De volta ao Rock e pela primeira vez in Rio – Rock in Rio 2024: Dia 1

De volta ao Rock e pela primeira vez in Rio - Rock in Rio 2024: Dia 1

O Rock in Rio abriu portas no Parque Tejo, em Lisboa, para a 10.ª edição do evento. São 20 anos de festival e, pela primeira vez, tudo acontece perto do rio. E este primeiro dia é mesmo o dia do Rock, não seria muito difícil de adivinhar tendo em conta os outfit escuros de grande parte do público.

Este novo recinto é muito maior do que o anterior (260 mil metros quadrados), tem centenas de casas de banho e até água fresca grátis para todos. Perdeu os clássicos sofás vermelhos, mas as filas para brindes mantêm-se.

É um festival mais inclusivo, com intérpretes de Língua Gestual Portuguesa nos ecrãs do palco Mundo em todos os concertos. É também atrás deste palco que conseguimos ver a Ponte Vasco da Gama. Esta mudança de recinto transforma, assim, o Rock in Rio num festival com uma das melhores vistas em Portugal.

Não eram as Jornadas Mundiais da Juventude, mas quase se podia tratar de uma religião. Depois do Papa no ano passado, os Xutos e Pontapés chegaram e transformaram a cruz de Cristo num X. E a verdade é que não são um motivo de piada como Ivete Sangalo, mas também atuaram em todas as 10 edições do evento.

Foi o grupo português que abriu o palco Mundo. Voltam com uma cara diferente, apresentando-se com a Orquestra Filarmónica Portuguesa e com um concerto inédito, mas com os hits de sempre.

Começar com À Minha Maneira não era expectável, mas foi a maneira que Tim escolheu para dizer “Olá” ao Parque Tejo. O sol era forte e o público estava bem-
disposto e pronto para ouvir os clássicos daquela que é uma das bandas mais queridas dos portugueses.

“Estávamos à espera de uma meia dúzia de casais, mas está um mar de gente até lá ao fundo”, brincou o vocalista da banda portuguesa. Há músicas dos Xutos que são praticamente hinos populares e que grande parte dos portugueses conseguem cantar do início ao fim. Mesmo passados tantos anos, os verdadeiros fãs surpreendem sempre a banda. Fecharam o concerto com a Minha Casinha e despediram-se do público com uma vénia. Ainda ecoou o cântico “Só mais uma”, mas sem sucesso.

Começamos a aproximar-nos do fim da tarde e já conseguimos ver o recinto a encher e as filas a aumentar. Pouco depois, foi a vez dos Extreme. Com algumas lantejoulas e algum cabedal, os americanos tinham o guião bem estudado e sabiam o que precisavam de fazer para levar este mar de gente ao rubro.

A banda do guitarrista português Nuno Bettencourt entrou com uma promessa: “Vamos partir tudo hoje!”, afirmou o português. Se havia quem não soubesse que o guitarrista dos Extreme tinha origem açoriana, descobriu hoje. Foram várias as vezes que falou com a multidão que os via, pegando até na guitarra acústica para tocar o hino nacional, para que todos cantassem em uníssono. Não deve ter sido muito difícil escolher qual a música certa para tocar depois do hino nacional: More Than Words, o maior êxito da banda americana, que tocou em todas as rádios nos anos 90 e chegou a estar em 1.º lugar do top em Portugal. Um concerto bastante quente que contrastou com o frio que já se fazia sentir no palco Mundo.

No Palco Tejo, tocavam os californianos Rival Sons num concerto que faz parte da digressão europeia. Eles que já tinham passado pelo palco Mundo em 2016, naquele fatídico dia em que “tocaram” os Korn. A banda, que editou dois álbuns no ano passado, Lightbringer e Darkfighter, captou a atenção dos poucos que não estavam na fila para comprar comida.

Liderados pelo vocalista Jay Buchanan, são mais uns fiéis representantes do rock neste dia do festival. Algum sol, bastante vento e alguma poeira, mas o concerto de Ivete Sangalo é só no próximo fim-de-semana.

Começava a escurecer e, no início desta noite de sábado, subiram ao palco os Evanescence. Mas ainda antes de começar o concerto, ouvia-se nas colunas do palco Mundo Killing in the Name, dos Rage Against the Machine, e foram muitos os fãs que cantaram do início ao fim, tendo até direito a uma salva de palmas no final da música.

