Dar vida às Ruínas do Carmo – Reportagem no concerto dos Dead Combo
Há bandas que tornam difícil o papel de escrever sobre um concerto – e uma dessas bandas é composta pelo Pedro Gonçalves e pelo Tó Trips e dá pelo nome de Dead Combo. O desafio torna-se ainda maior quando o concerto em questão aconteceu nas Ruínas do Carmo, em Lisboa. Foi no passado dia 22 de Setembro. Tendo o negro do céu como tecto e uma acústica para lá de perfeita os Dead Combo partilharam o palco com as Cordas da Má Fama. O resultado? Um belo concerto.
É a primeira vez que escrevo sobre um concerto dos Dead Combo. Por outro lado, já perdi a noção de quantos foram os concertos da banda de Tó e de Pedro que já vi. Recordo-me do primeiro: no Misty Fest, em Sintra, no Centro Cultural Olga Cadaval. Foi em 2011. Nunca tinha ouvido a banda e fiquei rendida ao cenário, no palco, à postura daqueles dois homens: os fatos, o chapéu do Tó, o ar distante provocado pelos óculos escuros do Pedro. Quando começaram a tocar foi ainda mais bonito, mais misterioso, mais Lisboa, mais fado, mais genuíno.
Desde então tive o privilégio de os ver em vários palcos: Aula Magna, NOS Alive, Coliseu de Lisboa, Teatro São Luiz. Tenho procurado levar amigos comigo; amigos que tento converter à Grande Ordem dos Dead Combo. Nesta altura já os caros leitores perceberam que esta não é uma reportagem isenta: transborda emoção e dedicação pela arte que o Tó e o Pedro conseguem criar, juntos. A Joana Rita, a jornalista, não chegou a estar presente no dia 22 de Setembro – esteve só a Joana Rita, pessoa humana. É esta última quem vos escreve.
Após nos termos deliciado com uma bifana no pão e uma imperial, no Trevo, ali mesmo no Camões, subimos até ao Largo do Carmo. Num pequeno quiosque rematámos com um café e um moscatel de Setúbal. Sabíamos que tinham esgotados os bilhetes e que havia algumas cadeiras – e sobretudo lugares em pé. Já no interior do Museu Arqueológico do Carmo e enquanto o Marco Almeida preparava o material para fotografar, fui passear pelo espaço. Entretanto, já o Marco estava à conversa com um casal de alemães. Ambos estavam boquiabertos com o cenário que encontraram: afinal, pensavam que iam assistir a um concerto numa sala de concertos convencional. Acabaram por nos contar um pouco da sua história: conheceram a banda há cerca de seis, sete anos, ao explorar a secção de música portuguesa de uma conhecida loja, na baixa de Lisboa. A paixão foi de tal forma imediata que compraram todos os trabalhos disponíveis na loja e também praticamente todo o merchandising online. Ainda que os Dead Combo já tenham tocado na Alemanha, não lhes tinha sido possível ir a um dos seus concertos. Assim, organizaram as suas férias para assistir a este concerto e o que encontraram superou, em muito, as suas expectativas.
Vê todas as fotos dos Dead Combo nas Ruínas do Carmo
O concerto começou pouco depois das 21h. O Pedro e o Tó entraram em palco e começaram a fazer magia. Os fatos impecavelmente vestidos, o contraste destes com o branco dos sapatos. O som das guitarras invadiu as ruínas do Carmo e o público rendeu-se, na primeira música. Qual foi? Pois. Boa pergunta. Uma das coisas fantásticas do trabalho dos Dead Combo é que os títulos dos temas são deliciosos, mas não é fácil dizer qual é qual. Revelo-vos a nota que tirei: “música muito parecida com um fado”. Eu sei: não ajuda.
Seguiu-se mais um tema e outro. Este eu sei dizer-vos qual é: chamo-lhe a música do amola tesouras. Já a banda insiste em chamar-lhe O Assobio. No final, Pedro pegou no microfone e deu as boas noites ao público presente. Convidou as Cordas da Má Fama – Carlos Tony Gomes (violoncelo), Bruno Silva (viola de arco), Denys Stetsenko (violino) – para se juntarem a eles e tocar Waits. Quando a alma não é pequena foi o tema dedicado à D. Emília. Povo que cais descalço, Zoe llorando, Welcome Simone, Ana Adamastor, Rumbero também fizeram parte do alinhamento desta noite. Com isto descobri que, afinal, até re-conheço alguns dos títulos das músicas dos Dead Combo. O Pedro também deu uma ajuda e foi partilhando essa informação no meio de muitos “Obrigado” durante a noite, sempre que falava com o público.
Vê todas as fotos dos Dead Combo nas Ruínas do Carmo
Os nossos amigos alemães estavam em delírio: pelo cenário e pela magia que é ver e ouvir os Dead Combo ao vivo. Pedro Gonçalves fez questão de dizer que o público é o grande responsável pelo crescimento da banda: “Quando há uns anos tocávamos em salas pequenas, para dez pessoas, não pensávamos que podíamos chegar aqui. Obrigado!“.
Houve tempo, ainda, para ouvir Fado a Pilhas, um tema novo que ainda não está gravado. A noite só podia terminar com o mel e o picante que o tema Lisboa Mulata transporta dentro de si.
Tenho a certeza que será difícil esquecer este concerto: o cenário é único e parecia ter sido criado propositadamente para esta noite. Por mim falo: ainda não parei de ouvir algumas das músicas que ecoaram pelas Ruínas do Carmo, na primeira noite de Outono de 2016. Aposto que os amigos alemães não páram de ver alguns dos momentos que gravaram com a sua máquina fotográfica.
Não foi belo: foi para lá de belo. Obrigada, Dead Combo.
Só uma nota, primeiro e lindíssimo tema : “Esse olhar que era só teu”…
Concerto fantástico, num cenário incrível.
Olá, Rita!
Depois de escrever o texto e de muito ouvir Dead Combo, lembrei-me do nome da música. Mas achei que era mais espontâneo ficar assim, no texto.
Muito obrigada! 🙂
What a nice review – mentioning me & Kathrin from Germany! Yes, what a wonderful show and the many kind people we’ve had the pleasure to met. Thanks for the photo pass and the pen. We hope to get back soon. Love and thanxxx to Portugal! Andreas
Andreas and Kathrin: thanks for being part of this magical night! Hope to see you soon! 🙂
What a nice review – mentioning Kathrin & me from Germany. What a wonderful show and all the kind people we’ve had the pleasure to met. Thanks for the photo pass and the pen. Wie hope to get back soon. Love and thanxxx to Portugal! Andreas