o público ia fazendo de qualquer forma.
Entre confettis, jatos e balões, veio o segmento com Hell Song, Over My Head, Goddam I’m Dead, Underclass, Screaming Bloody Murder e There Will Be Blood.
Depois de lembrados os mais de 20 anos da banda, Deryck agradeceu à família Sum 41 por o ajudar a ultrapassar a fase mais difícil da sua vida (para os mais desatentos, a experiência de quase-morte após anos de abuso de álcool) e foi assim que se introduziu “War”. Logo de seguida veio uma das mais queridas para os mais old school, “Motivation”, que começou e acabou em moche (como a maioria das músicas da noite).
Entre Grab The Devil By The Horns And F*ck Him Up The A** e We’re All to Blame já tinha interiorizado como era bom ter Dave “Brownsound” Baksh de volta e, pela cara dele, o regresso soube-lhe bem. Para quem tinha dúvidas do talento de Brownsound ele brindou o público com um solo.
Para o arranque de Walking Disaster, Deryck pediu as lanternas do telemóvel mas em menos de nada o Coliseu deixou a lamechice e regressou ao ritmo base. Para Makes no Difference e With Me, Deryck deixou a banda em palco e agraciou o pessoal das últimas filas, num registo mais acústico.
De volta ao palco, a banda arranca para mais um momento eletrizante com God Save Us All (Death to POP) e um solo de bateria de Frank Zummo, o elemento mais novo da banda, seguindo-se com No Reason. Já com a invasão da caveira em palco brindaram-nos com um cover de We Will Rock You.
Como não podia deixar de ser, os clássicos que a geração dos “já-não-somos-bem-adolescentes” tanto queriam ouvir ficaram guardados para o fim. De uma rajada só seguiram-se a apoteótica Still Waiting e In Too Deep e entre encores o público recebeu de braços abertos, Reason to Believe, a puxa-lágrimas Pieces, Welcome To Hell e depois de Deryck perguntar se alguém se sentia cansado seguiu-se a enorme Fat Lip e para fechar Pain for Pleasure.
No final ficou só mesmo a pergunta: “Estamos em que ano mesmo?”.
Edição de Joana Rita