12 Jul 2018 a 14 Jul 2018

Corações ao alto – o último dia de NOS Alive’18

Corações ao alto - o último dia de NOS Alive’18

Os Pearl Jam roubaram todas as atenções (e corações) no último dia de certame, mas a emoção nunca abrandou com Jack White, Franz Ferdinand e muitos outros. O terceiro dia de festival no Passeio Marítimo de Algés foi assim.

Oito anos é muito tempo. Que o digam os fãs de Pearl Jam que encheram o recinto do NOS Alive’18 este sábado, que desde 2010 não tiveram nova oportunidade de ver a banda de Seattle no nosso país. Tamanho é o amor pelo público português ao grupo de Ten, que este dia de festival esgotou quatro dias depois do anúncio do regresso de Eddie Vedder e companhia a Algés. Tudo apontava, portanto, para um concerto merecedor de todas as atenções – tanto que a banda não quer mais qualquer outro concerto a decorrer enquanto está em palco, algo que iria causar ligeiros estragos mais tarde. Mas já lá vamos. Marcado para as 23h15, só quarto de hora depois é que a banda deu entrada ao som de Low Light. Seguiu-lhe Better Man e lá está o coro imenso a marcar presença, o sorriso no rosto da banda e aquele sentimento de que há aqui algo de muito especial. Sentimento esse que marcou todo o resto do concerto, que passou um pouco por toda a longa discografia, com visitas ao passado mais longínquo (Jeremy, Porch, Go, Corduroy), a temas já do novo milénio (Given To Fly, Unthought Known, Mind Your Manners), canções menos habituais (Rats, In My Tree, Down) e os clássicos de sempre (Do The Evolution, Even Flow, Black). O anfitrião lê mensagens em português bem arranhado, discursa em defesa e apoio das mulheres (a nova Can’t Deny Me foi o mote), dedica temas aos amigos portugueses – e a São Vicente também -, salta e corre por todo o palco, desce para cantar bem perto da público, dá gole atrás de gole na sua garrafa de tinto sem nunca perder o charme. Aos 53 anos de idade, Vedder é o último sobrevivente de uma geração de frontmans do grunge que não conseguiram ultrapassar os demónios que tantas vezes cantavam (Andy Wood, Kurt Cobain, Layne Stanely, Scott Weiland, Chris Chornell), e quando nos apercebemos disso mais impressionante é a sua contagiante vitalidade. Mais surpreendente, no entanto, foram as versões a que o próprio, Mike McCready (campeão dos solos de guitarra do NOS Alive’18), Stone Gossard, Jeff Ament, Matt Cameron e Boom Gaspar se atiraram, já no encore. Depois de um discurso contra a ganância, Imagine (de John Lennon) fez brotar pirilampos por toda a preenchidíssima plateia, enquanto Comfortably Numb (dos Pink Floyd) não deixou ninguém indiferente. Pausa nas canções dos outros para dar voz ao tema título de todo o festival e regresso para uma Rockin’ In The Free World (de Neil Young) com direito a brinde. Jack White, que havia tocado antes dos Pearl Jam no mesmo palco, juntou-se ao grupo para emprestar voz e guitarra ao clássico. E assim se dá por encerrado aquele que terá sido um dos, senão o grande concerto desta edição de NOS Alive.

Pearl Jam - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Pearl Jam - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Antes, Jack White havia preparado o terreno. O ex-White Stripes trouxe temas da sua carreira a solo mas muitos da velha dupla maravilha, bem como visitas ao restante cancioneiro a quem emprestou génio (I Cut Like a Buffalo, dos Dead Weather e Steady, As She Goes, dos Raconteurs). Pouco comunicativo nas palavras – lá vai perguntando aqui e ali se estamos bem, pede-nos a mão para We’re Going To Be Friends, e pouco mais – é na guitarra que está a voz de White, e ele vai desfilando a sua colecção de riffs e comprovando o estatuto de pequeno génio. Apoiado por uma muito competente banda (destaque para Daru Jones na bateria), o norte-americano pode não ter deixado a plateia em êxtase, até porque eram muitos os que já só esperavam pelos cabeças de cartaz, mas que ninguém o acuse de não ter dado um dos melhores concertos da noite. Concerto esse que fechou, claro está, com toda a gente a celebrar o hino que é Seven Nation Army. E por falar em hinos. Ainda era dia quando os Franz Ferdinand se estrearam no NOS Alive. Tudo bem que a desculpa da visita é o último Always Ascending mas o que o povo quer – e Alex Kapranos e companhia oferecem – são os hinos. Do You Want To, Dark Of The Matinée, No You Girls, Michael, Walk Away, Take Me Out, This Fire… são seus muitos dos êxitos do indie rock da primeira metade dos anos 00, e por cá ninguém os esquece. A passagem pelas mais recentes Glimpse Of Love, Lazy Boy ou o tema-título do disco não desapontaram, mas será sempre difícil que ponham o público ao rubro como as mais velhinhas. Os escoceses parecem sabê-lo e não ter problemas nenhuns em entregar à plateia nada senão festa. Ainda bem.

Jack White - Foto de João Silva (NOS Alive)

Jack White - Foto de João Silva (NOS Alive)

Pelo palco NOS passou ainda o rock and roll de língua afiada dos The Last Internationale, bem como uns Alice In Chains mal posicionados (é difícil sentir a escuridão de Would?, Man In a Box, Them Bones ou Dam That River enquanto não conseguimos fugir do sol abrasador). William DuVall faz tudo bem, e o público até quis colaborar, mas há coisas que simplesmente não se podem forçar. A fechar a noite já muito depois da hora marcada, os MGMT trouxeram a festa possível, numa actuação curta que não deixou de passar pelos êxitos Kids e Time To Pretend.

Alice in Chains - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Alice in Chains - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

A fúria dos At The Drive-In, o amor que é Mallu Magalhães e o sempre sedutor Perfume Genius

A oferta musical do palco principal no último dia de NOS Alive’18 era tão forte que facilmente eclipsava tudo que mais havia para ver e ouvir por todo o recinto. E havia muita, como sempre. Ainda durante a tarde, no Coreto, a pop de Primeira Dama foi infelizmente de (muito) curta duração, o hardcore pop dos Marmozets deixou piso quente no palco Sagres e os ritmos contagiantes de Bateu Matou deram baile no palco Clubbing.

Da Nova Jérsia, os Real Estate trouxeram o seu jangle pop ao palco Sagres, enquanto Alec Ounsworth e os seus Clap Your Hands Say Yeah apresentaram, mais tarde, os temas de The Tourist, antes de Mallu Magalhães encantar tudo e todos com o seu Sambinha Bom.

Mas foram os At The Drive-In que acabaram por dar que falar, por terem tocado apenas cinco (sempre destruidores) temas, devido ao prolongamento do concerto dos Pearl Jam. Para o fim ficou o sempre sensual Perfume Genius, perante uma tenda já muito despida.

Assim terminou a 12ª edição do NOS Alive, que regressa ao Passeio Marítimo de Algés no próximo ano nos dias 11, 12 e 13 de Julho. Numa parceria acordada com a Câmara Municipal de Oeiras, o festival tem presença garantida em Algés nos próximos cinco anos e promete melhorar as condições do local.

 

N.R.: Não nos foi possível fotografar os concertos de Alice in Chains, Jack White e Pear Jam

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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Mais sobre: Alice in Chains, At The Drive-In, Bateu Matou, Clap Your Hands Say Yeah, Franz Ferdinand, Jack White, Mallu Magalhães, Marmozets, MGMT, Pearl Jam, Perfume Genius, Primeira Dama, Real Estate, The Last Internationale


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