Do Otimismo Crítico – Virgem Suta no CCB

Do Otimismo Crítico – Virgem Suta no CCB

Os Virgem Suta actuaram em Lisboa, no CCB, no passado dia 31 de Março. A equipa musicfest.pt não podia deixar de marcar presença: o Francisco Morais fez-se acompanhar da(s) sua(s) máquina(s) fotográfica(s) e a Carla Flores do seu bloco de notas e caneta. A reportagem segue dentro de momentos.

Quem entra no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém perto da hora de início de um espectáculo tem desde logo a sensação de chegada a um ambiente acolhedor, de alguma forma contrastante com as grandes áreas e o empedrado de toda a zona envolvente.

Na noite do regresso dos Virgem Suta a Lisboa, a 31 de março, a sala quase esgotada e um palco onde se alinhavam microfones, percussões e guitarras reforçavam essa ideia, dando a imediata certeza um concerto “em família”, com o dinamismo que caracteriza a banda bejense.

Bruno Vasconcelos e Hélder Morais juntaram-se a Nuno Figueiredo e Jorge Benvinda para conduzir os públicos de Lisboa e Porto (1 de abril na Casa da Música) numa viagem por temas dos três álbuns editados até à data. Houve lugar, ainda, para uma boleia por dois temas emprestados, um inédito e, naturalmente, a canção com que Nuno Figueiredo concorreu ao Festival da Canção da RTP, na voz de Jorge Benvinda.

Para a história fica o desfile de 17+5 temas, com o vocalista a infringir largamente as recomendações do médico, que, segundo Nuno Figueiredo, o proibiu de cantar mais de dezasseis canções.

O público-família recebeu dos músicos uma mensagem de alegria temperando a ironia crítica presente na maioria das letras dos Virgem Suta. A fazer jus ao nome da banda, uma das linhas caracterizadoras dos seus temas é a quase constante dualidade optimismo/crítica que afirma as qualidades dos portugueses num Brinde aos Avós sem, todavia, deixar de exortar a “besta” a dar um coice, pois “está na hora de mudar”, passando por uma caricatura de usos e costumes habitualmente só permitida aos de casa.

O concerto abriu com uma saudação à família – epíteto pelo qual Jorge Benvinda tratou o público toda a noite – seguida dois temas de Limbo, o mais recente álbum do grupo: Viva o Povo e Vidinha.

Alternando entre letras de toada romântica e outras mais mordazes, a plateia foi sendo conquistada. Ao sétimo tema fez-se magia, com boa parte da sala a acompanhar dois dos temas mais conhecidos: Linhas Trocadas e o já referido Brinde aos Avós.

Com a voz principal a conduzir a interação com a plateia, soubemos dos inúmeros alentejanos presentes e pudemos mesmo conhecer a verdadeira família da banda. E como nas coisas de família são poucos os segredos, deu-nos ainda a saber pequenos mexericos como o facto de Bruno Vasconcelos ser o “Galdério” do grupo ou que Nuno Figueiredo é o herói que “escreve canções bonitas e às vezes sonha com mulheres”.

Os momentos de conversa algo intimista sucederam-se permitindo conhecer a génese de temas como Regra Geral, cuja inspiração terá origem na ida da banda ao Brasil, bem como alguns aspetos da participação no Festival da Canção, com a banda a cumprimentar o cantor e autora do tema vencedor.

Cumprindo a promessa de um concerto muito dinâmico, a desobediência às ordens médicas iniciou-se com uma versão animadíssima de Playback, de Carlos Paião, seguida do segundo empréstimo: Amiga da Minha Mulher, de Seu Jorge e original cantado a meias com o público que se viu tentado a Cantar até cair, a canção cuja letra havia sido entregue à entrada.

A festa anunciada e levada a cabo pela banda teve direito ainda à presença de tinto alentejano que viria a ser partilhado com parte do público. Como não poderia deixar de ser numa festa em família, o público foi convidado – e não se fez rogado –  a subir ao palco.

Atingido o redondo número de vinte e duas canções, Jorge Benvinda agradeceu a hipótese que lhes foi dada de tomarem conta do Centro Cultural de Belém e a festa encerrou-se, para já, como não poderia deixar de ser com um tema do primeiro e homónimo álbum: Tomo conta desta tua casa, naquele que foi indubitavelmente um Dia sim.

* Suta é um localismo bejense que significa ‘excesso’, frequentemente usado para referir um estado de embriaguez: ‘Estás cá com uma suta!’

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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