De regresso a casa – Reportagem no concerto dos Soen no RCA
Os suecos Soen regressaram ao RCA, naquela que foi a terceira passagem do supergrupo pela sala lisboeta. Com Lotus na bagagem e com os dinamarqueses Ghost Iris e filandeses Wheel como companhia o RCA esgotou para uma noite entre amigos.
Passam poucos minutos das 23 horas quando o quinteto sueco sobe ao palco de um RCA completamente cheio para os receber. Cedo se percebe que o quinteto liderado por Joel Ekelöf tem, por estes dias, uma legião de seguidores no nosso país. Nesta terceira vez dos Soen na sala lisboeta o mote era Lotus, o mais recente e aclamado disco de uma banda que tem nas suas fileiras autênticos “monstros” da cena metal.
Com um “set” de luzes (as melhores da noite) que fez do RCA uma autêntica árvore de Natal a banda não se fez rogada e, ainda que surpreendida com a forte presença de público, não se deixou intimidar e Covenant, Opal e Rival, mostraram o porquê deste supergrupo ser um dos mais aclamados da actualidade. Aqui nada é deixado ao acaso e a banda aproveita cada momento para receber energia das centenas que cantam em uníssono os novos temas, mais ainda quando surge a recordação de 2014 Tabula Rasa. A noite parece ganha, mas ainda só vai no início. Os Soen sabem e o público sabe.
Mesmo com toda a luminosidade que sai do palco há muito mais do que isso e todos os elementos dos Soen contribuem para a festa, seja nos solos de Cody Forb ou no multi-instrumentista Lars Âhlund que, mesmo sendo o mais recatado, não deixa de impressionar por tudo o que traz aos suecos. E o que dizer da ligação entre Stefan Stenberg, cujo baixo é um poderoso ataque aos sentidos, e Martin Lopez, um baterista para gente séria, um gigante atrás do seu enorme “drumkit”. Por esta altura já Jinn e Lucidity tinham aberto caminho para um regresso a Lotus com mais dois temas, Opponent e Martyrs. Para o final ficou guardado Slithering, tema do disco de estreia (Cognitive). Foi o fim de concerto, julgávamos nós, pois para encore existia ainda tempo para as recordações Savia e Sectarian e, numa despedida perfeita, a faixa-título Lotus. Um momento de beleza e comunhão que fica na memória. As luzes apagam-se e corpos suados de felicidade abandonam o RCA. Os Soen estão bem e recomendam-se.
Antes dos suecos, os dinamarqueses Ghost Iris foram a fúria, o “headbang” e a energia. O seu hardcore/metalcore contagiou e apanhou os mais distraídos de surpresa. Com três discos na mala o quarteto assentou a sua prestação no mais recente Apple of Discord. Só faltou espaço no palco, mas foi resolvido pelo baixista quando fez um decidido “stagedive” – um dos momentos mais memoráveis de toda a noite.
Memorável foi também a prestação dos Wheel, primeiro sob uma estranha obscuridade romântica. Depois da surpresa veio a redenção perante um quarteto que tem grandes canções e uma grande forma de estar em palco. Foi uma duração que pecou por escassa mas que serviu para apresentar uma banda que irá voltar a estar entre nós no Comendatio Music Fest. Destaque para o baterista: que energia, que fulgor. Este não foi um Domingo qualquer. Este foi um Domingo passado entre amigos num regresso a casa que cedo terminou. Sabemos que os Soen vão voltar, e nós voltaremos.a estar com eles.
Foto: Organização / Thrall Photography