A Altice Arena encheu-se para receber o primeiro dia do VOA Heavy Rock Fest
Da incerteza à redenção, esta foi uma noite de conquista para a comunidade metal e claro que houve mosh e crowdsurf.
Depois de uma alteração de local devido a condições de segurança, e depois da tempestade que se assolou sobre a organização, o VOA 2019 lá arrancou e, com o início das hostilidades em palco, o público parece ter esquecido tudo o que foi dito e escrito e focou-se no importante: a música.
É certo que a Altice Arena não é um estádio, mas também não deixa de ser certo que, face às circunstâncias, tenha sido a solução “à mão de semear”. Para a história fica um festival de metal a ser realizado na maior plateia indoor nacional.
E não é que resultou?
Falar de energia é, claro, falar de Rasgo. À banda lisboeta couberam as honras de abertura, isto depois da sua passagem pelo palco Loud! em 2017. É certo que a banda não apresenta nada de novo, mas também se percebe que os temas de Ecos da Selva Urbana continuam tão fortes agora como na altura em que foi lançado. A banda é uma força da natureza, seja pela muralha sonora de Ruka e Sarrufo ou pela energia que Paulo Gonçalves (como cresceste!) apresenta os temas. Puxa!
Para os While She Sleeps vai o prémio de desenrascanço do festival (não vamos voltar a falar da localização), isto porque é Scott Kennedy (Bleed From Within) a substituir Loz, que por motivos desconhecidos não pode acompanhar a banda. Apesar de despercebidos pelo vosso escriba no aspecto visual, o que fica musicalmente, é uma banda que absorveu todos os elementos do metalcore e coloca nos seus temas uma energia que desperta curiosidade.
A pisar, pela primeira vez, o palco do VOA, os lusos Thormenthor deram boa conta de si e, pelo público que se ia juntando nas primeiras filas, percebeu-se o motivo destes senhores serem uma lenda no nosso “underground”. Os temas de Abstract Divivity (1994) ganharam uma nova vida e trouxeram, para muitos, a memória daquilo que um dia foi o metal. Será que pode vir aí disco novo?
Contudo, o VOA 2019 teve o seu arranque (em definitivo) na actuação dos Trivium, eles que estavam de regresso ao VOA, depois da passagem de 2017. Foi com a banda de Matt Heafy que as hostes acordaram e despertaram. Já se sabia que a banda é alvo de culto por cá, contudo, percebe-se que o público da banda cresceu, em número e idade, por isso, não é de estranhar que temas Like Light to Flies ou Beyond Oblivion, sejam cantados em uníssono Mas, o momento alto da actuação dos norte-americanos é quando Matt se “atira” a uma versão de Coração Não Tem Idade (Toda a Noite), original de Toy (o gajo de Setúbal, não a banda indie rock britânica), e que leva a que o músico luso se junte à banda para Until the World Goes Cold, para um momento que ficará na memória por muitos e bons anos. Este foi o momento alto deste primeiro dia. A partir daí, o céu era o limite.
Antes, os Arch Enemy apresentaram-se ao público lisboeta numa forma incrível. Beneficiando, talvez, do melhor som do dia, os holandeses deram um “senhor” concerto. Solos irrepreensíveis, uma vocalista intrépida capaz de nos levar do céu ao inferno em cinco segundos e, claro, temas como The World is Ours (logo a abrir), War Eternal ou You Will Know My Name que nos fazem entender todos os motivos pelos quais este quinteto é considerado um dos melhores coletivos do death metal melódico. Depois há ainda Jeff Loomis, Sharlee D’Angelo, Alissa e, o maior deles todos, Michael Amott.
De regresso ao nosso país, depois de passagens pela Ilha do Ermal, Rock in Rio, entre outras, os Slipknot apresentaram em Lisboa as suas novas máscaras. Como sempre a banda não defraudou os milhares que se encontravam na sala lisboeta que esgotou com 19.500 pessoas presentes.
Corey Taylor é o mestre de cerimónias num concerto intenso e imprevisível. Logo no primeiro tema, People = Shit, a Altice Arena arranca para um mosh de dimensões dantescas, com paragens obrigatórias em Disasterpice, Before I Forget It, Heretic Anthem ou Sulfur. Do novo disco, We Are Not your Kind, foram retirados os temas All Out Life e Unsainted e ficou provado que os Slipknot são uma máquina de devastação em alta rotação. Para o fim, e já em regime encore, há a recordação para Spit It Out, com a promessa de que a banda vai regressar a Lisboa. Um grande concerto a encerrar a primeira noite do evento.
Eram muitos os receios sobre o que poderia ser o VOA 2019, no entanto, neste primeiro dia as dúvidas dissiparam-se e o que foi mostrado na sala lisboeta é que existe um público para o metal e quem sabe se esta mudança de planos, ainda que à última hora, não venha a ser um ponto de viragem no festival e, igualmente, na forma como o metal ainda é olhado nos dias de hoje. O teste foi superado. Ficam os parabéns à Prime Artists por, em menos de nada, ter acreditado que era possível fazer o melhor festival. Fica a sua resiliência e os parabéns pelo risco assumido.
Afinal, isto é só metal!