Ana Bacalhau em Nome Próprio no Tivoli – a reportagem
A cantora apresentou disco a solo na sala da Avenida da Liberdade, em Lisboa, com a devida homenagem à música popular portuguesa.
Depois de 10 anos a dar a cara pelos Deolinda, Ana Bacalhau lançou em 2017 um disco a solo, dando voz a novas histórias – as suas. Com a ajuda de variados letristas e compositores e com uma banda mais alargada, Nome Próprio é uma das mais belas colecções de canções do ano que passou. E se, apesar das diferenças temáticas, musicalmente a diferenciação entre o trabalho a solo e o da banda que todos conhecemos ainda não seja fácil de fazer em disco, em palco, Ana Bacalhau cresce e navega por novos caminhos.
Está lá sempre a raiz popular, claro. Afinal, Fausto foi uma das principais influências para este trabalho, como explicou antes de se atirar a uma versão de Navegar, Navegar. Mas há aqui novas camadas: a fragilidade de Só Eu, em contraste com a poderosa performance vocal que evoca e o tropicalismo de Menina Rabina são bons exemplos disso. De resto, Ana Bacalhau sabe aplicar os dotes vocais a cada canção, mostrando-se mestre na interpretação e teatralidade que também já lhe reconhecíamos. Os nervos, que assumiu serem muitos ao início da noite, cedo se dissiparam para darem lugar a uma emoção e alegria genuínas.
A presença das teclas de Luís Figueiredo e do cavaquinho, bouzouki e bandolim de Luís Peixoto são pontos altos durante toda a noite, com o primeiro a ser essencial na versão despida de Estrela da Tarde e o segundo a mostrar serviço no corridinho do hip hop que é A Bacalhau. A banda – a quem Ana Bacalhau chama carinhosamente de “pataniscas” – fica completa com Alexandre Frazão nas percussões e bateria, Mário Delgado nas guitarras e Zé Pedro Leitão no baixo e contrabaixo. Para além do bater de pé de Passo a Tratar-me Por Tu e Leve Como Uma Pena, e dos momentos deliciosamente delicados de Maria Jorge e Para Fora, houve tempo para passar por todos os temas do disco (destaque também para a maravilhosa letra de Carlos Guerreiro em Debaixo da Mosca) e várias versões. Houve Fausto e Ary dos Santos, sim, mas também Variações (Estou Além), Trovante (Xácara das Bruxas Dançando) e Elba Ramalho (De Volta Pro Meu Aconchego) foram reinterpretados pela cantora.
Edição: Daniela Azevedo