A nocte magni dos Unknown Mortal Orchestra em Lisboa

A nocte magni dos Unknown Mortal Orchestra em Lisboa

Depois da passagem pelo NOS Primavera Sound deste ano, a banda neozelandesa trouxe esta terça-feira Sex & Food, o último disco, à Aula Magna. Apesar de curto, o concerto dos Unknown Mortal Orchestra vai ficar na memória.

Ruban Nielson ainda há pouco tinha entrado em palco, deixado os dedos deambular pelos trastes da sua já característica Jag-Stang e mergulhado em From The Sun quando saltou do palco da Aula Magna e começou a navegar pela plateia. Foi subindo e subindo (não sem parar para o já habitual shot junto da equipa na régie) até chegar lá a cima, à última fila de um anfiteatro pouco habituado a um indie rock com toques de jazz e psicadélico qb. Enquanto ouvíamos um impecável solo de guitarra, Ruban ia passeando pela plateia, cumprimentado o público aqui e ali e a conseguir essa proeza de, desde o início, quebrar o gelo que a sala impõe. Se à partida estávamos reticentes quando ao local escolhido para acolher este concerto, o desbravar de Nielson à guitarra sala fora desde logo nos tranquilizou: os Unknown Mortal Orchestra tocam bonito em qualquer lado, não vai ser a sala a impedir a festa. E assim foi. Por entre o virtuosismo de Ruban à guitarra, o groove maravilha de Kody Nielson (bateria) e Jake Portrait (baixo) e as teclas e pormenores nos sopros do pai de Ruban e Kody, a banda ofereceu um cuidado e coeso set de cerca de uma hora aos presentes.

Os novos temas de Sex & Food só apareceram já depois de Ffunny Ffriends e Swim and Sleep (Like a Shark) terem sido entregues sem pausas e Necessary Evil ter provocado o primeiro pequeno estrondo da noite. Ministry of Alienation abriu caminho para So Good At Being In Trouble, provavelmente o mais conhecido tema dos neozelandeses. A sala cheia ia reagindo com entusiasmo, apesar de preso às cadeiras, era fácil perceber que o público não se cansa de receber os Unknown Mortal Orchestra no nosso país (têm sido presença assídua nos cartazes dos festivais nacionais nos últimos anos). De volta ao último disco, ouviram-se Major League Champions e American Guilt, coladas uma na outra apesar de nada parecidas. É em American Guilt que percebemos a versatilidade dos rapazes de Auckland: da guitarra podem vir riffs bem pesados mas a voz delicada de Ruban assegura melodias cuidadas, enquanto o resto da banda faz crescer uma sonoridade bem distinta, que logo a seguir se transforma numa tranquila Not In Love We’re Just High. Sem guitarra, Ruban Nielson volta à plateia, onde se senta para cantar, salta por cadeias e distribui passou-bens. Não há como negar que por esta altura já não faz diferença se estamos na Aula Magna ou no Coliseu, no Lisboa Ao Vivo ou no Capitólio: a comunhão banda-público ultrapassou a barreira dos lugares sentados, e já ninguém se sente fora do lugar. Os primeiros acordes de Multi-Love, sozinhos, levantaram uma sala, que logo ecoou as primeiras palavras de um dos temas mais preciosos do grupo e se entregou em pleno à canção. Momento alto do concerto que se aproximava já do final, com a altamente dançável Hunnybee e o hino millennial que é Can’t Keep Checking My Phone a fechar, já no encore.

Dúvidas houvesse que entre os Unknown Mortal Orchestra e o público português o caso é sério, ficaram dissipadas nesta terça-feira, na Aula Magna (imagine-se!). Ficamos a aguardar os próximos capítulos desta história bonita.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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