O público-alvo do rock alternativo dos Evanescence não é o mesmo que o das outras bandas do dia, mas Amy Lee, a vocalista, trouxe toda a sua garra para o palco e conseguiu domar a plateia. Esta é uma das bandas que representa perfeitamente estes 20 anos de Rock in Rio em Portugal, pois atuou também na primeira edição em Portugal, em 2004.

Foram muitos os que vieram para ver os americanos e conseguimos perceber isso assim que começam os primeiros acordes de Broken Pieces Shine.

Apesar de terem muitos fãs, quando tocam as músicas mais recentes, são poucos os que conseguem acompanhar as letras. O concerto vai num autêntico crescendo até ao final, onde Amy Lee começa a cantar aquelas que eram as músicas favoritas de muitos adolescentes há 20 anos. My Immortal foi cantada em uníssono pela multidão.

Sem encore, puxaram do maior trunfo possível: Bring Me to Life. Assim que ouvimos os primeiros acordes, percebemos também que esta é a música da vida de muitas das pessoas que aqui estão.

Acaba o concerto de Evanescence e a multidão começa a movimentar-se para a esquerda, para o palco Galp, que é praticamente paralelo ao principal. E à hora marcada, 21:15, começa a tocar a banda sueca Europe com On Broken Wings. Joey Tempest continua o mesmo homem carismático que conquistou a Europa e o mundo no final dos anos 80, tem uma autêntica postura de estrela de rock e um penteado que já esteve muito fora de moda, mas que agora vemos muitos miúdos a usar.

Um dos momentos altos do concerto foi Carrie, que foi cantada por todos os que estavam no Parque Tejo, aquela balada com que tantos rockeiros namoraram nos anos oitenta. Foram várias as vezes ao longo da noite que Joey Tempest utilizou o microfone como se de um malabarista se tratasse, com piruetas, rotações e até o utilizou como uma vassoura.

E para terminar, aquela que todos queríamos ouvir: foi lançada em 1986, mas continua a marcar gerações em todo o mundo. The Final Countdown deixa todos em êxtase e é uma das músicas cantadas palavra a palavra, e poucos foram os que não tiraram o pé do chão.

Os Scorpions alimentam a nostalgia do rock como ninguém. A banda alemã, quase a completar 60 anos de carreira, deu um concerto digno de cabeça de cartaz; foi uma hora e meia de rock puro e duro. Tudo começou com Coming Home e logo de seguida Gas in the Tank, querendo provar aos fãs portugueses que, apesar da idade, “There’s gotta be more gas in the tank”.

Nem o frio e o vento conseguiram convencer todas estas pessoas a ir para casa; foi uma autêntica enchente no palco Mundo para ouvir o grupo liderado por Klaus Meine e Rudolf Schenker.

Um espetáculo de luzes – que fazem um belo efeito no Tejo, diga-se – digno de uma das maiores bandas de rock. Não fossem os casacos de cabedal e a energia da guitarra, Klaus Meine deixou o aviso: “Mesmo após estes anos todos, ‘bad boys’ continuam selvagens”, antes de lançar a música Bad Boys Running Wild.

A energia tanto da banda como do público estava totalmente em alta, até chegar a hora das baladas românticas. Arrumaram as guitarras elétricas e pegaram nas acústicas para cantar Send Me an Angel. Durante este clássico, não houve luzes, efeitos ou qualquer artificialidade, apenas guitarra acústica, milhares de vozes e as lanternas dos telemóveis. Mantendo o registo, ouvimos Wind of Change, também conhecida como “aquela música do assobio”, e Klaus mete uma bandeira de Portugal aos ombros.

Voltamos ao rock pesado e chegamos à reta final e tanto o público como a banda não mostravam sinais de cansaço. O concerto continuou com um solo do baterista Mikkey Dee, passando para mais um clássico, Big City Nights. Surgiu a ameaça do fim, mas era impossível os Scorpions irem embora sem tocar Still Loving You e Rock You Like a Hurricane, para fechar o palco Mundo neste sábado.

Quem fechou o recinto foram os Hybrid Theory, a banda portuguesa de tributo aos Linkin Park, no palco Galp.

Tomás Lampreia  

O Tomás gosta de ler, escrever, ouvir e ver. Tem 19 anos e é estudante de Jornalismo, na Escola Superior de Comunicação Social. Sonha ser tudo, mas ainda não é nada.


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