Com Silva fica sempre tudo bem

Com Silva fica sempre tudo bem

O cantor estreou-se em nome próprio no nosso país com dez concertos em seis dias. O primeiro em Lisboa, de uma saga de seis concertos em três dias, aconteceu esta quinta-feira no Capitólio e serviu de apresentação do seu último disco, Brasileiro.

Não é a primeira vez que pisa um palco em solo português, mas foi a primeira vez que o fez em nome próprio, fora de um festival. E, a contar pela imensa procura por bilhetes – que fez com que o cantor desse dois concertos por noite -, já o devia ter feito mais cedo. Hoje, sete anos depois do lançamento do disco de estreia, Silva apresenta Brasileiro, que é de certa forma uma homenagem à canção brasileira, cimentado na bossa nova e no samba, com base na voz e violão e mais afastado das aventuras algo electrónicas e viradas para a pop a que já nos tinha acostumado. Mesmo que com uma roupagem diferente, a voz de Silva destaca-se naturalmente, e o ambiente intimista criado em palco (com pequeno troços de tricô pendurados) transbordou facilmente para a plateia do Capitólio.

É fácil uma noite ser feliz com a simplicidade e doçura de Silva, que começou a noite com o tema título de Claridão, trabalho de estreia, lançado em 2012, e passou quase por todo o lado: Feliz e Ponto fez ponte com o disco que o cimentou na música brasileira, Beija Eu e Infinito Particular lembraram o disco de versões de Marisa Monte, que lançou em 2016, e Let Me Say e A Cor É Rosa celebraram Brasileiro. Ainda contou as histórias de tocar na banda de Gal Costa, do seu primeiro Carnaval (este ano), com Daniela Mercury ou do reveillón na companhia de Caetano Veloso. Pelo meio, passou por várias versões, como Um Girassol da Cor do Seu Cabelo, Flor do Cerrado ou Aquele Frevo Axé. E para o fim ficou, claro, Fica Tudo Bem, êxito maior de Brasileiro – cuja versão em disco conta com a participação de Anitta – e a despedida ao som do coro de Canta Canta, Minha Gente.

Se sentimos saudades das ambições mais promissoras de Vista Pro Mar e Júpiter? Claro. Mas o novo projecto de Silva celebra a canção brasileira sem deixar de inovar, numa altura em que memória e mudança fazem tanta falta ao seu país. E ainda leva as palavras de Milhões de Vozes onde quer que vá: Tanta implicância / Que só quer se amplificar / Tanta ignorância / Ansiando se mostrar. Pertinência não lhe falta.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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